A escassez de alimentos associada às mudanças climáticas foram os principais fatores responsáveis pela queda de prósperas civilizações. Isso veio pela exploração abusiva de recursos naturais, principalmente a destruição das florestas, contaminação das águas e exaustão do solo. Devemos buscar aprender com os erros do passado e estar sempre atentos e preservando a natureza.
Atualmente, também foi previsto que as mudanças climáticas poderão, em muitos locais, diminuir a produtividade de alimentos. Áreas que hoje são grandes produtoras agrícolas poderão não vir mais a ser e num futuro próximo. Temos de nos preparar para alimentar uma crescente população, e isso está ligado às mudanças do clima onde o domínio da produtividade agrícola pode se tornar um desafio difícil, mas devemos enfrentá-lo com coragem e determinação. Para isso, buscar ampliar as formas e os locais de produção de alimentos e aproveitar tudo o que é disponível hoje e vem sendo jogado fora.
A estrutura das cidades privilegia o desperdício no descarte de restos de alimentos e outros materiais de origem orgânica. Toneladas destes resíduos de feiras, mercados, indústrias e residências são jogadas fora sem que se faça uso. Este material precisa ser processado com eficiência, fornecendo benefício à população e evitando a contaminação do meio ambiente. Hoje, a maioria das cidades brasileiras tem optado pelo processamento centralizado, com a coleta extensiva e os grandes aterros sanitários, a construção de redes de esgotos e usinas centrais para processar os resíduos.
Em geral, este modelo tem se mostrado não funcional e até mesmo pouco viável por ser excessivamente caro. Com isso, a maior parte dos efluentes urbanos nas cidades brasileiras é despejada diretamente na rede fluvial ou colocadas em depósitos de lixo inapropriados contaminando os rios, solos, lençol freático e a atmosfera. Com isso, surge a necessidade de um tratamento diferenciado, com o aproveitamento e a transformação do que antes era considerado um grande problema urbano, social e ambiental.
Hoje, os alimentos naturais são caros, pois, muitas verduras e frutas consumidas na nossa cidade vêm de outros estados. Entretanto, estes alimentos podem ser produzidos em locais próximos à sua casa, aonde, as pessoas podem vir acompanhando o crescimento e o trato dos vegetais a serem consumidos por sua família.
Produzir alimentos dentro das cidades pode ser bem mais vantajoso do que no campo, pela diminuição dos gastos no transporte, pela possibilidade de ter auxílio técnico sempre disponível para o acompanhamento destas culturas urbanas e a transformação de toneladas de resíduos alimentares em compostos orgânicos que é a etapa inicial. Acrescentamos a isso, o fato de que nas cidades brasileiras existem milhares de terrenos baldios que podem ser utilizados para produção de toneladas de alimentos orgânicos, auxiliando na melhoria da qualidade térmica e paisagística da cidade.
Reduzir a carga de dejetos orgânicos para os rios com o aproveitamento integral dos resíduos através da compostagem. Isso pode ser realizado por pequenos sistemas de processamento de baixo custo, os módulos ambientais, sistemas onde a pessoa coloca o lixo orgânico e, com 40 dias, obtém um composto de primeira qualidade para o uso em plantas. Este material pode ser utilizado na cidade e entorno. Esta proposta a ser desenvolvida será econômica, eficiente e de simples implantação, manuseio e utilização, foi criada observando as condições tropicais e o comportamento social das pessoas.
O uso da compostagem poderá reduzir a carga de resíduos ao meio ambiente, contribuindo na recuperação dos rios. A água é o principal componente responsável pela vida e consequentemente interfere na alimentação e na saúde de todos. A população ignora, desrespeita e até mesmo despreza os rios que passam na cidade, muitas vezes bem próximo de suas casas. Discutir a degradação dos rios é essencial, é preciso que encontrem soluções para a redução da carga de dejetos. Soluções diferenciadas pelo tratamento descentralizado de resíduos domésticos, nas próprias residências ou organizadas por bairros através de módulos ambientais, revolucionarão o cenário urbano.
A descarga de água da grande maioria dos rios não tem força suficiente para diluir a contaminação imposta pelas cidades, quem chega mais perto destes pode observar a quantidade de organismos mortos, intensa proliferação de algas e plantas aquáticas, sentir o mau cheiro, e em análises é possível verificar o baixo teor de O2 dissolvido e valores elevados de coliformes fecais. A biodiversidade de organismos aquáticos responde negativamente à poluição. Assim, o tratamento das águas pelo aproveitamento de resíduos é ação necessária e fundamental para evitar um colapso ambiental que poderá afetar a saúde da nossa população.
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FONTE : Alexandre Kemenes é pesquisador da Embrapa Meio Norte.(Envolverde/Embrapa)
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