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quinta-feira, 28 de junho de 2012
Meio ambiente é tema de Congresso de jornalistas, por Nilo Sergio S. Gomes
[EcoDebate] Uma semana após a Rio+20 e a Cúpula dos Povos, são os jornalistas fluminenses que vão debater o meio ambiente. Desta próxima sexta-feira até domingo, será realizado, em Maricá, no Norte Fluminense, o IV Congresso Estadual dos Jornalistas do Rio de Janeiro, cujo tema será Jornalismo, o Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável no Estado do Rio de Janeiro.
Assuntos e problemas sobre este tema não faltam para o debate dos profissionais da imprensa, a começar pela própria cobertura jornalística da última Conferência das Nações Unidas e da Cúpula global dos movimentos sociais, que reuniram milhares de militantes e representantes de governos de todos os continentes, no Rio de Janeiro. Embora tenha se ampliado admiravelmente o número de mídias jornalísticas especializadas em meio ambiente, a cobertura da grande mídia ainda permaneceu pautada muito mais pelos interesses próprios das grandes corporações midiáticas, do que pela necessidade de informar amplamente a sociedade, com pluralidade, diversidade de vozes e opiniões, isenção e ética profissional.
Mas os jornalistas fluminenses tem também uma pauta própria, e que diz respeito ao próprio tema de seu Congresso, que é a respeito do desenvolvimento sustentável no Estado do Rio de Janeiro. Afinal, não é de hoje que o litoral desse estado vem sendo ocupado das formas mais perversas à vida humana, para o atendimento de necessidades econômicas bastante discutíveis. Desde a instalação da terrível e temível usina nuclear de Angra dos Reis, passando pelo Porto de Sepetiba, com seu complexo metal-siderúrgico – que praticamente destruiu e ainda destrói praias, manguezais e uma baía inteira, além de meios de sobrevivência humana –, que se acentuou esta ocupação do litoral fluminense por grandes projetos econômicos, voltados para o mercado externo. Um tipo de produção econômica que tem devastado ecossistemas e biomas naturais, os quais dificilmente a ação humana poderá trazer de volta em algum futuro. E quem ganha, e, sobretudo, lucra e muito, com este tipo de economia?
Pois essa ocupação permanece, inabalável, desenvolvendo-se como uma praga – a praga daninha do capital. Agora mesmo está em curso, e já com inúmeras denúncias de prejuízos ambientais e humanos, a instalação do Porto de Açu, em São João da Barra, um crime ambiental dos mais estúpidos. Famílias de pescadores, modos de vida, belezas naturais estão prestes a serem destruídas em benefício de um projeto comandado pelo empresário de vida fácil, Eike Batista, que herdou do pai toda a pesquisa e a cartografia da riqueza e diversidade mineral do Brasil. O pai, Eliezer Batista, foi dirigente máximo da Companhia de Pesquisas e Recursos Minerais, do Ministério de Minas e Energia, tendo o auge de sua vida profissional como prestador de serviços ao regime militar-burguês que cassou o país e a sociedade por 21 anos.
O projeto, associado a capitais externos, prevê a construção de uma grande usina siderúrgica para exportação de aço para o mercado mundial. Daí a necessidade de destruir a natureza para construir o porto, cuja plataforma se estenderá por cerca de dois quilômetros da praia, mar adentro. E para que o minério de ferro chegue até os alto-fornos da usina, está em construção um mineroduto que vai perfurar o subsolo desde as fontes, em Minas Gerais, até São João da Barra, destruindo todo olho d’água que estiver no caminho, alterando e adulterando ecossistemas.
A própria Maricá, que vai sediar o evento, também enfrenta problemas graves. Após anos de luta pela preservação da Serra da Tiririca, Maricá agora é alvo do capital predador, mas de último tipo: esse mesmo da grife aberta pelo Sr. Eike Batista. Há empresários estrangeiros interessados em montar mais um porto, e provavelmente acoplado a usinas e estaleiros para mercantilizar produtos para o mercado mundial. A “produção suja” fica, agora, para os “países emergentes”.
A bola da vez é a belíssima região da Praia de Jaconé, que, no passado, foi um grande condomínio privado, exclusivo, de megaempresários do porte de Roberto Marinho, Amador Aguiar etc. etc. Uma praia praticamente virgem, encostada a uma grande pedra, que tem do outro lado a praia de Ponta Negra. É essa natureza original do Rio de Janeiro que será agora destruída, caso esse tipo de projeto se desenvolva, o que não é bastante provável, até agora.
São problemas graves, de repercussões que vão atravessar e prejudicar as gerações futuras. Os jornalistas sabem disso. Até porque as provas estão à frente dos olhos. Em Angra dos Reis, até hoje não há decisão sobre o destino dos depósitos residuais do urânio processado pela usina – o refugo – e que permanecem encaixotados em contêineres altamente vedados, mas em uma construção sob a pista da Rodovia Rio-Santos, cujo espaço útil se esgota. Há que se encontrar um novo local para este refugo. Mas quem vai querer lixo atômico em seu subsolo? Por enquanto, até agora, ao que se sabe, ninguém. Em Sepetiba, os movimentos sociais, entidades não-governamentais e mais os próprios moradores da região não baixaram suas bandeiras de luta, pois, são muitas as denúncias de irregularidades e ilegalidades no uso do solo e no tratamento dado aos trabalhadores. Há denúncias, inclusive, de trabalho similar à escravidão por parte de empreiteiras que “tocam” a execução do projeto.
O IV Congresso dos Jornalistas fluminenses, portanto, tem boas pautas para o debate e a reflexão a respeito do desenvolvimento sustentável no Estado. As mídias sociais e os direitos humanos, bem como a situação atual do jornalista brasileiro e o debate sobre o novo marco regulatório da Comunicação, são os outros pontos da pauta do Congresso, que tem a presença confirmada do secretário-executivo da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, Gilney Viana. Inscrições e mais informações podem ser obtidas no portal do Sindicato Estadual dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro – www.sindicatodosjornalistas.org.
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FONTE : Nilo Sergio S. Gomes é Jornalista, pesquisador e professor da ECO-UFRJ.
EcoDebate, 28/06/2012
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