Foto: Shutterstock
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Estudo inédito mostra os benefícios econômicos gerados pelos compromissos de ação climática de Estados Unidos, China e União Europeia. O físico Delcio Rodrigues, do Instituto Vitae Civilis, comenta os resultados e relaciona os dados com a crise hídrica e energética no Brasil. Confira.
(Berlim, 31/03/2015) Quase um milhão de novos postos de trabalho até 2030, cerca de 113 mil pessoas salvas de mortes prematuras graças à redução da poluição atmosférica e uma enorme economia de divisas pela redução da demanda por combustíveis fósseis. Estes são alguns dos benefícios gerados pelos compromissos de ação climática estabelecidos pela União Europeia, EUA e China à caminho da COP21, conferência que pretende estabelecer um novo acordo climático global em Paris, em novembro de 2015.
Os dados fazem parte do relatório Assessing the missed benefits of countries’ national contributions, realizado peloNewClimate Institute por encomenda da rede de ONGs Climate Action Network, que analisou os compromissos assumidos até o momento pelas três nações mencionadas. A pesquisa aponta ainda que se estes compromissos fossem ampliados de forma a que estas economias se tornassem 100% movidas por energias renováveis ​​até meados deste século haveria uma criação coletiva de aproximadamente 3 milhões de empregos até 2030. Nesse mesmo período dois milhões de pessoas poderiam ser salvas de mortes prematuras e haveria uma economia de cerca de US$ 520 bilhões em importações de combustíveis fósseis por ano.
Se o conjunto de países do planeta tivessem compromissos climáticos nesta escala máxima, o aquecimento global não ultrapassaria o teto de 2oC, a partir do qual os climatologistas preveem alterações climáticas fora de controle. Neste nível de ação climática também teríamos uma chance de ficarmos abaixo de 1,5oC – o limite de aquecimento defendido por muitas das nações mais vulneráveis.
Para Niklas Höhne, membro do NewClimate Institute e autor do estudo, a análise mostra que os governos que atualmente estão formulando seus planos de ação pelo clima devem considerar os benefícios para seus povos. “Estes benefícios poderiam ser alcançados se as respectivas metas nacionais forem definidas no máximo de ambição de combate às mudanças climáticas”. Já o diretor da Climate Action Network, Mohamed Adow, lembra que mais de 100 países manifestaram seu apoio a uma eliminação progressiva das emissões de combustíveis fósseis. “Não é difícil perceber porquê: a transição para 100% de energia renovável é uma decisão óbvia, já que proporciona economias e pessoas mais saudáveis”.
O relatório Assessing the missed benefits of countries’ national contributions é lançado no dia em que se espera que os países desenvolvidos – e os demais em condições de fazê-lo – apresentem suas metas climáticas à ONU. As metas ofertadas são como os tijolos com os quais será construído um novo acordo sobre as mudanças climáticas a ser assinado em Paris em dezembro de 2015.
O estudo mostra que a Europa economizará por volta de US$ 33 bilhões por ano em importações de combustíveis fósseis como consequência de seu plano de ação climática. Este valor saltaria para US$ 170 bilhões ao ano se a região ampliasse sua oferta. A oferta de metas para o clima feitas pela China salvará cerca de 100 mil vidas por ano. Este número subiria para aproximadamente 1,2 milhões de pessoas por ano se as metas fossem intensificadas ao máximo.
Os olhos agora estarão voltados para outras grandes economias, como Japão, Austrália, Canadá e Brasil, cujos governos estão perdendo o primeiro prazo de 31/3 para entregarem suas ofertas de compromissos de ação pelo clima. No caso brasileiro, o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) está coordenando uma série de consultas com a sociedade para determinar os parâmetros a serem usados pelo Brasil na definição de suas metas, as quais não tem data ainda para ser divulgadas.
“O Brasil está frente a uma crise de escassez hídrica e energética, ambas influenciadas pelo aumento da variabilidade climática registrado nos últimos anos”, lembra o físico Delcio Rodrigues, do Instituto Vitae Civilis. “Neste contexto, não há outro caminho para o pais se não o de abraçar a oportunidade da discussão do novo acordo climático e assumir metas ambiciosas, ousadas até, de mitigação das mudanças climáticas.”
Delcio chama a atenção para o fato de que as evidências se acumulam sobre os benefícios múltiplos que a ação contra as mudanças climáticas proporciona. “As populações vão questionar cada vez mais as decisões dos governos que não conseguem acelerar a transição dos combustíveis fósseis para energias renováveis.” (Climate Action Network/ #Envolverde)
Para acessar o relatório completo, um resumo das conclusões e um infográfico, clique aqui.
(Climate Action Network)