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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

"SC : COMBINAÇÃO DE EFEITOS GLOBAIS E LOCAIS ?"


O País acompanha o sofrimento da população de Santa Catarina que enfrenta as conseqüências das enchentes que assolam os moradores da região do vale do rio Itajaí. O noticiário é farto de fatos relacionados aos episódios: o nível de precipitação pluviométrica muito acima da média histórica, os deslizamentos de encostas, o extravasamento dos caudais do seu leito natural, a destruição de estradas, o soterramento e a inundação de cidades e fazendas.
Os brasileiros estão acostumados, nesta época do ano, a ouvir notícias como as acima citadas, afetando populações rurais e, principalmente, urbanas. Quase todas as metrópoles brasileiras enfrentam problemas semelhantes devido ao processo desordenado de uso e ocupação do solo, até mesmo em cidades planejadas. Os goianienses podem-se lembrar de notícias como: "motoqueiro afetado por tromba d'água desaparece pela boca de lobo e reaparece morto no rio Meia Ponte dois dias depois"; "erosão destrói Alameda das Rosas"; "enchente no córrego Botafogo derruba barraco e arrasta criança de nove anos que dormia no seu quarto".
O fenômeno possui freqüência anual associada ao período chuvoso e, por isso, transmite a impressão de que se trata de ocorrência natural. Daí o batismo equivocado de desastre natural que este tipo de fenômeno recebe na mídia. Sem dúvida que há um componente natural a ser estudado. Mesmo considerando este componente natural, suas conseqüências mais graves poderiam ser evitadas com as modernas técnicas de previsão meteorológica.
A diferença dos eventos ocorridos neste ano se deve à intensidade do fenômeno climático, com gravidade superior aos eventos anteriores. E essa intensificação dos efeitos do clima sobre a vida, em especial a humana, não ocorre apenas no nosso País e, particularmente, em Santa Catarina. Não é segredo para ninguém bem informado que o nosso planeta enfrenta o efeito estufa, decorrente de duas causas principais: o lançamento de poluentes em níveis crescentes após o advento da revolução industrial, e a degradação da natureza, com o desmatamento e a poluição dos mares afetando os ciclos biogeoquímicos da água e do carbono.
Os efeitos globais atuam em sinergia negativa com os efeitos locais, decorrentes da interferência do homem sobre componentes da natureza que participam dos ciclos da água e do carbono. E estes efeitos encontraram, em Santa Catarina, a combinação que resultou na intensificação de fenômenos globais, atuantes em anos anteriores, só que, agora, magnificados pelo efeito estufa e pelo abuso no uso do solo, com a ocupação das áreas de preservação permanente às margens dos mananciais e das encostas. Intensificou-se o desmatamento dos últimos resquícios de Mata Atlântica: Santa Catarina é campeã no ranking da destruição do bioma mais destruído do País.
A lição que se deve extrair destes fenômenos é que eles não são apenas naturais. O ser humano deve olhar para si mesmo e questionar as práticas baseadas nas ações irracionais de destruição dos morros e agressão aos mananciais hídricos, com a construção de rodovias, avenidas marginais, prédios de apartamentos, condomínios de luxo ou populares, e shoppings comerciais. Estas ações causam desastres irreparáveis, inclusive de vidas humanas. E devemos refletir sobre a necessidade urgente de abandono às concepções retrógradas ligadas à produção e ao consumo, adotando a sustentabilidade socioambiental nas ações públicas e privadas, em todos os níveis, do local ao global.
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AUTOR : Osmar Pires Martins Júnior - Presidente da Academia Goianiense de Letras, biólogo, engenheiro agrônomo, mestre em Ecologia, doutorando em Ciências Ambientais, professor de cursos de graduação e pós-graduação em IES
(Artigo encaminhando pela amiga blogueira Iracema Dantas de Araujo, residente em Goiania)

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