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sábado, 21 de março de 2009

Com a queda nos preços de recicláveis, catadores abandonam a atividade


A redução nos preços dos materiais recicláveis causou grandes impactos nos rendimentos dos catadores, e muitos deles estão abandonando a atividade. É o caso da Coopercicla, cooperativa localizada no bairro de Santo Amaro, zona sul de São Paulo (SP). Segundo presidente da entidade, Joacyr Alvez, nos últimos quatro meses 70% dos cooperados deixaram a atividade. “Tínhamos 75 pessoas trabalhando em três turnos de 8 horas, 24 horas sem parar. Agora só temos um turno que está defasado”, relatou.

A queda de rendimento está relacionada à crise internacional que provocou uma queda forte nas cotações de commodities (alumínio, plástico, papel) que são importantes matérias-primas de produtos. O plástico PET, usado em garrafas descartáveis, teve redução de 20% nos preços, segundo o responsável pelas Relações com o Mercado da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), Hermes Contesini.

“O PET reciclado tem inúmeras aplicações, como roupas e tapetes de automóveis”, explicou Contesini. “O mercado todo se ressentiu com a crise.”

Alvez, da Coopercicla, atribuiu o desinteresse dos cooperados com a atividade à diminuição “brutal”, de mais de 70%, nos rendimentos. O lucro de um catador caiu de R$ 900,00 para R$ 250,00 por mês. As contas de água, luz e o aluguel da sede da cooperativa permaneceram as mesmas, enquanto alguns itens coletados pela Coopercicla, como o papel jornal, valem 85% menos.

A Cooperativa Viva Bem, localizada na zona oeste da capital paulista, também teve um índice de evasão de cooperados significativo, de aproximadamente 30%, segundo a presidente Teresa Montenegro. Ele disse que as pessoas estão mudando de atividade ou mesmo voltando à criminalidade por falta de opções.

"Muitos arrumaram outras coisas para fazer, outros não estão fazendo nada e alguns estão fazendo o que não deve”, contou. Montenegro explicou que a estratégia da cooperativa é aumentar a produção para recuperar parte da receita. Com os novos preços pagos pelo mercado de recicláveis, as mesmas 160 toneladas de material que rendiam por volta de R$ 75 mil agora garantem apenas R$ 40 mil para os cofres da cooperativa.

Produzir mais é também o modelo adotado pela Coopere, com sede no centro de São Paulo. O coordenador Sérgio Luís Longo lamentou que os cooperados agora trabalhem 16 horas por dia para conseguir lucro 50% menores dos recebidos na época em que atuavam em turnos de 12 horas. Segundo ele, os membros da cooperativa só não abandonaram a atividade por falta de opção. “Se todo mundo tivesse o que fazer, tinha acabado a reciclagem”, afirmou.

Segundo Sérgio Luís, os cooperados estão buscando outras atividades para lidar com a crise. “Porque se a gente for viver só do lixo, vamos acabar falindo”, queixou-se. Ele alegou que as empresas compradoras de material reciclável “se aproveitam da situação[da crise financeira mundial]” para pagar preços muito baixos pela sucata.

O secretário da Cooperativa de Catadores da Baixada do Glicério, Sérgio Bispo, acredita que a cadeia de produção da reciclagem “é injusta com o catador”. Ele acusou as empresas de obterem grandes lucros comprando o material a preço muito baixo das cooperativas e dos trabalhadores autônomos.

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Crise mundial reduz renda de catadores de materiais recicláveis do Rio pela metade

Por Flávia Villela, da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Os catadores de materiais recicláveis estão sofrendo duplamente com a crise financeira mundial: além da diminuição do crédito e da renda, que causou a queda no consumo e, conseqüentemente, na produção de lixo, o preço pago por alguns materiais recicláveis caiu mais da metade.

O catador Valdinei Ribeiro da Silva, da Cooperativa Coopervape, em Irajá, zona norte do Rio de Janeiro, afirma que está tendo que trabalhar mais de 12 horas por dia para ganhar metade do que ganhava antes da crise. “Antes de dezembro, eu conseguia ganhar até R$ 700, no final do mês. Hoje, se conseguir R$ 400 é muito”. Segundo ele, o quilo do plástico, que chegou a custar cerca de 90 centavos, agora vale menos de 60 centavos, pela mesma quantidade. A latinha, maior fonte de renda dos catadores, que chegava a ser vendida por R$ 3,50, agora não passa de R$ 1,50. O quilo do papelão hoje está sendo vendido por 20 centavos. Antes da crise um catador conseguia vendê-lo por 50 centavos.

“Minha esposa trabalhava comigo e saiu para trabalhar em casa de família, porque com o que estamos ganhando não está dando. A garrafa PET que vendíamos por R$ 1,20, o quilo, agora não conseguimos vender nem por 50 centavos". Silva conta que agora trabalha das 8h às 21h para tentar compensar as perdas.

Catador de material reciclável há dez anos, Agnaldo Moraes diz que nunca passou tanto sufoco. “O preço não está valendo a pena, porque o transporte é muito caro. Pago R$ 200 de frete por retirada”. Moraes espera que a prefeitura, por meio da Companhia de Limpeza Urbana (Comlurb), intensifique o apoio às cooperativas de catadores. “Afinal, a coleta seletiva que realizamos desafoga os aterros sanitários e diminui o gasto da prefeitura, sem contar nossa contribuição para o meio-ambiente e a sociedade”.

Para Lúcio Andrade, morador da Ilha do Governador, a atuação dos catadores é fundamental para a cidade, já que não existe no Rio um sistema de coleta seletiva que viabilize uma cadeia produtiva da reciclagem e de gestão dos resíduos sólidos. “Como a Comlurb não faz coleta de lixo reciclável aqui na rua, entrei em contato com uma cooperativa, pois o lixo reciclável que acumulamos é muito grande”. Andrade diz que a idéia de organizar os vizinhos para separar o lixo orgânico dos recicláveis surgiu após uma viagem à Áustria “Lá a coleta seletiva é coisa séria e a cobrança é grande,” conta..

A Comlurb dá suporte a algumas cooperativas, como cessão do espaço de coleta, uniforme, luvas e máscaras. Além disso, a companhia realiza coletas seletivas em alguns bairros, cujo material é enviado para um depósito em Jacarepaguá, zona oeste da cidade. Os catadores que estiverem legalizados e cadastrados têm direito ao material, mas ficam responsáveis pelo transporte.

Desde 2006, todo o órgão federal é obrigado a doar o material reciclável a cooperativas cadastradas. Desde 2007, o Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem um programa de crédito a fundo perdido, para infra-estrutura física, aquisição de máquinas e equipamentos, assistência técnica e capacitação gerencial de cooperativas de catadores. Ao todo, segundo o BNDES, o incentivo é de R$ 38,5 milhões e deve beneficiar 3,2 mil catadores de oito estados brasileiros.

Entretanto, para Sebastião Santos, do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, faltam políticas públicas para esses trabalhadores por parte das três esferas do governo. Segundo ele, é fundamental também que haja recursos para investir em capital de giro para as cooperativas. “Se tivéssemos recursos para investir, conseguiríamos estocar o material e manter um valor mínimo para garantir um salário digno aos catadores, em momentos de crise. Hoje, somos forçados a vender o material pelo preço que derem”, afirma o catador.
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FONTE : Daniel Mello, da Agência Brasil (Envolverde/Agência Brasil)

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