Powered By Blogger

quinta-feira, 19 de março de 2009

GUAÍBA : RIO OU LAGO ? (3)


FOTO : A lei federal 7.803 define área de proteção ambiental de 500m de largura
ao longo das margens de um rio, como o Guaíba, com mais de 600m de largura
*****************************************************************
Guaíba, Rio e não Lago (II)
Cmte Knippling caça os panos!
Cmte. Geraldo Knippling*

O artigo de autoria do Cmte Geraldo Knippling "Guaíba, Rio e não Lago", publicado no popa.com.br em Dez/2003, recebeu comentários. Dentre eles, o do navegador Evandro Colares, em Mar/2004, citando publicação.

O Comandante Knippling mais uma vez demonstra seu vasto conhecimento sobre o assunto, contra-argumentando com muita propriedade a publicação citada pelo navegador visitante do site.

Evandro Colares escreveu:
Primeiramente gostaria de dizer que sou um admirador dos livros publicados pelo Comandante Knippling, porém não concordo inteiramente com a sua posição. Acredito que o assunto vai além da semântica, dos costumes culturais e das opiniões de burocratas. Para contribuir com a discussão sugiro que os interessados façam uma leitura esclarecedora no Atlas Ambiental de Porto Alegre, capítulo 3, página 37. Em termos ambientais é muito importante reconhecer o funcionamento do Guaíba como lago, uma vez que isso tem significativas implicações em seu conhecimento e estudo. Seja denominado lago ou rio, o que eu sei mesmo é que amo esse maravilhoso Guaíba. Saudações a todos!
Evandro R. C. Colares

Segue a matéria citada pelo Evandro:


ATLAS AMBIENTAL DE PORTO ALEGRE - Rualdo Menegat (coordenador geral). Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS. Capítulo 3: página 37. 1998.

Comentando o texto acima, Mestre Knippling contra-argumentou:


Com referência ao título em epígrafe, após receber cópia da página 37 do Atlas Ambiental de Porto Alegre, gentilmente enviada pelo Sr. Evandro Colares, tomo a liberdade de fazer mais alguns comentários sobre esse polêmico assunto. Fora de dúvida, o referido Guia é um trabalho sério e bem intencionado. Toda essa atual polêmica certamente gira em torno de argumentos objetivos e subjetivos. A meu ver, a afirmação do ilustre Saint-Hilaire, há dois séculos atrás, de que se tratava de um lago, não pode ser considerada, pois naquela época não haviam condições técnicas nem tempo para tal constatação. O que ele achou, todos nós também achamos: o Guaíba se parece com um lago. O Atlas Ambiental é falho quando diz que seis rios afluem ao delta; na realidade são quatro: Jacuí, Caí, dos Sinos e Gravataí.

No item 1): A formação do delta, como descrito, é muito natural devido à passagem de um grande volume de água, a configuração do solo e o material arenoso ou argiloso trazido pelos 4 afluentes. Isto certamente não configura um lago, já que todo este líquido não fica estagnado.

No item 2): Diz que 85% da água do Guaíba fica retida. Como é que isto foi medido? O Guaíba tem as duas extremidades livres, portanto as águas não podem ficar retidas a não ser que construíssemos uma barreira em Itapuã. Podem sim, escoar vagarosamente e até muito lentamente nos períodos de estiagem. Um toco que jogamos no Jacuí vai parar forçosamente na Lagoa dos Patos (a não ser que um vento forte o encalhe na margem). Já foi comprovado por fotos aéreas que efluentes poluidores (da fábrica de celulose) vão parar na Lagoa dos Patos, mesmo que diluídos ao longo do trajeto. Note também que, infelizmente, a maior parte do esgoto de Porto Alegre é jogada in natura no rio, de forma planejada, na altura da "Chaminé", levando em consideração a correnteza rio abaixo. Se assim não fosse ou se as águas ficassem retidas como diz no Atlas, o DMAE que capta a água para a população um pouco mais rio acima, nos Navegantes, estaria captando esgoto!

No item 3): O escoamento com velocidades diferenciadas poderia ser típico de um lago; só que um lago normalmente não escoa. Segundo o nosso conceituado dicionário Aurélio: Lago, é extensão de água cercada de terras. Num rio de grande largura como o Guaíba isto é muito comum, pois é evidente que o fluxo no meio do curso e nos canais é muito mais veloz que nas margens, onde até pode haver correntes transversas e redemoinhos, causados justamente pela diferença de velocidade e pela configuração da margem. No Rio Amazonas isto também existe e é considerado lógico e normal.

