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terça-feira, 18 de outubro de 2016

Turbinas Reaproveitam Resíduos Energéticos Para Gerar Eletricidade De Forma Limpa

Turbinas reutilizam energias desperdiçadas – Empresa incubada na UFRGS desenvolve turbinas que reaproveitam resíduos energéticos em grandes instalações para gerar eletricidade de forma limpa
Por Yuri Correa, UFRGS Ciência
Turbina Redutora de Pressão já está em pleno funcionamento nas instalações da PepsiCo – Foto: divulgação
Dentre as tantas formas já testadas e desenvolvidas para promover a eficiência energética e a produção limpa de energia, o reaproveitamento de forças desperdiçadas é uma das menos comentadas. Porém, como comprova a startup Prosumir, incubada na UFRGS, esse método pode ser uma das alternativas mais simples e rentáveis. Basicamente reutilizando uma parcela de energia térmica que seria dissipada nas tubulações de grandes instalações, as miniturbinas nas quais decidiu investir Julio Vieira, idealizador da empresa, convertem esses “resíduos” em energia elétrica.
Segundo ele, mais de R$ 10 bilhões são perdidos anualmente no Brasil com o não aproveitamento dessas fontes energéticas. São tantos os pequenos focos de desperdício sendo ignorados rotineiramente que a exploração correta de uma grande porcentagem deles poderia economizar gastos de energia consideráveis. Conta que, num futuro ideal, se todos esses pontos fossem aproveitados, apenas a eletricidade produzida por eles poderia sustentar todo o consumo do Rio Grande do Sul. Mas as empresas preferem se concentrar em explorar fontes maiores, diz, que rendam mais de uma só vez, do que em pequenas partes que, juntas, podem gerar o mesmo rendimento, se não um maior.
Formado em Tecnologia Mecânica pela Fatec (Sorocaba, São Paulo) e em Engenharia Mecânica pela UFRGS, o empreendedor teve contato com a tecnologia de turbinas ainda na sua primeira graduação e decidiu se especializar na área. Desde o início dos trabalhos da empresa, em 2014, conquistou alguns prêmios e parcerias importantes para a sua Prosumir, que ainda deve ficar em incubação até o começo de 2018. Hoje a empresa conta com cinco funcionários e, desde o ano passado, com um sócio, André Thomazoni. Com seus primeiros incentivos, desenvolveu dois protótipos iniciais. A ideia é simples, explica: estruturas complexas como hospitais, shoppings ou fábricas normalmente possuem uma caldeira, e o vapor produzido se desloca nas tubulações em alta pressão, até que, ao chegar em determinados pontos, uma válvula comum a reduz. Nessa redução, é desperdiçado calor; o que a Turbina Redutora de Pressão (TRP) – produto da Prosumir – faz, portanto, é um trabalho idêntico ao das válvulas comuns, só que redirecionando a energia térmica, que seria dissipada, para dentro da turbina no aparelho; lá a energia térmica é convertida em energia cinética, então em energia mecânica e, por fim, em energia elétrica.
Julio conta que decidiu investir no ramo quando enxergou um vácuo no mercado das turbinas e de outros aparelhos para reaproveitamento energético. Uma vez que os fabricantes usam o mesmo maquinário para produzir tanto aparatos de grandes proporções quanto os de menor escala, sempre acabam preferindo montar os maiores e, com isso, gerar grandes quantidades de eletricidade em focos notórios de desperdício, como chaminés de fábricas e usinas, por exemplo. Assim, os pequenos focos ficam inexplorados. Hoje a Prosumir tem uma TRP em pleno funcionamento nas instalações da PepsiCo em Porto Alegre (fabricante da Pepsi, Elma Chips, Gatorade, entre outros produtos), com potência de 5 kW. Ele explica que essa turbina, que é o terceiro e definitivo protótipo da empresa, gera até 3.500 kW por mês, o que é suficiente para abastecer, em média, o consumo energético de 14 casas durante esse mesmo período.
Ressalta, entretanto, que o principal problema em toda a área é o pouco investimento. Outros meios que já têm uma melhor recepção e muito tempo de desenvolvimento ainda encontram desafios para conseguir se manter e continuar a aperfeiçoar suas técnicas; dos campos eólicos, passando pela energia solar, até a captação dos movimentos oceânicos. Muitas vezes, a falta de verba estende por anos, e até décadas, o processo entre o desenho de um protótipo até a sua fase de testes. Mas Julio está confiante de que as suas TRPs, já com funcionamento e rendimento comprovados, possam ter um caminho diferente a partir de agora.
A Prosumir já tem um acordo com a Gerdau para a instalação de 600 kW em equipamentos, além disso, ressalta que as turbinas precisam de pouca manutenção, e que esta pode ser feita de modo simples. A maior parte dos custos se refere à compra e à instalação – os preços dos aparelhos variam entre R$ 52 mil, os menores, até mais de R$ 1 milhão, os de grande porte, e produzem apenas energia de forma limpa, sem gastarem nada que não sejam resíduos ou gerarem outros do próprio processo. Essas características, conta Julio, devem garantir a eficiência e a produtividade das TRPs, que são apenas um exemplo do reaproveitamento energético, que ainda pode ser aplicado de outras diversas formas pelo mundo, diminuindo a poluição e os gastos com meios menos rentáveis de produção de energia. O empreendedor, visando aperfeiçoar o seu produto e desenvolver novos protótipos além do seu carro-chefe, agora estuda para o seu doutorado – em Engenharia Mecânica da UFRGS – as Turbinas de Tesla, patenteadas pelo inventor Nikola Tesla no começo do século passado para explorar energia geotérmica, e que funcionam sem pás e por meio da aderência de gases na sua superfície.

in EcoDebate, 18/10/2016

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