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segunda-feira, 27 de julho de 2009

A terapia dos terraços verdes


FOTO : O terraço verde do Hospital Belisario Dominguez pode ser usado por funcionários e pacientes.
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Um hospital, um jardim de infância e um escritório do governo da capital do México experimentaram, nos últimos dois anos, a instalação de terraços verdes. Agora, trabalhadores e usuários gozam dos benefícios. Há oito meses, foi instalado o primeiro telhado verde no Hospital Belisario Dominguez, em Iztapalapa, município metropolitano da capital mexicana. Com 1,8 milhão de habitantes, a área é a mais densamente povoada do país. Neste hospital de três andares, são dois terraços verdes: o maior fica no primeiro e o menor no terceiro. “Ter contato direto ou visual com uma área verde ajuda muito na recuperação dos pacientes. No Japão, quase todo hospital tem um teto com vegetação”, explicou ao Terramérica Tania Muller, responsável pelo projeto.

Segundo o diretor do Hospital, Osvaldo González La Riviere, “os funcionários desfrutam do espaço. No começo era usado pelos fumantes, mas pudemos controlar isso. Alguns pacientes souberam do terraço e pediram para dar um passeio por ele, com ajuda de seus familiares”. A instalação exige um impermeabilizante que contém um inibidor de raízes, em seguida um material de polietileno chamado dren, para evitar que a água escorra, e um produto geotêxtil que impede que as partículas finas do substrato cheguem ao teto. Finalmente, é colocado o substrato, mistura de materiais pétreos vulcânicos, mais leves do que a terra, e matéria orgânica para nutrir as plantas, que são plantadas em seguida. Não é necessário regá-las.

Uma seção do terraço verde do Hospital fica junto à área de ginecologia e obstetrícia. Para as mulheres que acabam de dar à luz, “é mais agradável ir à janela e ver a natureza, em lugar de um vendedor ambulante ou um caminhão soltando fumaça”, disse a subdiretora médica, Evangelina Sandoval. Além disso, “trabalhar com pacientes e enfrentar a morte causa estresse. Agora, em lugar de utilizar a saída habitual, muitos funcionários usam as saídas de emergência para passar pelo terraço”, acrescentou. No local trabalham mil pessoas.

O telhado verde mede mil metros quadrados, um décimo da superfície do Hospital. De solo de cimento passou a área verde com abelhas, borboletas e pássaros, contrastando com o denso tráfego de veículos e o concreto das redondezas. Foram plantadas três espécies nativas do Vale do México. “Todas são sedums, do gênero das crasuláceas”, explicou Müller, diretora de Reflorestamento Urbano, Parques e Ciclovias da cidade do México. O calor em “um terraço normal pode chegar aos 80 graus, contribuindo para o efeito ilha de calor (o aumento da temperatura em centros urbanos com poucas áreas verdes e muita pavimentação), ainda mais em uma cidade tão urbanizada com esta”, acrescentou.

Com a vegetação, a temperatura no terraço se mantém em 25 graus, muda o microclima, a umidade é devolvida ao ambiente e são retidos o pó e as partículas suspensas que afetam as vias respiratórias, disse a diretora. Além do mais, não é preciso impermeabilizar de novo o teto antes de 80 anos. Por isso, a Secretaria de Saúde deu luz verde para que o governo do Distrito Federal coloque terraços verdes nos 28 hospitais da cidade. Isto “é viável, mas precisamos de recursos. No mundo é preciso reajustar orçamentos, e é o que estamos avaliando”, afirmou Muller.

Semear um terraço custa US$ 95 por metro quadrado, tanto no México como na Europa ou nos Estados Unidos. Os resultados positivos são evidentes. É o caso do Centro de Desenvolvimento Infantil (Cendi), localizado no centro histórico, que atende 400 filhos de funcionárias do metrô da cidade. “Nas ruas próximas se concentra 50% da produção de frangos da cidade, o que causa forte contaminação do solo e do ar. Além disso, há muito tráfego e um alto índice de delitos”, explicou sua diretora, Nadia Tapia.

Ainda assim, deste jardim de infância surgem muitos dos modernos programas que mais tarde serão implementados no país. Por isso, em meados de 2008, o governo municipal inaugurou neste edifício de dois andares um telhado verde de 1.190 metros quadrados. Desde então, ao completarem dois anos, as crianças sobem para conhecê-lo. Os maiores, entre três e seis anos, trabalham em uma pequena horta, onde fazem compostagem (adubo orgânico) e cultivam tomate, batata, salsa, maçã e cactos. As crianças “relaxam, se distraem e ficam mais tranquilas e mais cooperativas no momento de passar à área pedagógica, aumentando sua capacidade de aprendizado”, disse ao Terramérica a pediatra do Cendi, Araceli Becerra.

A diretora explicou que “estas crianças são filhas de mães com baixa renda, 75% delas vivem em apartamentos muito pequenos e, devido à insegurança, não podem ir aos parques”. Ao conhecerem o terraço “se emocionam e querem tocar e observar”, contou a professora Rosa Muñoz. Segundo Muller, os terraços verdes são uma “alternativa de desenvolvimento urbano sustentável, sobretudo em uma cidade como esta, onde já não há lugar para fazer um parque ao nível do chão”.

Nas cidades da América Latina, a média de áreas verdes é de 3,5 metros quadrados por pessoa, quando a Organização Mundial da Saúde recomenda entre nove e 12 metros quadrados. “Na cidade do México teríamos nove milhões de metros quadrados verdes a mais se colocássemos um metro quadrado verde em cada telhado”, disse Alberto Fabela, responsável pelo terraço da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduvi). Desde abril de 2008, foram destinados para áreas verdes 900 metros quadrados do terraço deste prédio público de seis andares. A técnica usada é a hidroponia, ou cultivo em água.

Até agora, foram produzidas cerca de 21 mil plantas ornamentais, doadas às localidades de Coyoacán e Azcapotzalco, onde enfeitam jardins e eixos centrais de bulevares. Gerânio, cravo de defunto, kalanchoe, petúnia, todas elas são espécies “fortes, que resistem ao estresse de uma área com carros, ruídos, fumaça, gente”, disse Fabela. As plantas são produzidas com a ajuda dos 800 empregados da Seduvi, que têm a opção de dedicar uma hora semanal para manter, plantar e transportar. “Ensinamos a retirar folhas secas, colocar sementes. Obviamente, é um tipo de terapia. Damos uma hora a eles, mas o tempo passa rápido. Os mais receptivos são os jovens de 18 a 25 anos e as mulheres com mais idade”, disse Fabela.

O governo da capital espera que os mais de oito mil metros quadrados de terraços verdes instalados até agora em prédios públicos se convertam em um exemplo a ser seguido pelos empresários. No momento, estuda exigir das empresas que solicitem uma autorização de construção, para que entre 10% e 20% dos telhados sejam verdes, em troca de benefícios fiscais.
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FONTE : Verônica Díaz Favela - Este artigo é parte de uma série produzida pela IPS (Inter Press Service) e pela IFEJ (Federação Internacional de Jornalistas Ambientais) para a Aliança de Comunicadores para o Desenvolvimento Sustentável (http://www.complusalliance.org).
Crédito da imagem: Verônica Díaz Favela/IPS

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