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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

"O SOCORRO CHEGOU PELO AR" - SC


Santa Catarina
O socorro chegou pelo ar
Equipe da Base Aérea de Santa Maria ajuda no resgate das vítimas da enchente
MARILICE DARONCO

Militares garantem que jamais vão esquecer as cenas de desespero que viram no Estado vizinho

Ambulâncias correndo de um lado para o outro, botes transportando pessoas, cidades alagadas, muitos mortos. Esse cenário que seis militares do Esquadrão Pantera, da Base Aérea de Santa Maria, até então só tinham visto no cinema, é a lembrança que agora eles guardam dos sete dias em que fizeram o resgate das vítimas da enchente em Santa Catarina. A volta para Santa Maria, no último sábado, não apagou da memória o que os homens que estavam no primeiro helicóptero que chegou a Navegantes viram: uma cidade destruída.

Os representantes do 5º Esquadrão do 8º Grupo de Aviação saíram de Santa Maria de helicóptero no dia 24, uma segunda-feira, pouco antes das 7h. Eles nem imaginavam que só veriam o sol novamente no sábado, pouco antes de retornar para casa.

- Pegamos uma tempestade no caminho. Quando chegamos a Itajaí e depois a Navegantes, ainda chovia muito. Estava tudo alagado. A gente só via os telhados e o caos total de fora da água. Foi algo que eu nunca imaginei ver no Brasil - conta o piloto Kleison Roni Reolon, 26 anos.

Poucos minutos depois de chegarem a Navegantes, o grupo santa-mariense partiu para o primeiro resgate - foi só o tempo de reabastecer o helicóptero. O trabalho foi difícil: cerca de 300 pessoas estavam presas em uma igreja, e era preciso descobrir se havia vítimas. No caminho, os militares viram um cenário de tristeza:famílias começavam a enterrar seus mortos, casas estavam destruídas, estradas interrompidas e havia deslizamentos. Tragédia por todos os lados.

Morro do Baú - Foi na terça-feira que o helicóptero da Base Aérea de Santa Maria partiu para o Morro do Baú, onde havia ocorrido um desmoronamento no domingo.

- O morro era o próprio inferno. Todo mundo tinha perdido alguém querido. A gente mal dava conta de ajudar a todos. Foi preciso pedir mais um helicóptero - diz o militar Fábio Antunes Pereira, 37 anos.

O piloto Kleison não esquece um dos resgates realizados:

- Uma senhora estava em uma cadeira de rodas porque não tinha uma perna. Com ela, estava um filho, e acho que a mulher era a nora. De dentro do helicóptero, ela olhava para fora e via tudo destruído. A casa onde morava estava debaixo d água. Ela caiu no desespero. Sabíamos que aquelas pessoas tinham perdido tudo o que tinham. Eu era o piloto. Olhava para trás e via aquela cena tentando não entrar em desespero.

Além de transportar as vítimas para lugares seguros, os militares de Santa Maria também levaram água e alimentos para os lugares onde não era possível chegar de bote ou carro.

No sábado, os seis militares de Santa Maria voltaram e, no lugar deles, assumiram outros seis integrantes do esquadrão. Segundo eles, apesar do drama dos catarinenses ainda ser grande quando eles deixaram o Estado, a decolagem foi bem mais alentadora do que o pouso da chegada: as redes de apoio às vítimas estavam montadas, e a água que tomava conta das casas começava a baixar.

