O aquecimento global já é inevitável, mas os próximos cinco anos decidirão se seu efeito pode ser amortizado ou se descontrolará até níveis que causem “danos irreversíveis”, com consequências potencialmente catastróficas. É a advertência da AIE (Agência Internacional de Energia), órgão dependente da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômicos) encarregado de supervisionar as políticas energéticas dos países membros, segundo o relatório anual sobre o panorama energético mundial apresentado ontem em Londres. Matéria de Ferran Balsells, El País.
O relatório insiste em que o consumo energético atual faz prever uma situação “insustentável” e não haverá recuo a partir de 2017: se não houver “uma mudança de direção absoluta”, os países já expulsarão este ano a mesma quantidade de dióxido de carbono (CO2) que não deveriam ter alcançado até 2035 para conter a mudança climática. A partir desse ano, e durante quase duas décadas, qualquer emissão de CO2 contribuirá para intensificar a mudança climática além dos níveis considerados seguros. “Há tempo, mas a porta está se fechando”, alerta a AIE.
Caso prossiga o ritmo de consumo atual, os níveis de CO2 na atmosfera aumentarão o efeito estufa até disparar a temperatura média global entre 3,5 e 6 graus centígrados, segundo o organismo. O objetivo da ONU registrado nos acordos internacionais consiste em conter o aquecimento global a 2 graus, limite a partir do qual se considera que o planeta sofrerá uma mudança climática irreversível. Quer dizer, perdas graves de biodiversidade, problemas de adaptação para as espécies e risco de inundações em áreas densamente povoadas com o aumento do nível dos oceanos. É um consenso pouco matemático: os cientistas indicam que um aumento de 1,5 grau já implica riscos de climas extremos e aumento perigoso do nível da linha oceânica, mas as cúpulas internacionais sobre o clima não conseguiram um compromisso maior.
Em todo caso, “os países não podem continuar baseando seu consumo em energias poluentes”, destaca o relatório. Este traça um cenário energético em 2035 em que sobressai o escasso impacto das energias renováveis para conter o aquecimento global. Dentro de duas décadas essa fonte energética que representa 13% do consumo mundial passará a ser de 18%, cifra insuficiente para atenuar a mudança climática. O carvão e o petróleo, por sua vez, sofrerão um ligeiro declínio até representar entre 25% e 30% do consumo total.
“Os países devem adotar políticas mais agressivas para promover essas energias não poluentes”, lamenta o organismo da OCDE. Os subsídios governamentais para fomentar o uso das renováveis alcançaram US$ 64 bilhões em 2010, contra US$ 409 bilhões destinados a fomentar energias poluentes como o petróleo e o carvão.
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FONTE : matéria de El País, em UOL Notícias. Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves. EcoDebate, 14/11/2011.
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