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segunda-feira, 12 de setembro de 2016

COMÉRCIO INTERNO DE MARFIM GERA POLÊMICA

Marfim apreendido no Refúgio Nacional de Fauna Silvestre de Rocky Mountain Arsenal, no dia 14 de novembro de 2013. Foto: Robert Segin/USFWS
Marfim apreendido no Refúgio Nacional de Fauna Silvestre de Rocky Mountain Arsenal, no dia 14 de novembro de 2013. Foto: Robert Segin/USFWS
Japão e África do Sul enfureceram todo o congresso para a conservação da natureza, ao se oporem a uma proposta de proibir o comércio interno do marfim de elefante.
Por Guy Dinmore, da IPS – 
Honolulu, Estados Unidos, 12/9/2016 – Os caçadores ilegais matam um elefante a cada 15 minutos na África, para vender apenas suas presas, segundo os resultados divulgados pelo Grande Censo de Elefantes.
A moção para frear o comércio interno de marfim, apresentada no Congresso Mundial da Natureza, que aconteceu nos dez primeiros dias deste mês nesta cidade do Havaí, é considerada uma das mais significativas e controvertidas que os delegados tiveram que votar. A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) é responsável pela organização desse congresso.
Mas japoneses e sul-africanos se opuseram à proibição, no dia 7, quando um grupo de contato de representantes governamentais e de organizações da sociedade civil tentou promover um texto de consenso da resolução, patrocinado por Estados Unidos e Gabão. Um sinal das sensibilidades geradas pela moção é que os meios de comunicação foram expulsos do salão de conferências pelo presidente do grupo de contato da UICN.
As negociações se prolongaram até a noite do dia 7, mas as delegações de Japão e África do Sul se retiraram depois que se decidiu manter os duros termos do texto que defende a proibição.Os conservacionistas da sociedade civil que defendem a proibição ficaram perplexos com as tentativas de japoneses e sul-africanos, em certas ocasiões com apoio da Namíbia, de diluir a contundência da moção.
“É uma atrocidade”, afirmou Mike Chase, fundador da organização Elefantes Sem Fronteiras e principal pesquisador do Grande Censo de Elefantes, realizado em 18 países. “Foram mortos seis elefantes enquanto discutiam por uma frase”, ressaltou Chase após a primeira sessão de 90 minutos, olhando seu relógio.Por sua vez, Susan Lieberman, vice-presidente de política internacional da Sociedade para a Conservação da Fauna Silvestre e uma das promotoras da moção, apontou que “existe uma crise e as pessoas a negam. De que serve a UICN se não podemos fazer algo contundente pelo marfim?”.
Japão e África do Sul afirmam que têm interesse em salvar os elefantes da África como os de todo o mundo, mas que a melhor maneira de fazer isso é com um firme controle e uma regulamentação do comércio, e não com a proibição. “Regular é ficar de braços cruzados enquanto Roma queima”, afirmou Lieberman.
O diretor da divisão de política de biodiversidade do Ministério do Ambiente do Japão, Naohisa Okuda, argumentou que a proibição “não é adequada. Temos que frear todo o comércio ilegal. Não é necessário proibir o comércio legal do marfim”, e deu como exemplo as peças que o Japão importava antes de entrar em vigor a proibição do comércio internacional, em 1989. “O problema é identificar o que é legal e o que é ilegal”, ressaltou.
A comunidade internacional deve encontrar um sistema de controle efetivo para o comércio do marfim, que seja capaz de beneficiar a conservação de elefantes africanos, pontuou Okuda. “O sistema de controle japonês é muito bom e efetivo, tal como reconhece a UICN. Outros países deveriam seguir o exemplo”, acrescentou. Entretanto, numerososambientalistas não compartilham dessa opinião e questionam a quantidade de peças em marfim produzidas pelo Japão.
A África do Sul argumenta que as populações de elefantes estão estáveis e, inclusive, crescem e que são necessários alguns sacrifícios, se parte da renda obtida com a venda de marfim for dedicada aos esforços de conservação. O governo sul-africano também organizou uma venda pontual de excedentes de marfim, mas os ativistas afirmam que isso só serve para disparar a atividade dos caçadores ilegais.
Morgan Griffiths, da organização WildlifeandEnvironmentSocietyof South Africa, recordou que, apesar da sofisticada tecnologia utilizada pelo sul-africano Parque Nacional Kruger, os caçadores ilegais tinham cada vez menos dificuldades para entrar no parque a partir de Moçambique, onde os elefantes estão à beira da extinção.
Griffiths está entre os que querem urgência do governo para aceitar uma proibição sobre todo o comércio interno. “As vendas pontuais de peças de marfim levarão a uma caçada maciça”, alertou.Outros países africanos pedem a proibição do comércio interno de marfim, considerando que é preciso exercer a maior pressão possível sobre China e Vietnã, os principais importadores de marfim ilegal, para conter a demanda.
A UICN, com 1.300 membros com capacidade de voto entre organizações não governamentais e governos, não tem autoridade legal para impor proibições. Mas um chamado desse tipo, feito por uma das instituições com maior autoridade em matéria de conservação, implica um considerável peso moral e supõe uma forte pressão para que os governos atuem.
A moção sete, sobre o marfim, é uma das muitas que geraram controvérsia no Congresso Mundial da Natureza, como as zonas proibidas, por exemplo, sítios indígenas sagrados com rígidas leis de proteção, uma reserva marinha que inclua 30% dos oceanos, e pautas para a “compensação de biodiversidade” voltadas ao setor industrial.
A China é de longe o maior consumidor de marfim de contrabando, cuja maior parte passa por Hong Kong e Vietnã. Há um ano, esse país e os Estados Unidos anunciaram que imporiam proibição sobre seus respectivos comércios internos. Pequim não apresentou um cronograma de execução e as autoridades chinesas se mantinham caladas em Honolulu. Hong Kong, por sua vez, anunciou que proibiria o comércio interno até 2021.
“É inadmissível que se mate esses animais por vaidade e mesquinhez. Para deter o comércio de marfim temos que acabar com o fornecimento e a demanda”, destacou Tony Banbury, responsável da Vulcan Inc., criada pelo multimilionário filantropo Paul Allen, que financiou o Grande Censo de Elefantes.O estudo, uma pesquisa aérea que demorou quase três anos e rastreou 350 mil milhas quadradas, mostra que a população de elefantes na savana de 15 países diminuiu 30%, cerca de 144 mil exemplares a menos, entre 2007 e 2014.
O ritmo de diminuição aumenta e hoje em dia é de 8% ao ano, principalmente devido à caça ilegal. São mortos aproximadamente 27 mil elefantes a cada ano por causa de suas presas. A redução mais acentuada foi registrada na Tanzânia e no norte de Moçambique. Envolverde/IPS

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