( marilice.daronco@diariosm.com.br )
Mais
Deslizamento
Cerca de 40 pessoas tiveram de sair de suas casas no Morro da Costa de Cima, em Pântano do Sul, em Florianópolis, ontem. Geólogos que monitoram a situação do local, que apresenta rachaduras, apontaram risco de deslizamento
Drama que ficou marcado
"Infelizmente, não dava para ajudar a todos ao mesmo tempo. Definir as prioridades e ainda manter a segurança da equipe foi muito difícil. Precisávamos resgatar pessoas, levar alimentos e água sem esquecermos que estávamos ali para ajudar e não para nos transformarmos em vítimas. Além disso, no Morro do Baú, foi muito difícil fazer o resgate. Havia muita gente ilhada, muitas histórias tristes, poucas famílias inteiras."
Capitão Eduardo Celles, 32 anos, piloto
"Já havia participado de uma missão de ajuda humanitária na Bolívia e de um combate a incêndio no Taim. Mas nunca havia prestado apoio de emergência. Quando chegamos a Santa Catarina, era o auge do caos. Ao fazermos a primeira decolagem, já ficamos apavorados. Navegantes estava debaixo d água. O cenário era de desolação."
Tenente Gabriel Batista, 26 anos, piloto
"Achei que seria uma missão tranqüila, que não duraria muito, que no dia seguinte voltaria para casa. Quando chegamos a Itajaí, tudo o que víamos eram os telhados, que foi só o que ficou acima do nível da água. Fiquei impressionado, foi como ver um tsunami acontecer no Brasil."
Tenente Kleison Roni Reolon, 26 anos, piloto
"No Morro do Baú (em Ilhota), as pessoas faziam de tudo para que pudéssemos vê-las: escreviam S.O.S no chão, acenavam com panos brancos, corriam. Era o próprio inferno. Chegamos a pedir um helicóptero maior para poder transportar todos os que estavam ilhados. Como não dava para resgatar todos no mesmo dia e alguns teriam de ficar para o dia seguinte, tivemos de dar prioridade para as mulheres, as crianças e os doentes."
Sargento Fábio Antunes Pereira, 37 anos, mecânico
"Tenho uma filha que vai fazer 7 anos. Ver mães tendo de abandonar suas casas sabendo que os filhos estavam nos escombros foi algo que mexeu muito comigo. Além de lidarmos com o sofrimento das pessoas, ainda precisávamos fazer tudo muito rápido porque havia o risco de haver mais desmoronamentos. Saber que tanta gente estava deixando pessoas queridas para trás nos dava uma sensação de impotência."
Sargento Figueiredo Zambarda, 43 anos, equipe de resgate
"Eu estava passando pelo telhado de um salão paroquial para fazer um salvamento, quando ele afundou. Foi graças a habilidade de um de meus colegas, que estava operando o guincho no qual eu estava preso, que eu não fiquei ferido. Além do susto, quando entramos no salão, havia quase 300 pessoas gritando, apavoradas, querendo comida, querendo remédio, tendo só a gente como esperança."
Sargento Paulo Gladimir Zuze, 37 anos, equipe de resgate
Militares garantem que jamais vão esquecer as cenas de desespero que viram no Estado vizinho

Ambulâncias correndo de um lado para o outro, botes transportando pessoas, cidades alagadas, muitos mortos. Esse cenário que seis militares do Esquadrão Pantera, da Base Aérea de Santa Maria, até então só tinham visto no cinema, é a lembrança que agora eles guardam dos sete dias em que fizeram o resgate das vítimas da enchente em Santa Catarina. A volta para Santa Maria, no último sábado, não apagou da memória o que os homens que estavam no primeiro helicóptero que chegou a Navegantes viram: uma cidade destruída.

Os representantes do 5º Esquadrão do 8º Grupo de Aviação saíram de Santa Maria de helicóptero no dia 24, uma segunda-feira, pouco antes das 7h. Eles nem imaginavam que só veriam o sol novamente no sábado, pouco antes de retornar para casa.

- Pegamos uma tempestade no caminho. Quando chegamos a Itajaí e depois a Navegantes, ainda chovia muito. Estava tudo alagado. A gente só via os telhados e o caos total de fora da água. Foi algo que eu nunca imaginei ver no Brasil - conta o piloto Kleison Roni Reolon, 26 anos.

Poucos minutos depois de chegarem a Navegantes, o grupo santa-mariense partiu para o primeiro resgate - foi só o tempo de reabastecer o helicóptero. O trabalho foi difícil: cerca de 300 pessoas estavam presas em uma igreja, e era preciso descobrir se havia vítimas. No caminho, os militares viram um cenário de tristeza:famílias começavam a enterrar seus mortos, casas estavam destruídas, estradas interrompidas e havia deslizamentos. Tragédia por todos os lados.

Morro do Baú - Foi na terça-feira que o helicóptero da Base Aérea de Santa Maria partiu para o Morro do Baú, onde havia ocorrido um desmoronamento no domingo.

- O morro era o próprio inferno. Todo mundo tinha perdido alguém querido. A gente mal dava conta de ajudar a todos. Foi preciso pedir mais um helicóptero - diz o militar Fábio Antunes Pereira, 37 anos.

