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quinta-feira, 21 de maio de 2009

QUEM É MAIS "EVOLUÍDO" ?


Tempos interessantes os nossos, em que, do aparentemente "paranóico" medo (que desfilava na internet, em inúmeros e-mails de alerta) da cobiça americana e européia sobre a Amazônia, passamos para declarações concretas de líderes políticos e empresários norte-americanos e ingleses, por exemplo, dizendo que "a Amazônia é patrimônio do planeta, e não dos brasileiros".

Não dá para achar, mesmo, que o nacionalismo é mais importante que a sobrevivência de toda a humanidade. Mas que bom seria que "o planeta" pudesse confiar nos ditos países "desenvolvidos", os mesmos que já destruíram suas próprias florestas e que, agora, querem "proteger" as nossas, ao mesmo tempo em que ainda estão "protegendo o povo do Iraque", assim como também têm uma altíssima cota percentual na poluição da Terra como um todo (só os Estados Unidos, por exemplo, respondem por cerca de 25% das emissões de carbono que provocam o efeito estufa).

A cultura indígena, uma das raízes étnicas mais importantes na formação do nosso povo, se caracteriza por um convívio harmônico e não-predatório com a natureza. Foram nossos colonizadores, os mesmos que exterminaram milhões de índios em nome do "progresso", que nos ensinaram seus padrões de desenvolvimento com destruição dos recursos naturais (no Rio Grande do Sul, por exemplo, o desmatamento de 95% de nossas áreas nativas nos expôs às intempéries climáticas).

O mundo tem evoluído bastante, nos últimos anos, no terreno dos discursos, mas pouco ainda nas questões práticas. Você sabia, por exemplo, que o papel "reciclato" também provém da derrubada de árvores novas, só que é industrializado com aparência de totalmente reciclado, para fins de marketing? Pois é, os países mais desenvolvidos agora "reciclam" os seus discursos.

Em outro exemplo social e atual, na questão do avanço científico proporcionado pelas células-tronco de embriões, o STF brasileiro demonstrou uma peculiar preocupação com o destino dos embriões viáveis. Aspecto curioso é que alguns países que permitiram esse uso só fizeram restrições aos embriões provenientes de seu próprio país, como a Alemanha e os Estados Unidos (onde só recebem verbas públicas embriões estrangeiros), o que pode ser interpretado como uma mensagem de que "não são seres vivos ainda, mas, por via das dúvidas, que sejam de outro povo".

Em muitas pessoas, individualmente, também podemos encontrar com freqüência a mesma convicção de que são "evoluídas" por suas idéias arrojadas, por seus conhecimentos culturais e tecnológicos, embora na sua prática diária contradigam, de muitas maneiras, o que pregam. Assim como também há pessoas simples sem grandes teorias intelectuais, mas bastante cuidadosas com as suas ações - mesmo sem a aparente pretensão de divulgar como exemplar o seu comportamento.

Quem é mais evoluído, afinal? Quem tem o domínio tecnológico e cultural ou quem, na prática, convive de modo mais harmonioso com o ambiente natural e humano do mundo em que vive? Talvez se nos perguntarmos isso, com franqueza e profundidade, possamos desmitificar um pouco muitos sentimentos de inferioridade, cultural e pessoal, que as pessoas simples de nosso povo carregam já há muito tempo.
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FONTE : Montserrat Antônio de Vasconcelos Martins,psiquiatra gaúcho.

Um comentário:

pedro lopes disse...

Espero que a seguir ao meu comentário venham muitos outros. O ser humano habituou-se a passar uma imagem que não a sua á sociedade e submetesse muito fácilmente a aquilo que dizem ser o normal.
Pois bem, eu não me submeto, recuso-me a ser humilde a esse ponto. Prefiro denominar-me de pessoa simples e directa.
Normal não é certamente muita coisa que fazemos, pode até ser comum, mas não podemos dizer que algo que seja comum seja normal, se não estamos a chamar anormal ao que não é comum. E há tanta coisa que não é comum e que deviamos fazer, como preocuparmo-nos com os nossos filhos, esposa e os amigos mais próximos. Será assim tão dificil perdermos um pouco do nosso tempo com essas pessoas que dizemos amar? Deixemos de ser egoistas e passemos a ouvir os outros e a tentar percebe-los para que possamos todos juntos ser mais felizes, ou não é isso que todos queremos?