Cairns, Austrália, 16/7/2012 – É necessária apenas uma aldeia para proteger um arrecife de corais e manter as reservas de peixes, segundo demonstram mais de duas décadas de experiência. Por outro lado, governos bem intencionados podem causar mais dano do que bem, conforme concluíram especialistas reunidos no XII Simpósio Internacional sobre Arrecifes de Coral, que terminou no dia 13, nesta cidade australiana. “As primeiras áreas marinhas administradas localmente duplicaram a biomassa (quantidade e tamanho) de peixes em apenas alguns anos”, destacou Alan White, da Iniciativa Global Marinha e de Conservação da Natureza, com sede no Havaí. As primeiras áreas deste tipo foram criadas nas Filipinas na década de 1980.
A comunidade local estabeleceu uma zona de exclusão de pesca de apenas 15 hectares, e a biomassa de peixes duplicou em cerca de quatro anos, disse White à IPS. Tudo feito sem participação do governo. “uma vez que a comunidade vê os benefícios, segue adiante e a ideia se propaga”, acrescentou. Até agora, o manejo dos recursos pesqueiros esteve muito controlado pelo governo, disse Helene Marsh professora de ciências ambientais na australiana Universidade James Cook. Inclusive na Austrália, os pescadores querem estar mais envolvidos na administração, contou à IPS.
“Antes de surgirem as áreas administradas localmente, nos anos 1980, as capturas estavam diminuindo, e os pescadores, desesperados, usavam dinamite para conseguir os últimos peixes remanescentes”, explicou Jovelyn Cleofe, coordenadora nacional nas Filipinas da Rede de Áreas Marinhas Administradas Localmente. Agora há mais de mil áreas de manejo local nesse país asiático. As zonas de exclusão de pesca são bastante pequenas, entre dez e 20 hectares, mas a quantidade de peixes aumentou, a diversidade das espécies duplicou e a saúde dos corais melhorou.
Algo também importante é que a renda dos pescadores aumentou, já que estes têm mais capturas com menos esforço. Em alguns casos, ganham dinheiro adicional com turismo, detalhou Cleofe. Por outro lado, a ciência demonstrou que as áreas protegidas também fornecem peixes para regiões próximas.
Depois que os peixes incubam seus ovos, as microscópicas larvas são levadas pelas correntes do oceano, e é extremamente difícil saber onde podem chegar, explicou Geoff Jones, do Centro ARC de Excelência para Estudos de Arrecifes de Coral, da Universidade James Cook. Jones e seus colegas coletaram amostras de ADN de milhares de peixes adultos dentro das áreas protegidas na Grande Barreira de Corais da Austrália.
Depois, foram buscar filhotes de peixes onde estava permitida a pesca, para ver se a informação genética coincidia. Os especialistas descobriram mais coincidências do que esperavam, de até 70% em algumas áreas, o que significa que a maioria dos filhotes procediam de zonas protegidas. “Agora temos provas de que pelo menos 50% dos filhotes de peixes, inclusive alguns de até 20 quilômetros de distância, procedem de áreas protegidas”, disse Jones à IPS.
As áreas administradas localmente são uma grande estratégia, e o conceito se expandiu rapidamente, destacou a diretora de programas em Fiji da Sociedade para a Conservação da Natureza, Stacy Jupiter. “A ciência também nos diz que são os peixes grandes que depositam maior quantidade de ovos”. Mas as áreas funcionam efetivamente apenas quando as comunidades têm pleno controle sobre o acesso às reservas pesqueiras e aos corais, esclareceu Stacy. É importante que todos cumpram estas regras, enfatizou.
Quando as decisões são tomadas pelas comunidades, é mais provável que tenham em conta as necessidades das futuras gerações, opinou, por sua vez, Andrew Wayne, membro do Congresso Nacional de Palau e presidente do departamento de áreas protegidas desse país no Oceano Pacífico, com 20 mil habitantes. Quando o controle é exercido completamente pelo governo, como no caso da ilha de Guam, também no Pacífico, pertencente aos Estados Unidos, os arrecifes começam a diminuir, disse à IPS. “É importante que todos na comunidade e nas proximidades sejam informados sobre as regras das áreas administradas localmente. Também é necessária uma efetiva aplicação das regras”, acrescentou.
