[EcoDebate] O perfil de solo em zonas urbanas tem suas características geoquímicas influenciadas por atuações antrópicas e, consequentemente, pode se constituir em importantes marcadores de condições ambientais.
Diversos metais pesados e contaminantes orgânicos podem ser incorporados ao solo urbano como fertilizantes e pesticidas, utilizados no cultivo de terras para hortas, jardins particulares e públicos; emissões de veículos a motor, atividades industriais, lixos e águas servidas das fossas e sumidouros.
Albanese et al. (2008) relatam que as concentrações de metais pesados geralmente diminuem ao se afastar das principais redes de estradas. Essa tendência, segundo os autores, pode ser explicada pela forte dependência de contaminantes no uso de veículos a motor, especialmente Pb em combustíveis; Zn e Cd nos desgastes de pneus; Sb em pastilhas de freios e elementos do grupo da platina (EGP) em conversores e sistemas de escape.
Tem sido demonstrado que conversores catalíticos são responsáveis pela liberação de quantidades consideráveis de Pd e Pt para o ambiente urbano (Cicchella et al., 2003; Schafer & Puchelt, 1998) e que podem causar um aumento na incidência de alergias e problemas relacionados no sistema respiratório (Albanese et al., 2008).
O perfil de solo e as águas superficiais e subterrâneas são os principais receptores dos metais pesados e, assim, é de fundamental importância estudar a distribuição, dispersão, concentração e os processos de interação dos elementos potencialmente tóxicos, como As, Pb, Zn, Ni, Hg, Cu, Cd, Cr e EGP. O mapeamento geoquímico do solo e das águas permitem, entre outros produtos, definir zonas anômalas de um elemento ou de um conjunto de metais, identificar os agentes causadores e elaborar métodos de remediação.
Enquanto em ambientes sem influência de atividade humana, a geoquímica de solo se relaciona quase que exclusivamente a fatores geogênicos, em zonas urbanas, os parâmetros geológicos se somam a diversificados agentes antropogênicos, produzindo um quadro geoquímico muito mais complexo.
Essa complexidade deve obrigatoriamente ser considerada no planejamento da amostragem para produção do mapa geoquímico urbano. A distribuição dos pontos de coleta de solo deve contemplar tanto as principais unidades geológicas e regolíticas presentes (fatores geogênicos), bem como deve procurar caracterizar a influência das atividades humanas potencialmente impactantes ao meio ambiente (fatores antropogênicos). O programa de amostragem resultante deve, normalmente, ter uma densidade amostral relativamente alta. Ressalta-se que além das amostras de solo é muito importante a coleta de águas superficiais de rios e de sedimentos de corrente.
Um programa de amostragem e análise química representativo fornece informações que, após um tratamento estatístico e uma interpretação dos dados, resultam em mapas e relatórios geoquímicos que devem retratar, com consistência, o cenário ambiental urbano.
Referências Bibliográficas
Albanese, S.; Cicchella, D.; Lima, A. 2008. Urban Geochemical Mapping. Environmental Geochemistry. Elsevier B.V. 153-174.
Cicchella, D., De Vivo, B., and Lima, A. (2003). Palladium and platinum concentration in soils from the Napoli metropolitan area, Italy: Possible effects of catalytic exhausts. Sci. Total Environ. 308 (1–3), 121–131.
Schafer, J., and Puchelt, H. (1998). Platinum-group-metals (PGM) emitted from automobile catalytic converters and their distribution in roadside soils. J. Geochem. Explor. 64, 307–314.
Julho – 2015.
Carlos Augusto de Medeiros Filho, geoquímico, graduado na faculdade de geologia da UFRN e com mestrado na UFPA. Trabalha há mais de 30 anos em Pesquisa Mineral.
in EcoDebate, 27/07/2015
"Mapa Geoquímico Urbano – Ferramenta de Controle Ambiental, artigo de Carlos Augusto de Medeiros Filho," in Portal EcoDebate, 27/07/2015,http://www.ecodebate.com.br/2015/07/27/mapa-geoquimico-urbano-ferramenta-de-controle-ambiental-artigo-de-carlos-augusto-de-medeiros-filho/.
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