O piloto Kleison não esquece um dos resgates realizados:

- Uma senhora estava em uma cadeira de rodas porque não tinha uma perna. Com ela, estava um filho, e acho que a mulher era a nora. De dentro do helicóptero, ela olhava para fora e via tudo destruído. A casa onde morava estava debaixo d água. Ela caiu no desespero. Sabíamos que aquelas pessoas tinham perdido tudo o que tinham. Eu era o piloto. Olhava para trás e via aquela cena tentando não entrar em desespero.

Além de transportar as vítimas para lugares seguros, os militares de Santa Maria também levaram água e alimentos para os lugares onde não era possível chegar de bote ou carro.

No sábado, os seis militares de Santa Maria voltaram e, no lugar deles, assumiram outros seis integrantes do esquadrão. Segundo eles, apesar do drama dos catarinenses ainda ser grande quando eles deixaram o Estado, a decolagem foi bem mais alentadora do que o pouso da chegada: as redes de apoio às vítimas estavam montadas, e a água que tomava conta das casas começava a baixar.

( marilice.daronco@diariosm.com.br )
Mais
Deslizamento
Cerca de 40 pessoas tiveram de sair de suas casas no Morro da Costa de Cima, em Pântano do Sul, em Florianópolis, ontem. Geólogos que monitoram a situação do local, que apresenta rachaduras, apontaram risco de deslizamento
Drama que ficou marcado
"Infelizmente, não dava para ajudar a todos ao mesmo tempo. Definir as prioridades e ainda manter a segurança da equipe foi muito difícil. Precisávamos resgatar pessoas, levar alimentos e água sem esquecermos que estávamos ali para ajudar e não para nos transformarmos em vítimas. Além disso, no Morro do Baú, foi muito difícil fazer o resgate. Havia muita gente ilhada, muitas histórias tristes, poucas famílias inteiras."
Capitão Eduardo Celles, 32 anos, piloto
"Já havia participado de uma missão de ajuda humanitária na Bolívia e de um combate a incêndio no Taim. Mas nunca havia prestado apoio de emergência. Quando chegamos a Santa Catarina, era o auge do caos. Ao fazermos a primeira decolagem, já ficamos apavorados. Navegantes estava debaixo d água. O cenário era de desolação."
Tenente Gabriel Batista, 26 anos, piloto
"Achei que seria uma missão tranqüila, que não duraria muito, que no dia seguinte voltaria para casa. Quando chegamos a Itajaí, tudo o que víamos eram os telhados, que foi só o que ficou acima do nível da água. Fiquei impressionado, foi como ver um tsunami acontecer no Brasil."
Tenente Kleison Roni Reolon, 26 anos, piloto
"No Morro do Baú (em Ilhota), as pessoas faziam de tudo para que pudéssemos vê-las: escreviam S.O.S no chão, acenavam com panos brancos, corriam. Era o próprio inferno. Chegamos a pedir um helicóptero maior para poder transportar todos os que estavam ilhados. Como não dava para resgatar todos no mesmo dia e alguns teriam de ficar para o dia seguinte, tivemos de dar prioridade para as mulheres, as crianças e os doentes."
Sargento Fábio Antunes Pereira, 37 anos, mecânico
"Tenho uma filha que vai fazer 7 anos. Ver mães tendo de abandonar suas casas sabendo que os filhos estavam nos escombros foi algo que mexeu muito comigo. Além de lidarmos com o sofrimento das pessoas, ainda precisávamos fazer tudo muito rápido porque havia o risco de haver mais desmoronamentos. Saber que tanta gente estava deixando pessoas queridas para trás nos dava uma sensação de impotência."
Sargento Figueiredo Zambarda, 43 anos, equipe de resgate
"Eu estava passando pelo telhado de um salão paroquial para fazer um salvamento, quando ele afundou. Foi graças a habilidade de um de meus colegas, que estava operando o guincho no qual eu estava preso, que eu não fiquei ferido. Além do susto, quando entramos no salão, havia quase 300 pessoas gritando, apavoradas, querendo comida, querendo remédio, tendo só a gente como esperança."
Sargento Paulo Gladimir Zuze, 37 anos, equipe de resgate
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FONTE : DIÁRIO DE SANTA MARIA, edição de 4/12/2008, reportagem de MARILICE DARONCO

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