A educação também é crucial. “Estamos trabalhando com crianças para ensiná-las a amar seus arrecifes, e isto facilitará as coisas para o futuro”, indicou Wayne. Os chefes tradicionais de Palau habitualmente proíbem a pesca em uma área quando as reservas de peixes diminuem. Estas ordens ainda são respeitadas, mas às vezes entram em conflito com a moderna democracia do país, observou o cientista. Além disso, cresce a tendência ocidental de pensar no benefício individual antes do comunitário, acrescentou. “Se a comunidade local sente que é dona dos recursos e que sempre será, fará uma diferença”, ressaltou.
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FONTE : Envolverde/IPS
“Antes de surgirem as áreas administradas localmente, nos anos 1980, as capturas estavam diminuindo, e os pescadores, desesperados, usavam dinamite para conseguir os últimos peixes remanescentes”, explicou Jovelyn Cleofe, coordenadora nacional nas Filipinas da Rede de Áreas Marinhas Administradas Localmente. Agora há mais de mil áreas de manejo local nesse país asiático. As zonas de exclusão de pesca são bastante pequenas, entre dez e 20 hectares, mas a quantidade de peixes aumentou, a diversidade das espécies duplicou e a saúde dos corais melhorou.
Algo também importante é que a renda dos pescadores aumentou, já que estes têm mais capturas com menos esforço. Em alguns casos, ganham dinheiro adicional com turismo, detalhou Cleofe. Por outro lado, a ciência demonstrou que as áreas protegidas também fornecem peixes para regiões próximas.
Depois que os peixes incubam seus ovos, as microscópicas larvas são levadas pelas correntes do oceano, e é extremamente difícil saber onde podem chegar, explicou Geoff Jones, do Centro ARC de Excelência para Estudos de Arrecifes de Coral, da Universidade James Cook. Jones e seus colegas coletaram amostras de ADN de milhares de peixes adultos dentro das áreas protegidas na Grande Barreira de Corais da Austrália.
Depois, foram buscar filhotes de peixes onde estava permitida a pesca, para ver se a informação genética coincidia. Os especialistas descobriram mais coincidências do que esperavam, de até 70% em algumas áreas, o que significa que a maioria dos filhotes procediam de zonas protegidas. “Agora temos provas de que pelo menos 50% dos filhotes de peixes, inclusive alguns de até 20 quilômetros de distância, procedem de áreas protegidas”, disse Jones à IPS.
As áreas administradas localmente são uma grande estratégia, e o conceito se expandiu rapidamente, destacou a diretora de programas em Fiji da Sociedade para a Conservação da Natureza, Stacy Jupiter. “A ciência também nos diz que são os peixes grandes que depositam maior quantidade de ovos”. Mas as áreas funcionam efetivamente apenas quando as comunidades têm pleno controle sobre o acesso às reservas pesqueiras e aos corais, esclareceu Stacy. É importante que todos cumpram estas regras, enfatizou.
Quando as decisões são tomadas pelas comunidades, é mais provável que tenham em conta as necessidades das futuras gerações, opinou, por sua vez, Andrew Wayne, membro do Congresso Nacional de Palau e presidente do departamento de áreas protegidas desse país no Oceano Pacífico, com 20 mil habitantes. Quando o controle é exercido completamente pelo governo, como no caso da ilha de Guam, também no Pacífico, pertencente aos Estados Unidos, os arrecifes começam a diminuir, disse à IPS. “É importante que todos na comunidade e nas proximidades sejam informados sobre as regras das áreas administradas localmente. Também é necessária uma efetiva aplicação das regras”, acrescentou.
A educação também é crucial. “Estamos trabalhando com crianças para ensiná-las a amar seus arrecifes, e isto facilitará as coisas para o futuro”, indicou Wayne. Os chefes tradicionais de Palau habitualmente proíbem a pesca em uma área quando as reservas de peixes diminuem. Estas ordens ainda são respeitadas, mas às vezes entram em conflito com a moderna democracia do país, observou o cientista. Além disso, cresce a tendência ocidental de pensar no benefício individual antes do comunitário, acrescentou. “Se a comunidade local sente que é dona dos recursos e que sempre será, fará uma diferença”, ressaltou.
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FONTE : Envolverde/IPS
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