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terça-feira, 13 de março de 2012

O atlas Água Brasil mapeia por município a qualidade da água, o saneamento básico e o seu impacto na saúde


O atlas Água Brasil mapeia por município a qualidade da água, o saneamento básico e o seu impacto na saúde
No relatório, além de uma avaliação abrangente dos recursos hídricos do mundo, há a descrição das principais mudanças, incertezas e riscos que ocorrem no mundo e suas ligações com os recursos hídricos
Um sistema que mapeia por município a qualidade da água, o saneamento básico e o seu impacto na saúde da população, foi desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica (Icict/Fiocruz) inicialmente para auxiliar o Ministério da Saúde (MS) a monitorar a qualidade da água. Agora o sistema está começando a ser usado também por gestores de saneamento e planejamento urbano, bem como pela sociedade civil e cidadãos interessados em conhecer e melhorar o acesso à água, com qualidade e segurança. O atlas Água Brasil – Sistema de Avaliação da Qualidade da Água, Saúde e Saneamento está disponível aqui , com links para o MS e oferece tanto ao gestor em saúde, quanto ao cidadão, dados que podem nortear as políticas públicas para o setor.
O sistema, que é uma parceria entre o Icict/Fiocruz e a Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental (CGVAM), da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da Saúde (MS), é coordenado no instituto pelo pesquisador Christovam Barcellos, que explica: “o Icict assumiu a tarefa de organizar a informação do Ministério, pois havia muitos dados dispersos, porém poucas informações sistematizadas”. A alimentação de dados no Sistema é feita por diversas fontes como o censo demográfico do IBGE, a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB), também realizada pelo IBGE, o Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água (Sisagua), além dos sistemas de informações sobre agravos à saúde do Ministério da Saúde, Sinan, SIH e SIM.
O cruzamento de dados, realizado pelo Icict, é que facilita o diagnóstico e a intervenção governamental sobre a questão da qualidade da água e o saneamento básico. “Vimos que os dados coletados pelas secretarias de Saúde e organizados pelo MS eram insuficientes para monitorar a situação. Assim, consideramos que devem ser observadas também as condições de saneamento e saúde, porque é importante conhecer outros fatores que podem influir sobre a qualidade e segurança do abastecimento de água, como a existência de banheiro e rede de esgoto nos domicílios, a incidência de doenças relacionadas à água, como está sendo feita a proteção dos mananciais etc. E, por isso, as informações se complementam”, explica.
A qualidade da água, sua escassez e a falta ou precariedade do saneamento básico são assuntos discutidos nas assembleias da ONU, que definiu 22 de março como sendo o Dia Mundial da Água. Em todo o planeta, segundo dados das Nações Unidas, estima-se que 1 bilhão de pessoas não tenha acesso a um abastecimento suficiente de água, o que gera problemas não só de saúde, como de saneamento básico.
Atenta ao problema, a ONU lançará mais uma edição – a quarta – de seu Relatório de Desenvolvimento Mundial da Água (da sigla em inglês WWDR4), na abertura do 6º Fórum Mundial da Água, que será realizado em Marselha, na França, de 12 a 17 de março. No relatório, além de uma avaliação abrangente dos recursos hídricos do mundo, há a descrição das principais mudanças, incertezas e riscos que ocorrem no mundo e suas ligações com os recursos hídricos.
O pesquisador Christovam Barcellos aponta alguns problemas graves do Brasil em relação à qualidade da água que consumimos. Ele cita a “coleta e o tratamento de esgoto, que é um dever de casa de governos e companhias de saneamento; a coleta de lixo, pois ainda há bolsões em que isto não é feito, e o próprio destino do lixo”. O pesquisador também alerta para a questão da falta de água – “a maior parte dos municípios brasileiros tem água, mas essa descontinuidade no abastecimento, interfere na higiene das pessoas, o que gera doenças”. Ele também ressalta que o cidadão também deve investir no saneamento básico, fazendo a sua parte “da porta para dentro”, com a construção de instalações sanitárias, como banheiro e rede interna de água e esgoto. Em algumas situações de miséria, os governos podem ajudar estes moradores oferecendo financiamento e assistência técnica.
O tratamento da água também é fundamental para que não haja transmissão de doenças como a amebíase, cólera, dengue, esquistossomose, leptospirose, hepatite A, dentre outras. E, pelo Atlas, é possível encontrar cidades em que a água é distribuída sem tratamento, como é o caso de Cabo Frio, no estado do Rio de Janeiro ou Brejo Santo, no Ceará, ou Poconé, no Mato Grosso, só para citar alguns exemplos. Outro problema é a falta de informação encontrada em algumas áreas do país. Moradores de quase todos os municípios de Santa Catarina, por exemplo, não têm nenhuma informação sobre a qualidade da água em suas cidades. Isto ocorre em vários estados, segundo Barcellos, porque ainda não foi implantado o Programa de Vigilância da Qualidade da Água no município”.
Mesmo com falta de informações de algumas cidades, ainda é possível, segundo Barcellos, ter um mapeamento da situação em todo o país. “O atlas Água Brasil colabora no entendimento da situação da água usada para consumo humano no país, estimulando o debate sobre a qualidade e cobertura dos serviços de saneamento básico e saúde”, afirma. O pesquisador é otimista em relação aos progressos das políticas públicas de água, saneamento básico e saúde, desenvolvidas no Brasil, e o papel dos cidadãos: “Os governos e as companhias de saneamento têm investido para melhorar. Por outro lado, o cidadão também está se conscientizando e construindo banheiros, instalações hidráulicas e de esgoto domiciliar”. Os dados do último censo mostram esta evolução. Mas faltam alguns bolsões sem estes serviços. Ao mesmo tempo, se deve melhorar os serviços existentes, principalmente nas grandes cidades.
Barcellos destaca que a missão do Icict é levar informação de qualidade, devidamente contextualizada, para as pessoas, da maneira mais acessível possível. Para isso, o Icict está investindo em tecnologia de informação. Isto ajuda ao gestor, que pode corrigir um problema de maneira mais eficaz, e a população, que pode reivindicar por melhorias em sua localidade”.

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FONTE : Matéria da Graça Portela, da Agência Fiocruz de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 13/03/2012

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