Chinês dá exemplo na luta pelo meio ambiente

Há dois anos Jiang Xiquan vendeu seu restaurante e passou a viajar pela China em uma nada discreta motoneta no formato do planeta Terra com uma única missão: ajudar seus conterrâneos a cuidarem melhor do meio ambiente.

Tudo começou quando Jiang viu na televisão a notícia da morte de uma tartaruga de mais de 100 anos por ter ingerido sacolas plásticas. Desde então foram milhares de quilômetros, atravessando quase metade da China, conscientizando as pessoas sobre os danos que elas causam à natureza e à si mesmas.

Sem nenhuma privacidade e enfrentando ora calor, ora frio, Jiang passa seus dias viajando de cidade em cidade, onde, tocando tambor, gritando ou apenas conversando, tenta passar sua mensagem. “Quando eu faço minhas refeições, as pessoas olham, quando eu durmo, as pessoas olham. É difícil viver na motoneta, tanto no verão quanto no inverno”.

Quando perguntado sobre o porquê de tamanho sacrifício, Jiang responde que apenas quer fazer o mundo um pouco melhor. “Em todas as cidades eu visito as escolas, porque as crianças vão contar para os pais em casa. Espero estar sensibilizando alguém para ajudar o meio ambiente”.

Mas ao contrário de apoio e incentivo, o normal é ele ser criticado, chamado de lunático ou maluco. A própria família de Jiang preferiria que ele estivesse ganhando dinheiro e casado. “Eu também quero ter uma esposa, ter uma vida normal. Mas com todo o problema ambiental eu não vejo como simplesmente ficar parado e deixar de lado. Algumas pessoas são como eu, outras não.”

Em alguns locais, como na frente de fábricas, é até comum Jiang ser agredido por trabalhadores, que de alguma forma acreditam que possam perder seus empregos por causa dele. Jiang tenta brincar com a situação, ao dizer sorridente que “se me matarem, não poderei seguir na luta pelo meio ambiente”.

Ajuda

Há algum tempo o dinheiro da venda do restaurante acabou, e Jiang sobrevive engraxando sapatos. “Às vezes acho que não vou conseguir continuar. Quando ainda tinha o dinheiro do restaurante era melhor. Hoje me alimento muito mal”, revela.

Depois que sua história foi divulgada na internet por um site de jornalismo colaborativo chamado Metropolis, foi criada uma página para ajudá-lo financeiramente.

“Quando falei para Jiang das doações, ele ficou mudo por 20 segundos. No momento ele tinha apenas o equivalente a € 0,50 nos bolsos”, conta o cineasta Bas Roeterink, que atuou como correspondente do site Metropolis e fez a reportagem sobre o chinês.

Com o dinheiro arrecadado, Jiang pretende trocar a motoneta, que de tão velha precisa de reparos constantes, por um modelo novo e ecologicamente correto. Antes das doações, ele já havia vendido seu computador e, com o dinheiro, instalou um sistema de som na motoneta, para divulgar e até cantar suas idéias sobre o meio ambiente.

“Nos próximos dois anos eu pretendo completar todo o território da China. Depois, se eu conseguir dinheiro, queria viajar pelo mundo”, conta Jiang.

Desapontamento

A decepção do chinês com as pessoas de seu país é visível. “Algumas vezes eu me sinto solitário, e penso no significado disso que estou fazendo. Acho que não vou conseguir continuar e dói quando as pessoas simplesmente não entendem o que eu pretendo”.

Um sonho recorrente revelado pelo chinês, em talvez um dos momentos mais tocantes da reportagem, de certa forma não deixa de ser uma metáfora para o desafio que ele decidiu encarar. “No sonho, eu dirijo a minha motoneta para a água, e depois, por mais que eu lute, não consigo sair do lugar...”

Por isso, a expectativa agora é que mais internautas se comovam com sua história e o ajudem a continuar com o trabalho, uma aventura que exige muito esforço e vontade.
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Fonte: Fabiano Ávila, do CarbonoBras (Envolverde/CarbonoBrasil)