Projeto visa criação da primeira reserva
privada para conservar uma espécie de água doce
Com uma população de apenas 400
indivíduos, o cágado-do-paraíba (Mesoclemmys
hogei) passou, em 2016, de espécie “em perigo de extinção”
para “criticamente em perigo”, uma classificação antes de extinto na
natureza, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza
(IUCN). As margens do rio Carangola, no município de Tombos (MG), é um dos
últimos locais de ocorrência da espécie, que, como o seu nome indica, o
cágado-do-paraíba se distribuía ao longo do rio Paraíba do Sul, entre os
estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Atualmente sofre com a degradação
de seus habitats, mas tem a seu favor a mobilização de entidades de
conservação da natureza para reverter esse processo.
O projeto “Ninho da tartaruga:
criação e implantação de RPPN para a conservação de Mesoclemmys hogei –
um dos 25 quelônios mais ameaçados do planeta”, da
Fundação Biodiversitas, tem o apoio da Fundação Grupo Boticário de
Proteção à Natureza. Com objetivo de conscientizar a população das margens do
rio Carangola, a iniciativa busca também criar a primeira Reserva Particular
do Patrimônio Natural (RPPN) dedicada a uma espécie de água doce no país, em
uma área de 80 hectares, em Tombos.
Com a implantação da RPPN será
possível assegurar a conservação do habitat do
cágado-do-paraíba e de outros organismos vertebrados, invertebrados, vegetais
e microrganismos. “A área protege um trecho que abriga o maior número
de cágados, pois há a suspeita de que a região seja utilizada pela espécie
para reprodução. Assim, a criação da RPPN em uma área-chave é uma poderosa
estratégia de conservação”, comenta Marcos Eduardo Coutinho, responsável
técnico do projeto.
Malu Nunes, diretora executiva da
Fundação Grupo Boticário, explica que a instituição incentiva a criação de
RPPNs, como forma de complementar os esforços públicos para conservação da
biodiversidade. “O apoio a projetos como o Ninho da Tartaruga, que visam a
criação de RPPNs, é fundamental para garantir que determinadas áreas de alta
relevância ambiental sejam protegidas para sempre”, afirma. A diretora
ressalta que a criação de uma RPPN “precisa ser acompanhada por novas
políticas públicas ambientais, que favoreçam a ordenação territorial
sustentável de regiões como da bacia do Paraíba-do-Sul”.
Além da degradação da vegetação nativa
nas margens dos rios (matas ciliares), usadas pela espécie para desova,
outros fatores, como qualidade da água e a pesca interferem na conservação do
cágado-do-paraíba. Coutinho explica que, no caso de animais aquáticos, os
tipos de uso do solo no entorno da bacia têm influência direta na qualidade
do recurso hídrico e, portanto, em seu habitat. Ou seja, as espécies mais
sensíveis e/ou exigentes são afetadas pelo grau de conservação ou degradação
da bacia. “Outra questão preocupante é a pesca acidental. Neste sentido,
trabalhamos junto com os pescadores locais para buscar soluções para este
problema”, completa.
A equipe do projeto desenvolve um
acompanhamento intensivo e contínuo de educação ambiental com os pescadores
desde 2011. “Buscamos o diálogo amigável, além de fazê-los refletir se as
práticas, técnicas de pesca e se as relações com o rio são sustentáveis e
justas. Assim, conseguimos um acordo com os pescadores, pelo qual eles mesmos
identificaram e propuseram áreas de exclusão de pesca a partir de suas
experiências na captura de cágado”, afirma Coutinho.
Cágados, tartarugas e jabutis
Cágados, tartarugas e jabutis
pertencem ao grupo dos quelônios: os répteis dotados de carapaça.
Os jabutis são os quelônios que vivem apenas na terra. As tartarugas (marinhas
ou de água doce) passam todo tempo dentro da água, saindo apenas para desovar
ou tomar sol. Já os cágados, a exemplo do cágado-do-paraíba, são
considerados semiaquáticos, pois realizam suas atividades tanto dentro quanto
fora da água.
Sobre a Fundação Grupo Boticário
A Fundação Grupo Boticário de Proteção
à Natureza é uma organização sem fins lucrativos cuja missão é promover e
realizar ações de conservação da natureza. Criada em 1990 por iniciativa do
fundador de O Boticário, Miguel Krigsner, a atuação da Fundação Grupo
Boticário é nacional e suas ações incluem proteção de áreas naturais, apoio a
projetos de outras instituições e disseminação de conhecimento. Desde a sua
criação, a Fundação Grupo Boticário já apoiou 1.528 projetos de 501 instituições
em todo o Brasil. A instituição mantém duas reservas naturais, a Reserva
Natural Salto Morato, na Mata Atlântica; e a Reserva Natural Serra do
Tombador, no Cerrado, os dois biomas mais ameaçados do país. Outra
iniciativa é um projeto pioneiro de pagamento por serviços ambientais em
regiões de manancial, o Oásis. Na internet: www.fundacaogrupoboticario.org.br,
www.twitter.com/fund_boticario
e www.facebook.com/fundacaogrupoboticario.
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sexta-feira, 20 de outubro de 2017
Brasil tem um dos cágados mais ameaçados do planeta
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