( Denise Ribeiro, para o Instituto Ethos )
É imensa a mobilização social para que haja avanços na Rio+20, apesar do ceticismo decorrente da ausência de importantes atores econômicos na conferência, como a chanceler alemã Angela Merkel, o primeiro-ministro britânico David Cameron e o presidente americano Barack Obama. A reflexão é de Ricardo Abramovay, professor titular do Departamento de Economia da FEA e do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP) e também pesquisador da Fapesp e do CNPq.
Ele reconhece que a notícia de que líderes globais não virão ao Brasil “ofuscou não só o potencial, mas o que de fato vai acontecer no Rio, em junho de 2012”. Afirma, no entanto, que, apesar dos limites tanto do Rascunho Zero – que combina sugestões, ideias e comentários de 643 propostas enviadas à ONU por países e instituições – como do documento brasileiro produzido para a Rio+20, há dois pontos fundamentais em torno dos quais é provável obter “extraordinário” avanço: “O primeiro refere-se à adoção de metas para o desenvolvimento sustentável, que seriam o equivalente, no plano ambiental, ao que são os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da ONU no plano social. O segundo é o reconhecimento cada vez maior do anacronismo do PIB como forma de se medir a riqueza das sociedades contemporâneas e o esforço para se criarem outros parâmetros”.
Questão contemporânea
O que está em jogo, segundo o pesquisador, não é só a medida da atividade econômica, mas seus objetivos. “A questão é saber se o que a economia oferece para a sociedade corresponde a reais utilidades. Num mundo com 7 bilhões de habitantes e que ruma para 10 bilhões, não há maior desafio social do que o de tornar compatível a satisfação das necessidades humanas com as fronteiras ecossistêmicas, algumas das quais já perigosamente ultrapassadas. A economia verde (a mudança na matriz energética mundial, a ecoeficiência e a exploração sustentável da biodiversidade) é apenas uma das bases dessa compatibilização”, argumenta.
O professor Abramovay tratará desse tema em sua palestra na Conferência Ethos Internacional 2012, que acontece entre os dias 11 e 13 de junho próximos, em São Paulo. “Essa questão não existia há 50 anos, num mundo com 3 bilhões de habitantes. Hoje, é em torno dela que se organizam as principais discussões sobre o que será o século XXI”, diz.
Ele vai discorrer, ainda, sobre a nova visão de crescimento econômico exigida pelo desenvolvimento sustentável. “Existe um amplo consenso de que os mecanismos financeiros que estão na raiz da imensa expansão econômica do século XXI contribuem para uma alocação inadequada de recursos sociais, materiais, energéticos e bióticos”, reflete, contrapondo, em seguida, a necessidade que as sociedades modernas têm de uma vida financeira dinâmica, “capaz de contribuir para o financiamento de atividades importantes para a produção de bem-estar, no respeito aos limites ecossistêmicos”. Por isso, antecipa que a conferência vai procurar trazer à tona “propostas concretas de inovações financeiras capazes de reduzir a distância atual entre o mundo das finanças e as mais importantes necessidades das sociedades contemporâneas”.
Diálogos mobilizadores
Abramovay elogia a forma “criativa”, com que o Instituto Ethos decidiu tomar parte nos Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável – organizados pelo Itamaraty e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) –, mobilizando-se internamente para formular propostas para cada um dos dez itens selecionados pela ONU para discussão. “Essas propostas serão colocadas numa plataforma digital e é importante que todos os envolvidos com a conferência entrem nessa plataforma tanto para votar nas propostas que lhes parecerem as melhores quanto para aprimorar propostas já formuladas”, recomenda.
O professor esclarece que esse processo dos Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável padece de muitos limites, “em razão fundamentalmente de seu ineditismo e de seu lançamento poucas semanas antes da cúpula da ONU”. Mas ressalta a relevância de se abrir um caminho real para a formulação descentralizada de propostas a serem levadas aos chefes de Estado e de governo.
“É a primeira vez que isso acontece numa conferência internacional desse porte. O que o Ethos está fazendo não é simplesmente colocar sugestões, e sim mobilizar seus associados para que participem ativamente desse processo. Isso pode ter uma força imensa”, afirma.
Durante a Conferência Ethos, Ricardo Abramovay vai fazer o pré-lançamento de seu mais recente livro – Muito Além da Economia Verde (editora Planeta Sustentável), que preparou para a Rio+20. “O título pode parecer paradoxal: se estamos tão aquém da economia verde (usando cada vez mais recursos fósseis, aumentando o uso de materiais e de energia e ultrapassando as fronteiras ecossistêmicas), por que propor que se vá além da economia verde?”, pergunta.
A razão fundamental, segundo o autor, é que não é possível manter o mesmo ritmo de crescimento e o mesmo padrão de desigualdade que marca o mundo atual, compensando isso com avanços tecnológicos poupadores de materiais e de energia. “É necessário rever o próprio sentido, os objetivos da vida econômica e sua capacidade de oferecer reais utilidades para a sociedade, no respeito aos limites dos ecossistemas”, explica.
O livro não só mostra como esses limites estão sendo sistematicamente ultrapassados, mas discute duas vias para rever os caminhos atuais. “Por um lado, examina o que está acontecendo com as empresas e as possibilidades de ter objetivos socioambientais construtivos, numa sociedade em que mercados e empresas têm papel decisivo. Por outro, o livro mostra que a sociedade da informação em rede abre possibilidades de cooperação social que ampliam o horizonte de atuação do setor público, das empresas e da sociedade civil”, conclui o professor.
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FONTE : publicado originalmente no site do Instituto Ethos.
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