O sul do Brasil sempre teve a sensação de calor e abafamento atenuadas pela presença de frentes frias, de origem polar ou geradas no sul da Argentina. Estas frentes frias ao atingirem o sul do país ao se deslocarem em direção ao Equador encontram massas de umidade na atmosfera e se transformam em chuvas. Este fenômeno em geral atenua muito a sensação de calor.
As frentes frias continuam existindo, mas tem tido comportamento bastante alterado. As frentes frias não sofreram alterações de intensidade, mas tem sofrido muita dissipação em direção ao oceano Atlântico ou passado mais rapidamente que antes e não tem gerado as mesmas precipitações pluviométricas que traziam atenuação à sensação de calor e abafamento.
Muitas destas frentes frias passam rapidamente pelo sul do Brasil, mas estacionam e provocam maiores precipitações na região sudeste. Sabemos que isto tem relação com a inconsistência dos padrões climáticos, mas ainda não são conhecidos exatamente todos os fatores intervenientes e o modo com que ocorrem as ações.
Uma das hipóteses encontradas em trabalhos científicos na área, considera a hipótese de que por outro motivo desconhecido, ventos originados no oceano Pacífico estejam atingindo estas frentes frias e levando as mesmas para dissipação no oceano Atlântico ou transportando estas massas de ar frio mais rápido para o sudeste do Brasil onde são responsáveis pela maior precipitação pluviométrica principalmente nos meses quentes.
A hipótese do aquecimento gradual da terra estimulado pelo chamado efeito estufa que consiste na formação de uma camada de gases na atmosfera que não permite a saída das radiações eletromagnéticas de elevado comprimento de onda e baixa freqüência não pode ser responsabilizado por diferenças na sensação de calor e abafamento que sentimos, pois é um fenômeno recente e ainda não foi responsável por alterações em médias de temperatura que fosse superiores a 1 ou 2 graus nos últimos 50 anos.
Mas o aquecimento gradual da terra quando combinado com fatores naturais gera uma inconsistência nos padrões climatológicos cujas conseqüências não podem ainda ser bem determinadas. O certo é que não tem havido repetição previsível dos cenários históricos mensurados pela climatologia.
A sensação gerada pelo aquecimento global e suas inconstâncias climáticas tem sido responsável por madrugadas mais quentes no sul do Brasil e aquecimento mais rápido durante as manhãs. No mais ainda não existem estudos sistemáticos para relacionar a sensação de calor e aquecimento com as inconsistências climáticas geradas por alterações nos processos intempéricos geradas pela acumulação de gases de efeito estufa ou fenômenos geológicos naturais.
Regiões do globo terrestre de clima mais ameno tendem a sentir mais as alterações provocadas pelas inconsistências climáticas porque o regime mais equilibrado é mais sensível e mais vulnerável às alterações quando estas ocorrem. O clima mais equilibrado é mais sensível às alterações que ocorrem.
As observações das temperaturas mínimas e máximas dos meses mais quentes no sul do Brasil tem encontrado variações da ordem de 1 ou 2 graus acima nas médias em no máximo 20% das observações anuais nos últimos 20 anos. E nas temperaturas médias dos dias, a oscilação positiva em geral é inferior a 0,5 grau.
Por tudo isto que se diz que o calor pode ser muito forte, as inconsistências climáticas muito relevantes, mas quer seja aquecimento global, quer seja resfriamento natural como alguns defendem ou mesmo conseqüência das acumulações de gases de efeito estufa na atmosfera, o certo é que as alterações nas médias de temperaturas registradas nos termômetros ainda não são suficientes para diagnosticar inequivocamente as alterações.
Aparentemente um eventual controle pluviométrico pode ser mais revelador que o controle de temperaturas médias. Existem regiões que são sujeitas a maiores precipitações pluviométricas de forma inequívoca e outras que sofrem períodos ainda que cíclicos de seca. Existem municípios ou regiões com precipitações pluviométricas pouco acima do normal e municípios ou regiões com chuvas ou pouco abaixo do normal.
Sobre as precipitações pluviométricas as interpretações ainda são mais discutíveis e sujeitas a dissenso entre os especialistas em climatologia ou demais técnicos de áreas vinculadas. O “El Niño” ou “La Niña” tem grandes influências nesta equação também e em vez de simplificarem as interpretações, tornam ainda mais intrincados e complexos os diagnósticos.
O derretimento de geleiras também parece um fato inequívoco, mas também é sujeito a um grande e complicado conjunto de interpretações, que vão desde o aquecimento em si, até fatores de tamponamento relacionados com as quantidades de dióxido de carbono, que podem estar relacionados com poluição antrópica ou emissão de gases por vulcões em processos geológicos ou naturais.
As inconsistências nos padrões climáticos são muito grandes e ainda incompreensíveis mesmo. Existem hipóteses para explicar um fenômeno aqui ou uma ação diferente ali, mas ainda não há compreensão holística da fenomenologia.
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Dr. Roberto Naime, colunista do EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
EcoDebate, 29/11/2011.
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