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Os cientistas têm más notícias para quem costuma frequentar praias: o filtro solar que protege a sua pele enquanto você nada, surfa ou mergulha pode estar matando os recifes de corais e a vida marinha. Muitos protetores solares contêm oxibenzona, uma substância química que ajuda a barrar os raios ultravioletas responsáveis pelo câncer de pele. Infelizmente, pesquisas também indicam que o composto torna os corais mais suscetíveis ao branqueamento.
Os cientistas têm más notícias para quem costuma frequentar praias: o filtro solar que protege a sua pele enquanto você nada, surfa ou mergulha pode estar matando os recifes de corais e a vida marinha. Muitos protetores solares contêm oxibenzona, uma substância química que ajuda a barrar os raios ultravioletas responsáveis pelo câncer de pele. Infelizmente, pesquisas também indicam que o composto torna os corais mais suscetíveis ao branqueamento.
Esse é mais um exemplo de como os produtos químicos sintéticos podem ter consequências não intencionais, fato que reforça a necessidade de avaliações de risco mais rigorosas antes de aprová-los para uso na indústria. Muitas substâncias novas, incluindo a oxibenzona, passam por estações de tratamento de água sem ser filtradas e acabam nos rios e oceanos.
“Este é um caso para a aplicação do princípio da precaução”, diz Gabriel Grimsditch, especialista em ecossistemas marinhos da ONU Meio Ambiente. “A oxibenzena nos protege contra queimaduras, mas também é um poluente, e precisamos saber o máximo possível sobre ela antes de liberá-la no ambiente. Já existem evidências de que esta substância é prejudicial aos recifes de corais”, completa.
O branqueamento dos recifes ocorre quando os corais expelem as algas que vivem sobre sobre eles mesmos, que ficam brancos, sem o tradicional revestimento colorido. Essas plantas são as fontes primárias de alimento para os corais, com os quais mantêm uma relação de simbiose. O branqueamento pode ser provocado pelo aquecimento da temperatura dos oceanos.
A oxibenzona faz parte da família de produtos químicos frequentemente adicionados aos plásticos — para evitar que se degradem com a luz — e às garrafas de bebidas para proteger seu conteúdo. Ela também preserva as cores e aromas de vários itens, incluindo sprays de cabelo, sabonetes e esmaltes de unha.
Mesmo sem a conexão com a destruição dos corais, muitos países já restringiram o uso da oxibenzona devido à preocupação com a saúde humana, como no caso de alergias de pele. Pesquisadores também estão examinando o impacto da substância nos níveis hormonais.
O recente alerta sobre seu impacto para a vida marinha surgiu de um artigo científico de 2015*, que apontava que até 14 mil toneladas de protetor solar são “lavadas” anualmente da pele de banhistas e mergulhadores perto de recifes de corais em todo o mundo.
Em experimentos laboratoriais, os autores da pesquisa descobriram que a oxibenzona reduziu a forma larval do coral Stylophora pistillata a uma “condição deformada e séssil” — uma consequência direta é o comprometimento do ciclo reprodutivo e, portanto, da renovação das populações de corais. A substância também foi considerada tóxica para outras cinco espécies de corais. A oxibenzona “ameaça a resiliência dos recifes às mudanças climáticas”, advertem os especialistas.
Outras pesquisas indicam que a oxibenzona também pode causar problemas de saúde em peixes, ouriços do mar e mamíferos marinhos.
Governos e indústria se mobilizam pelo meio ambiente
Buscando proteger a indústria do turismo, fundamental para as praias do México, o país permite apenas protetores solares “biodegradáveis” em algumas de suas principais reservas marinhas. Os parlamentares da Europa e do Havaí pressionam por proibições mais amplas. Nos Estados Unidos, o Serviço de Parques Nacionais incentiva os visitantes a usar produtos alternativos ou apenas a se cobrir com chapéus e roupas de banho com mangas longas.
As empresas estão resistentes, apontando outros fatores como motivo da deterioração dos ecossistemas de corais, como a mudança do clima e o despejo de outras substâncias poluentes nos oceanos.
Diversas empresas de cosméticos já estão oferecendo produtos “amigos dos corais”, que usam óxido de zinco ou dióxido de titânio em vez de ingredientes mais controversos.
De acordo com a Consumer Healthcare Products Association, que representa empresas de medicamentos de venda liberada nos Estados Unidos, “não há provas científicas de que, em condições naturais, os ingredientes dos protetores solares, que têm sido utilizados com segurança em todo o mundo há décadas, contribuem para essa questão”.
No entanto, várias empresas de cosméticos já oferecem novas alternativas e grandes meios de comunicação, como o jornal The New York Times e a revista de moda Vogue ajudam a promovê-los.
Então, na próxima vez que você der uma passada na praia, não precisa esperar até que o argumento científico ganhe ou perca. Você pode exercer o princípio da precaução por si mesmo, reduzindo o risco para o meio ambiente sem se expor aos excessos do sol.
*O artigo foi assinado por C. A. Downs, Esti Kramarsky-WinterRoee SegalJohn FauthSean KnutsonOmri BronsteinFrederic R. CinerRina JegerYona LichtenfeldCheryl M. WoodleyPaul PenningtonKelli CadenasAriel KushmaroYossi Loya.
Da ONU Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 15/01/2018
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