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sexta-feira, 8 de maio de 2009

“Salvemos o planeta juntos”


Em reposta ao artigo de Barbara Ehrenreich e Bill Fletcher Jr., publicado na revista The Nation, Bill McKibben, especialista em assuntos de ecologia política, participa do debate sobre o socialismo atual e tenta oferecer mais respostas à pergunta: o que aqueles que se definem como socialistas têm a dizer sobre a crise econômica mundial?

Segundo McKibben, “a primeira e a última esperança que temos é o ressurgimento de uma política que nos convoque para trabalhar juntos. Vislumbramos alguns lampejos disso na campanha de Obama […]. Eu espero que vejamos muito mais lampejos desse tipo nos anos que virão”.

Semanas depois de tomar posse do cargo, Steven Chu, ganhador do prêmio Nobel e secretário de Energia de Obama, concedeu sua primeira entrevista ao Los Angeles Times. O jornalista lhe perguntou a respeito das mudanças climáticas. “Não acredito que a população norte-americana tenha uma ideia cabal do que pode acontecer”, disse, descrevendo um modelo informático que demonstrava que o degelo em Serra Nevada será cada vez mais rápido nos anos vindouros. “Estamos considerando um cenário em que já não haverá agricultura na Califórnia”. E acrescentava que também não “vejo realmente como suas cidades poderiam ser preservadas”. Bem.

No magnífico ensaio de Barbara Ehrenreich e Bill Fletcher, a parte mais importante é sobre o que mudou: primeiro, o desastre econômico que nos rodeia, mas segundo - ainda mais importante - a onda de destruição ambiental que está caindo sobre as nossas cabeças. Definitivamente, eu não sou um “laissez-faire”, uma Ayn Rand [1], um capitalista libertário (alguém ainda é? Alan Greenspan está pedindo a nacionalização dos bancos). Mas eu não tenho certeza se eu sou muito socialista, porque ambas as fés me parecem arraigadas em um momento anterior - um momento em que tínhamos alguma margem. Um momento em que o problema era o crescimento e como melhor fazer para que este acontecesse e compartilhar seus frutos.

Esse não é mais o nosso problema. Nosso problema é como lidar com a crise que irá definir o nosso mundo em um futuro imediato. Em novembro, a Agência Internacional de Energia anunciou que todas as previsões otimistas anteriores sobre fornecimento de petróleo estavam erradas - de fato, os campos de petróleo estão enfrentando “quedas naturais” com um rendimento de cerca de 7% anuais. O combustível para o fundamentalismo do mercado livre e do marxismo era o combustível fóssil, e nós não vamos tê-lo (ou não na extensão que temos, e essa extensão seria o carvão, e não vamos ser capazes de queimá-lo sem provocar ainda mais caos climático).

A atmosfera que deu a luz a todas as nossas ideologias aguentava cerca de 275 partes por milhão de CO2. Agora, esse número é de 387 partes por milhão, o que constitui a causa do derretimento do Ártico. Nossos climatologistas mais reputados nos dizem que o objetivo principal de qualquer política para o século XXI tem que ser conseguir que esse número desça abaixo dos 350, porque os níveis elevados atuais “simplesmente não são compatíveis com a manutenção de um planeta semelhante a um em que uma civilização se desenvolveu”. Tudo isso é gelo derretido no mar, ou algo parecido com isso.

Esse mundo necessariamente vai ser mais difícil. Teremos que nos centrar nos bens essenciais, como alimento e energia, muito mais do que no passado. Eu acho que teremos que encontrar o nosso sustento mais localmente, reduzindo as vulnerabilidades inerentes de uma economia pesadamente globalizada. Neste momento, menos de 1% dos norte-americanos trabalham no campo - esse é um número que precisa crescer. A forma que o governo vai pode ajudar é afastando-nos do combustível fóssil que nos subscreve o nosso perigo: um limite severo no carbono realizará mais rapidamente a transição que precisamos, apesar de que será difícil de suportar.

Na verdade, a única forma de aguentar a transição será com um renovado sentido de comunidade. O verdadeiro veneno das últimas décadas foi o hiperindividualismo que deixamos dominar a nossa vida política - a ideia de que tudo trabalha melhor se não pensamos nem por um momento no interesse comum. No final, isso danificou a nossa sociedade, o nosso clima e as nossas vidas particulares. A primeira e a última esperança que temos é o ressurgimento de uma política que nos convoque para trabalhar juntos. Vislumbramos alguns lampejos disso na campanha de Obama, que pelo menos foi tão interessante quanto o próprio candidato. Eu espero que vejamos muito mais lampejos desse tipo nos anos que virão.

Notas:

1. Ayn Rand (1905-1982) foi uma controversa filósofa norte-americana de origem judaico-russa, mais conhecida por sua filosofia do Objetivismo e seus romances “A Nascente”, cujo filme é conhecido no Brasil por “Vontade Indômita”, e “Quem é John Galt?”. Sua filosofia e sua ficção enfatizam, sobretudo, suas noções de individualismo, egoísmo racional, e capitalismo. Seus romances preconizam o individualismo filosófico e liberalismo econômico. Um admirador de Ayn Rand organizou, em 1972, o Partido Libertário Americano, cujo programa original tinha os traços que ela mesma defendia nos anos 40. Um de seus principais pupilos foi Alan Greenspan, mais tarde presidente do Banco Central dos EUA.
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FONTE : Artigo publicado originalmente na revista The Nation e republicado pela revista Sin Permiso, 15-03-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.(Envolverde/IHU - Instituto Humanitas Unisinos)

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