Hitwan, Nepal, 15/4/2015 – Ao entardecer, quando os raios do sol banham a exuberante paisagem, o Parque Nacional de Chitwan, localizado 200 quilômetros ao sul de Katmandu, capital do Nepal, e considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco, é um lugar de absoluta tranquilidade.
Uma revoada de marabus javaneses (Leptoptilos javanicus), uma ave em perigo de extinção, voa sobre o rio Narayani, quando o guia florestal Jiyana Mahato pede silêncio. É a hora do dia em que os animais silvestres se reúnem junto à água. A pouca distância, um cervo dos pântanos se banha na margem do rio.
“A vista dos seres humanos os afugenta”, explica à IPS o guia de 65 anos, pertencente ao povo indígena tharu, que desempenha um papel fundamental na execução dos esforços do governo para conservar a vida silvestre no parque. “Temos que voltar agora”, sugere. A noite não é segura para passear pela área, sobretudo agora que a população de tigres e rinocerontes, antes minguante, está crescendo.
Mahato é o guia ideal. Testemunhou o progresso obtido desde que a fundação do parque nacional, em 1963, deu refúgio a 56 espécies de mamíferos. Hoje em dia, Chitwan está na vanguarda dos esforços do Nepal para conservar sua singular biodiversidade. No começo deste ano, o país se converteu no primeiro do mundo a implantar uma nova ferramenta de conservação, criada pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e conhecida como a Norma do Tigre|Assegurada para sua Conservação (CA|TS).
Criada para fomentar a gestão e o acompanhamento eficazes das espécies em perigo de extinção e seus habitats, a CA|TS tem o apoio da União Internacional para a Conservação da Natureza e do Fórum Mundial do Tigre, que pretendem estender a ferramenta ao resto do mundo como meio de alcançar as metas de conservação fixadas no Convênio sobre a Diversidade Biológica (CDB).
Os especialistas recomendam que os 12 países restantes que completam o habitat natural do tigre sigam o exemplo do Nepal. Esse país do sul da Ásia, com 27 milhões de habitantes, tinha apenas 121 tigres em 2009, mas a intensa gestão de conservação elevou o número para 198 animais selvagens em 2013, segundo a Estratégia e Plano de Ação Nacional para a Biodiversidade 2014-2020.
O Nepal lidera o caminho em numerosas frentes de conservação. Com 20 zonas protegidas, que incluem mais de 34 mil quilômetros quadrados, ou 23% de seu território, ocupa o segundo lugar na Ásia quanto à porcentagem relativa de superfície protegida e é um dos 20 países com maior porcentagem de solo protegido.
Em apenas oito anos, entre 2002 e 2010, o Nepal acrescentou mais de seis mil quilômetros quadrados aos seus territórios protegidos, entre eles 10 parques nacionais, três reservas naturais, uma reserva de caça, seis áreas de conservação e mais de 5.600 hectares de “zonas de contenção” que rodeiam nove de seus parques nacionais.
Esses passos são cruciais para manter os 118 ecossistemas nepaleses e proteger espécies em perigo de extinção, como o rinoceronte unicórnio, cujo número passou de 354 animais em 2006, para 534 em 2011, segundo o CDB. “Grande parte de nosso êxito se deve à estreita colaboração com as comunidades locais que dependem da conservação da biodiversidade para seu sustento”, explicou à IPS Sher Singh Thagunna, funcionário do Departamento de Parques Nacionais e Conservação da Vida Silvestre.
Aqueles como Mahato, para os quais a conservação não é uma opção mas uma forma de vida, se associaram ao Estado em uma série de iniciativas que incluem o combate à caça ilegal. Cerca de 3.500 jovens das comunidades locais participam de atividades contra a caça ilegal nos parques nacionais, encarregados de patrulhar dezenas de milhares de quilômetros quadrados.
A colaboração em matéria de conservação deu grandes passos na última década. Em 2006, o governo cedeu a gestão da Área de Conservação de Kanchenjunga, no leste do Nepal, a um conselho de gestão local, sendo esta a primeira vez que uma área protegida fica em mãos de um comitê local. Segundo a última estratégia nacional de biodiversidade, em 2012 todas as zonas de contenção do país, que incluem 27 distritos e 83 comitês de desenvolvimento rural, eram administradas coletivamente por cerca de 700 mil residentes locais.
Outras iniciativas, como a implantação de programas florestais comunitários, incluíam, em 2013, “18.133 grupos de usuários florestais que representam 2,2 milhões de famílias administrando 1,7 milhão de hectares de florestas”, segundo a mesma estratégia. Isso ajudou a mudar o rumo do desmatamento e a promover o uso sustentável dos recursos florestais. Desde 2004, o Estado criou 20 florestas em colaboração com a população local, distribuídas em 56 mil hectares em dez distritos da região de Terai, um rico cinturão de pântanos e pradarias que fica ao pé da Cordilheira do Himalaia.
Além disso, aplicou um programa de silvicultura em regime de arrendamento em 39 distritos, que combinou a conservação com a redução da pobreza, dando um meio de vida para mais de 7.400 moradores pobres mediante sua participação na gestão sustentável e coleta de produtos florestais selecionados, ao mesmo tempo protegendo mais de 42 mil hectares de terras florestais.
A perda e a degradação das florestas são uma grande preocupação do governo. Um informe oficial sobre a diversidade, realizado em 2014 para o CDB, afirma que 55 espécies de mamíferos e 149 de aves, bem como numerosas variedades de plantas, estão ameaçadas. Como o Nepal abriga 3,2% da flora mundial, a tendência é preocupante, Mas se o governo continuar com a política de participação local na administração de conservação, poderá revertê-la.
“Esses esforços no terreno não seriam possíveis sem uma atitude adequada de “cima para baixo”, afirmam os especialistas. “Há um algo grau de compromisso político nas hierarquias do governo”, disse Ghanashyam Gurung, diretor do programa de conservação do WWF-Nepal. Isso, por sua vez, gerou um forte mecanismo para frear a ameaça da caça ilegal. Envolverde/IPS
(IPS)
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