No item 4): Diz que os depósitos sedimentares das margens possuem estrutura de sistema lacustre. Mais uma vez, é uma afirmação muito subjetiva. Como, quando e onde foram medidos estes depósitos? Sedimentação pode haver em rios e em lagos. Qual é a regra que estabelece os limites entre depósitos de rio e de lago?

No item 5): Os cordões arenosos não são características únicas de um sistema lacustre, também os há nos rios, como no próprio Rio Jacuí ou então, um exemplo muito mais marcante que é o Rio Camaquã. Matas de restinga também há em rios; são abundantes no Rio Jacuí, que não é lago. Note também que grande parte da margem do Guaíba é pedregosa em vez de arenosa.

Pelo exposto, as características enumeradas no Atlas Ambiental podem ser qualidades de um lago, que muitas vezes encontramos num rio. Por outro lado, reforçando uma argumentação mais objetiva, as características de rio que encontramos no Guaíba não encontramos em lagos e são muito básicas, sobrepondo-se aos argumentos do Atlas, que são detalhes subjetivos.

Não podemos ater-nos a detalhes dessa natureza, relegando conceitos básicos, universalmente aceitos. Nos compêndios de geografia, mundialmente propagados, está claramente definido o que é rio e o que é lago. Mais uma vez, nosso conceituado dicionário Aurélio diz o seguinte: Rio é um curso de água que se desloca de um nível mais elevado para um nível mais baixo, aumentando progressivamente de volume, até desaguar no mar, num lago ou noutro rio. O Rio Guaíba é tudo isto. Seu nível na altura de Porto Alegre é mais alto que em Itapuã onde deságua na Lagoa dos Patos. Mesmo sendo o desnível pequeno, devido à pouca extensão, não deixa de enquadrá-lo nas regras válidas para um rio. Este fato lhe dá uma correnteza rápida nas épocas de enchente e lenta durante a estiagem, mas sempre constante. Jamais poderíamos jogar um toco na Lagoa dos Patos e esperar que ele fosse parar no Jacuí. Poderá haver corrente reversa momentânea, provocada por fortes ventos; mas não é regra. Não existe regra que possa modificar o inabalável fato de que as águas dos rios que deságuam no Guaíba, por ele fluem e por sua vez deságuam na Lagoa dos Patos, característica que lhe dá o nome de rio.

Chega-se à conclusão que os detalhes enumerados no Atlas Ambiental não tem consistência para modificar o básico. Sem qualquer demérito para o ponto de vista do Sr. Evandro Colares, amigo, navegador e explorador que considero e respeito, quer me parecer que colocando tudo na balança, esta certamente penderá para Rio Guaíba.

Geraldo Knippling





--------------------------------------------------------------------------------

(*) Quem é Geraldo Knippling?
Comandante Geraldo Knippling. Capitão Am. Escritor. Cartógrafo reconhecido, com belíssimas obras publicadas. Ex-comandante da Varig condecorado com a Ordem do Mérito da Aeronáutica.

Velejador.

Um veterano do Rio Guaíba com méritos reconhecidos por todos os navegadores gaúchos. Um mestre da navegação.

Knippling é uma autoridade sobre o Guaíba. Fez cartas detalhadas do rio, plotando waypoints e determinando rotas de acesso para os mais recônditos recantos do Guaíba. Fotografou o rio como ninguém. Suas obras cartográficas e literárias, de conteúdo sem igual, são uma referência para todos os navegadores do Guaíba.

O mestre Knippling faz um apelo. O popa.com.br o apóia. Os navegadores do Guaíba também: este tema volta e meia surge nas varandas dos clubes náuticos de Porto Alegre e jamais se ouviu alguém a favor da designação modernosa do rio.


___________

Kleber Borges de Assis, premiado bacharel em Geografia, discorreu bastante sobre a designação do Guaíba em 1958. Em sua obra lamenta a qualidade da geografia investigativa no estado e diz que uma comissão de estudos declarou que "seja usado, até melhor juízo, simplesmente a designação de Guaíba, sem prefixo de especificação...".
Em Desconhecimento da Geografia, lê-se que "a denominação correta da Lagoa dos Patos é laguna Lagoa dos Patos". Isso mesmo: laguna Lagoa dos Patos!... Agora só falta o lago Rio Guaíba. Leia mais em Elucubrações Geográficas.

