Programa Papagaios do
Brasil, lançado nesta quarta-feira (8), integra iniciativas que protegem seis
espécies
Por sua capacidade de
imitar a fala humana, o papagaio-verdadeiro é a espécie que mais sofre com a
retirada de filhotes da natureza (Foto: Jaire Marinho)
Segundo
o Ibama, o tráfico de espécies silvestres é o terceiro maior do mundo, atrás
apenas do tráfico de drogas e armas. As aves correspondem a 80% das apreensões
do Instituto. Dentro desse grupo, os papagaios estão entre as espécies mais
vulneráveis, muito procurados como animais de estimação. Evitar a retirada de
papagaios da natureza por meio do combate ao tráfico de aves é o principal foco
de um programa nacional lançado nesta quarta-feira (8) nas redes sociais do Programa e das instituições
envolvidas. O projeto foi apresentado durante o 1º Simpósio Internacional de
Conservação Integrada, no Parque das Aves, em Foz do Iguaçu (PR).
O
Programa Papagaios do Brasil integra ações de conservação de seis espécies de
papagaios com diferentes graus de ameaça: papagaio-verdadeiro (Amazona
aestiva), papagaio-charão (Amazona pretrei), papagaio-de-peito-roxo
(Amazona vinacea), papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis),
papagaio-chauá (Amazona rhodocorytha) e papagaio-moleiro (Amazona
farinosa). As espécies habitam diferentes biomas do país e, além do
tráfico, enfrentam a redução do seu habitat. “As seis espécies são
contempladas pelo Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Papagaios, o
PAN Papagaios, que engloba um conjunto de atividades voltadas ao combate das
principais ameaças a esses animais”, explica Patricia Serafini, do Centro
Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (ICMBio/CEMAVE).
Elenise
Sipinski, coordenadora do Projeto de Conservação do Papagaio-de-cara-roxa, realizado
pela Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), afirma
que a união das instituições garante resultados mais efetivos na conservação da
natureza. O projeto atua desde 1998 no litoral paranaense e Litoral Sul de São
Paulo, áreas onde a espécie ainda é encontrada. “Infelizmente há pessoas que
compram papagaios silvestres e financiam esse tipo de crime. Com o Programa
Papagaios do Brasil, pretendemos mostrar que a biodiversidade é nosso maior
patrimônio”, comenta Sipinski.
A
exibição de um vídeo sobre os papagaios brasileiros marcou o lançamento da
iniciativa. O Programa Papagaios do Brasil tem apoio da Fundação Grupo
Boticário de Proteção à Natureza e realização da SPVS, Parque das Aves,
Fundação Neotrópica, Associação Amigos do Meio Ambiente (AMA) e ICMBio/CEMAVE.
O Programa segue as diretrizes do PAN Papagaios e tem ações previstas até 2021,
entre atividades de educação para conservação da natureza, pesquisas e
participação de instituições públicas e privadas.
Papagaio-de-cara-roxa
O
papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis) vive em uma estreita faixa
do bioma Mata Atlântica que se estende do litoral do Paraná ao Litoral Sul de
São Paulo. Desde 1998, a SPVS desenvolve o Projeto de Conservação do
Papagaio-de-cara-roxa, monitorando anualmente a população da espécie e
realizando atividades de manejo e educação para conservação com as comunidades
locais. Com ações como a instalação de ninhos artificiais de madeira e PVC, que
suprem a falta de ocos de árvores, houve um crescimento na população nos
últimos anos.
Em
2014 a situação do papagaio-de-cara-roxa saiu de “vulnerável” para “quase
ameaçado” na Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção. No
entanto, o alerta de conservação da espécie permanece, devido à destruição de
seu habitat natural e à grande quantidade de papagaios
capturados para serem vendidos de forma ilegal.
Papagaio-verdadeiro
No
Brasil, a espécie mais conhecida de papagaio é o papagaio-verdadeiro (Amazona
aestiva). Essas aves habitam o Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e regiões do Sul do país. Sua
popularidade se deve,
principalmente, à habilidade para imitar a fala humana. Por esse motivo, a
espécie é a mais traficada para o comércio ilegal. Mais de quatro mil
papagaios-verdadeiros já foram apreendidos pelos órgãos fiscalizadores desde
1988.
Para
conservar a espécie e seu habitat natural, o Projeto Papagaio-verdadeiro
pesquisa e monitora filhotes desde 1997. O projeto realiza a contagem de
indivíduos em dormitórios para estimar a população nacional, além de atividades
de educação e sensibilização com crianças, moradores do entorno de áreas
naturais e turistas para combater o tráfico.
Papagaio-charão
O
papagaio-charão (Amazona pretrei) vive nos estados do Rio Grande do Sul
e Santa Catarina, nas florestas com araucárias, onde se alimenta das sementes
do pinheiro-brasileiro. Essa espécie é uma das menores entre os papagaios do
país.
Entre
as ações desenvolvidas para conservação da espécie, a Associação Amigos do Meio
Ambiente (AMA) tem incentivado proprietários de terras na criação de Reservas
Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), estratégia que garante a
perpetuidade da preservação de áreas naturais e protege o habitat do
papagaio-charão. O Projeto Charão pesquisa e monitora os papagaios, além de
promover a educação para conservação da natureza nas cidades onde a espécie é
encontrada.
Papagaio-de-peito-roxo
O
papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea) era encontrado frequentemente
em várias regiões do bioma Mata Atlântica, do sul da Bahia ao Rio Grande do
Sul. Mas a diminuição de áreas de florestas bem conservadas reduziu
drasticamente a população da espécie.
Em
2014 a Associação Amigos do Meio Ambiente (AMA) e o Instituto de Ciências
Biológicas da Universidade de Passo Fundo (ICB/UPF) realizaram a primeira
avaliação nacional do tamanho da população dos papagaios-de-peito-roxo. Além de
ações de pesquisa e coleta de dados, caixas-ninho também são instaladas pelo
projeto para suprir a falta de ocos de árvores nativas e auxiliar na reprodução
da espécie.
Papagaio-chauá
O
papagaio-chauá (Amazona rhodocorytha) vive nas florestas úmidas da faixa
litorânea do país. Na Mata Atlântica é encontrado desde o estado de Alagoas até
o Rio de Janeiro e algumas regiões de Minas Gerais. O status populacional
da espécie é um dos menos conhecidos, o que torna ainda mais relevantes as
iniciativas de conservação.
O
Projeto de Conservação do Papagaio-chauá é executado pela Fundação Neotrópica
do Brasil e pelo Parque das Aves, que realizam pesquisas e atividades de
educação para conservação. Em parceria com instituições e comunidades locais, o
projeto incentiva a geração alternativa de renda com menor impacto aos
ambientes naturais.
Papagaio-moleiro
O
papagaio-moleiro (Amazona farinosa) é o maior papagaio brasileiro,
medindo cerca de 40 cm de comprimento. Pode ser encontrado em florestas mais
densas da Amazônia, Bahia, São Paulo e no leste de Minas Gerais.
A
principal ameaça à espécie é a captura ilegal para criação em cativeiro. Devido
à sua personalidade dócil, os papagaios-moleiros são muito procurados como
animais de estimação, o que tem contribuído para uma queda drástica na
população, principalmente na Bahia.
Douglas Maia Rodrigues
Nenhum comentário:
Postar um comentário