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segunda-feira, 18 de maio de 2009

BALEIAS FRANCAS : PESQUISA PARA CONSERVÁ-LAS




Boston, EUA, 18/05/2009 - Quando uma baleia franca que nada no Atlântico norte, perto da cidade norte-americana de Boston, canta às três da manhã, toca um telefone em uma pequena localidade do Estado de Nova York. Um analista especialmente treinado atende seu celular, lê a mensagem de texto que informa a localização de uma das apenas 500 baleias que restam no mundo, e pula da cama direto para o computador. Depois de verificar mais dados, decide telefonar, para dar um alerte de emergência, a um navio-tanque de gás natural liquefeito. “Pode acontecer que os tirem da cama. Não é um trabalho fácil”, disse Chris Tremblay, gerente do sistema de alerta, a respeito dos 15 analistas.

A rede de Escuta de Baleias Francas é administrada pelo Laboratório de Pesquisa em Bioacústica da Universidade de Cornell. O sistema funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, cada vez que é detectado um chamado de baleia em qualquer das 16 bóias de escuta instaladas perto de Boston, ou das 10 que flutuam próximo à cidade de Nova York. Os analistas cumprem esses estranhos horários de trabalho por considerarem que se trata de uma oportunidade para proteger um dos animais mais ameaçados do mundo, explicou Tremblay à IPS. “Sentem que estão fazendo algo importante”, acrescentou.

Com 65 toneladas e 15 metros de comprimento, estas baleias não têm pressa. Avançam pesadamente através das frias águas da costa leste da América do Norte, chegando à baía de Fundy, no Canadá, à velocidade máxima de 16 quilômetros por hora, com fazem há milhares de anos. Estes mamíferos nadam com suas bocas completamente abertas, para se alimentarem e chamar seus companheiros. “A única coisa que se pode dizer é que são muito estranhas’, disse à IPS Charles “Stormy” Mayo, cientista do Centro Provincetown para os Estudos Costeiros. “Uma boca gigante ocupa o terço frontal do animal. Possui enormes paredes de lâminas córneas em lugar de dentes, o que permite a capacidade de filtrar quantidades monstruosas de água e caudas muito maiores do que as outras baleias”, acrescentou Mayo, que há 35 anos estuda o que, onde e como comem estes cetáceos.

A baleia franca do Atlântico norte foi alvo de caça, a ponto de no século XIX ter ficado à beira da extinção e sua população não se recuperar. Atualmente, as águas por onde nadam as baleias estão saturadas de navios-tanques, pequenas embarcações e barcos de pesca, além de redes de redes estendidas perto da superfície da água por meio de flutuadores, cordéis e apetrechos de pesca. Morrem principalmente ao colidirem com embarcações e se enroscarem nesses apetrechos, explicou Mary Colligan, especialista em baleias do Escritório Nacional de Administração Oceânica e Atmosférica. Colligan é uma das centenas de conservacionistas, pesquisadores e especialistas do governo que tentam desesperadamente impedir a extinção das baleias. “Nosso objetivo é zerar as ocorrências. É um problema muito difícil, porque não há uma solução fácil”, afirmou.

Em geral, as baleias vivem até 70 anos, mas hoje em dia seu ciclo vital médio é de apenas 15, principalmente por causas humanas, segundo o programa de bioacústica de Cornell. Mais de 75% das baleias francas têm cicatrizes produzidas pelas hélices dos barcos ou por aparelhos usados para a pesca comercial, segundo o Centro Provincetown. “Nos casos mais graves, os apetrechos ficam presos na boca impedindo a alimentação”, explicou Colligan. A população baleeira diminuiu durante décadas. Desde por volta de 1999 são aplicadas normas pesqueiras e de circulação de embarcações, bem como elaborados sistemas de alerta, com o de Boston.

“As águas pelas quais migram, e seus habitat, agora são mais seguros graças às medidas de conservação que conseguimos implementar”, disse à IPS Moira Brown, cientista do Aquário de Nova Inglaterra. Nos últimos tempos, “as coisas têm melhor aspecto para as baleias francas”, afirmou. Após anos de queda, a população de baleias começou a aumentar ao ritmo de 1% ao ano. Neste 2009 já nasceram 39 filhotes, um recorde, segundo Brown,. Sua dedicação a estes mamíferos a levou a entrar no mar, perto de Boston, em janeiro, quando a temperatura é de seis graus negativos em terra. Brown reveza com outros membros da tripulação, parada sobre a coberta, para observar e fotografar as baleias. Todos os integrantes da equipe vestem trajes de peça única, devidamente isolados. “E com um colete salva-vidas, para segurança”, explicou.

As fotografias são inseridas em uma base de dados de cada baleia conhecida, ajudando muito os investigadores. Os exemplares são identificados por uma protuberância branca única (calosidades) atrás de suas cabeças. Ao nascerem, os filhotes tem uma pele totalmente suave, mas em apenas semanas formam-se as calosidades, que as acompanham pelo resto de suas vidas. Oficialmente, os pesquisadores catalogam os animais por número. Extra-oficialmente, alguns são conhecidos como Nantucket ou silver. Kingfisher, por exemplo, vive, ano após ano, com um aparelho de pesca enroscado em torno de suas barbatanas. Ruth Leeney e sua equipem fazem fotografias áreas de baleias que se alimentam na baía de Cape Cód. “Este trabalho é particularmente interessante porque se costuma a fundir pesquisa com conservação”, disse à IPS.
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FONTE : Este artigo é parte de uma série produzida pela IPS (Inter Press Service) e pela IFEJ (Federação Internacional de Jornalistas Ambientais) para a Aliança de Comunicadores para o Desenvolvimento Sustentável (www.complusalliance.org).

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