Danilo Chagas Ribeiro
**********************************************************************************
GUAÍBA, RIO E NÃO LAGO



Com referência aos mais recentes comentários recebidos sobre o tema acima, tomo a liberdade de acrescentar mais o seguinte:



Chega a ser cômico que tenha sido necessário fazer um imenso estudo, com técnicos da UFRGS e apoio de cientistas de universidades norte-americanas, para redefinir o que está aí, na nossa frente, claramente definido dentro de conceitos básicos que encontramos em todos os compêndios de geografia e dicionários, agora taxados de asneiras. Mas que coisa mais difícil esta, que só pode ser resolvida por gênios internacionais! Nesta linha de pensamento, fazendo justiça aos cientistas, de fato, tudo pode ser redefinido, inclusive a lei da relatividade de Einstein. Podem ser mudados conceitos e regras, causando apenas confusão, mas não podem mudar fatos relevantes com teorias isoladas e subjetivas.



É impressionante o número de teorias apresentadas pelos defensores da denominação Lago. Apegam-se a detalhes que até poderiam ser significativos se não houvesse em contraposição circunstâncias mais sólidas e concretas. Segundo a missiva do Sr. Gilberto Simon, poderíamos ser repreendidos por este nosso “pecado” de chamar o Guaíba de rio.



A verdade é que a maioria desses estudos tratam de detalhes muitas vezes contraditórios entre si e revelam apenas os resultados e não a forma como chegaram aos mesmos. Por exemplo: no Atlas Ambiental de Porto Alegre, página 37, mencionado pelo Sr. Simon, consta: os depósitos sedimentares das margens possuem geometria e estrutura características de sistema lacustre, mas não diz como, quando e onde isto foi medido, muito menos quais as regras. O referido Atlas já começa nos ensinando mal, quando diz que 6 rios afluem ao Guaíba, quando na realidade são apenas 4. Certamente um engano, mas também poderia ser uma convicção que poria em dúvida também as outras conclusões.



Não querendo estender este meu comentário, deixo aos caros leitores a liberdade de ler e concluir sobre tudo que foi argumentado, nos trabalhos anexos.



Gilberto Simon (09-MAI-04)
Em primeiro lugar acho que esta discussão não tem sentido. Uns querem que continue o nome "Rio Guaíba", outros que seja adotado o nome "Lago Guaíba". Uns não tem conhecimento técnico algum para emitir sua opinião, mas em nome de sentimentalismos, vem a público para dizer asneiras. Não foi por burocracia ou coisa parecida, que se fez um imenso estudo, com técnicos da UFRGS e com apoio de cientistas de universidades norte-americanas. Este estudo, realizado há cerca de duas décadas, esclarece minuciosamente o que antes já era esperado: o Guaíba é um lago. Queiram ou não quase todos os que escreveram aqui neste site, realmente o Guaíba é um lago. Mais do que esclarecer, o Atlas Ambiental de Porto Alegre (em seu Capítulo 3, página 37) nos ensina isto. Por que discutir? Deixemos para discutir se o Inter é superior ao Grêmio ou vice&versa. Se continuarmos assim, vamos começar a discutir com os médicos, com os dentistas, o que fazer com as nossas doenças. Mas, cabe a qualquer um de nós, como tudo, acreditar no que queremos. Se vocês querem acreditar que o Guaíba é um Rio, fiquem a vontade. Ninguém vai repreendê-los por isso. Mas não queiram passar para as gerações futuras que isto é verdade. Sejam honestos consigo mesmos. E por mais que discordem disto, o Guaíba é um lago. Lindo como só ele. Com o mais belo pôr-do-Sol do mundo. Um lago. Por quê não ?
Gilberto Simon
Funcionário municipal
********************************
FONTE : popa.com.br

Um comentário:

Henrique Wittler disse...

O Senhor Geraldo Knippling tem razão em suas argumentações.
Quando elaborei o vídeo "A GRNDE FARSA" me referi ao Atlas Ambiental como utilizado por Políticos e por aqueles que queriam construir na orla sem desmerecer o belo trabalho técnico efetuado pelos professores da UFRGS em convênio com a Prefeitura.
Como mais um trabalho técnico colabora o Atlas para a discussão sse Lago ou Rio e é salutar.
O crime foi de quem mandou a SMAM adotar oficialmente o Atlas ao liberar obras inclusive contrariando a Lei Orgânica do Município que reza sete ou oito vezes o termo Rio Guaíba.
Nesta mudança que ninguem assume é que esta a discussão, pois todos os órgãos oficialmente chamavam o Guaíba de Rio até meados de 1998, quando mudou face a criação do Comite de Gerenciamento do Lago Guaíba, sendo que os mesmos políticos da época são os em evidência nos dias de hoje. Os Procuradores do Estado em cargos de chefia são os mesmos da época e por ai em diante.