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segunda-feira, 6 de março de 2017

Arroz e feijão também opções em sistemas de produção agroecológicos


Embrapa

Parcela com feijão na Embrapa em Goiás em sistema agroecológico
Parcela com feijão na Embrapa em Goiás em sistema agroecológico – Foto: Sebastião Araújo

Duas das principais culturas do país nas pequenas propriedades e presenças assíduas na mesa dos brasileiros, o arroz e o feijão são também opções em sistemas de produção agroecológicos, a exemplo de outras culturas, em especial, hortaliças.
Em Goiás, a inserção do cereal e da leguminosa em sistemas agroecológicos, ou seja, dentro da perspectiva da diversificação de cultivos, da redução da dependência de insumos externos às propriedades rurais, da manutenção dos recursos naturais e do desenvolvimento local sustentável, já mostra ser favorável para transformar a realidade dos agricultores familiares, mas ainda há muito a ser feito.
Esse trabalho vem sendo aprimorado pela Embrapa, por meio de atividades de pesquisa, a fim de demonstrar alternativas para a inserção do arroz e do feijão nos sistemas agroecológicos. O foco do trabalho no momento se concentra, principalmente, em corredores agroecológicos e técnicas para uso de fertilizantes orgânicos. No entanto, o melhoramento de feijão nesses sistemas e a busca de materiais crioulos são trabalhos com grande potencial de impacto nos próximos anos, além do controle biológico de doenças do arroz.
Os corredores agroecológicos são uma estratégia de produção que combina cultivos alimentares intercalados e alternados com adubos verdes e plantas de cobertura do solo, dentre outros tipos de espécies vegetais. No caso da Embrapa em Goiás, o trabalho é feito com o estabelecimento de parcelas de arroz, feijão, crotalária e guandu. Como se trata de uma proposta de agricultura biodiversa, existe ainda a possibilidade de diferentes outras rotações como milho, mandioca, mucuna e milheto, por exemplo.
“A ideia dos corredores agroecológicos é viabilizar o equilíbrio ecológico de determinada área, conforme os interesses e possibilidades do agricultor. Tratos culturais e manejo poderão variar, mas a diversidade é buscada para facilitar o controle biológico de pragas e doenças, assim como o controle de plantas daninhas. A intenção é imitar o que existe na natureza”, afirmou o pesquisador responsável pelo trabalho, Agostinho Didonet, da Embrapa.
Além desses pontos destacados, um aspecto fundamental é a conservação de recursos naturais, principalmente, o solo. Todo manejo realizado com a inserção de adubos verdes está também voltado para o enriquecimento do solo com matéria orgânica e para o favorecimento da retenção de água, da reciclagem de nutrientes e do condicionamento químico, físico e biológico do solo.
Esse trabalho integra o projeto de pesquisa: “Corredores agroecológicos como estratégias para produção de alimentos e sementes, focados no manejo da agrobiodiversidade e sustentabilidade de pequenas propriedades familiares – Agrobio II”, coordenado pela Embrapa Cerrados, que abrange pequenas propriedades nos municípios de Catalão, Silvânia e Pirenópolis (GO).
Resíduo vira adubo
Complementar à estratégia de usar plantas que funcionam como adubos, os adubos verdes, para o manejo agroecológico do solo, a Embrapa vem estudando a viabilidade e o efeito de fertilizantes alternativos. O objetivo é ter opções que sejam de baixo custo e que proporcionem o reaproveitamento de resíduos já existentes nas propriedades, a fim de enriquecer o solo com nutrientes para as plantas crescerem e produzirem.
A pesquisadora da Embrapa, Flávia Alcântara, realiza estudos com fertilizantes orgânicos junto a propriedades familiares da região de Orizona (GO), buscando aproveitar como adubo resíduos advindos da pecuária leiteira, cultivos de grãos, hortaliças e fruteiras.
“A intenção é utilizarmos matérias primas locais, de preferência presentes nas próprias propriedades. A partir disso, avaliamos formulações e métodos de produção de composto orgânico. Em Goiás, especificamente, materiais muito comuns são esterco bovino, folhas de bananeira e capins diversos. Geralmente, utilizamos 25% de resíduos de origem animal para 75% de resíduos vegetais. As formulações também podem ser enriquecias com fontes minerais de fósforo, não sintéticas, como o termofosfato magnesiano, ou com pós de rocha”, disse Flávia.
Ela destacou ainda um dos diferenciais desse trabalho que é a participação dos agricultores. “Eles são experimentadores e, ao mesmo tempo, agentes de multiplicação dos métodos de produção e uso dos fertilizantes, capacitando outras pessoas em suas próprias propriedades, que se transformam em pólos irradiadores do conhecimento”, afirmou a pesquisadora.
Lourenço Sebastião de Mesquita, da Cooperativa de Agricultores Familiares de Buritizinho, município de Orizona, é uma dessas pessoas que participa do trabalho de pesquisa com fertilizantes orgânicos e acredita nos benefícios. “Eu creio que para o pequeno produtor seja uma das alternativas mais viáveis, porque há o aproveitamento de resíduos que existem na propriedade e, com isso, pode-se reduzir custos e melhorar a produção”, considerou Lourenço. As atividades com fertilizantes orgânicos das quais a pesquisadora Flávia coordena fazem parte do Projeto Compostar.
Mais de 400 participantes
No dia 17 de fevereiro, a Fazendinha Agroecológica da Embrapa, em Santo Antônio de Goiás (GO), recebeu mais de 400 pessoas interessadas em ver de perto os trabalhos com o plantio de diferentes espécies, buscando a segurança alimentar, o manejo de pragas e doenças; e a fertilidade e conservação de solo. Houve um dia de campo abordando os corredores agroecológicos, os fertilizantes orgânicos, e as variedades tradicionais e crioulas de arroz e de feijão para comunidades de agricultores.
Na ocasião, foram inaugurados o centro de treinamento da Fazendinha Agroecológica e a unidade de produção de fertilizantes orgânicos. Todas essas instalações foram conseguidas, a partir de emenda parlamentar aprovada pela senadora Lúcia Vânia que compareceu no dia de campo. Em pronunciamento, a senadora considerou que parte de seu trabalho é obter recursos para o desenvolvimento da pesquisa e da transferência de tecnologia no país e no Estado de Goiás, que tem vocação para o campo.
Por Rodrigo Peixoto, Embrapa Arroz e Feijão
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 06/03/2017

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