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segunda-feira, 27 de julho de 2015

Grexit e Laudato Si’: Nós todos somos gregos, artigo de Johannes Gierse


opinião

[EcoDebate] Meu ex-professor de Direito Canônico, hoje bispo diocesano, dizia na sala de aula quando se referia a um problemão, um descaso ou algo absurdo ocorrido numa determinada paróquia ou num lugar qualquer: “Lá na Grécia aconteceu o seguinte…” E assim, para nós estudantes “a Grécia” se tornou sinônimo de tudo o que não presta.
Parece que o oráculo do professor se cumpriu outra vez nestes dias. Não quero dizer com isso que o povo grego não preste; pelo contrário, sabemos que a Grécia é um dos berços culturais, filosóficos, políticos e científicos da humanidade. O que não presta é a situação financeira caótica que leva o país a agonizar entre a vida e a morte, entre o Grexit (a saída da Zona do Euro…e da UE) e o fica e paga.
Eis o tamanho do caos que sufoca os gregos: A dívida que o Estado está devendo aos credores chegou ao extremo, viabilizando a sua falência imanente. Até fevereiro de 2015 a “bola de neve” das dívidas alcançou 315 bilhões de Euros. Para se ter uma ideia: cada  um dos 11 milhões gregos – do recém-nascido ao mais idoso – está devendo 29.000 Euros (90.000 Reais). Se a mesma dívida fosse dividida entre os brasileiros, cada um deveria 5.000 Reais. O dia 30 de junho é o prazo limite para a Grécia pagar ou devolver 7 bilhões de Euros, equivalente a 650 Euros por cada habitante grego.
Não posso opinar se esta situação foi causada principalmente por culpa da incompetência e dos descuidados políticos, da corrupção (que não é privilégio grego) e do estilo de vida insustentável dos helenos, ou se eles também são vítimas de um sistema financeiro injusto. A verdade é que o governo grego pediu emprestado este montão, gastou e agora os credores reivindicam a devolução.
O salvamento do Estado espera-se conseguir com o aumento dos impostos (na gastronomia de 13 a 23%) e cortes de gastos. Naturalmente, o povo resmunga por apertar o cinto outra vez. “Ninguém quer tudo isso, mas não tem outro jeito“, comentou um jornalista alemão. Quem viveu uma vez esbanjando o dinheiro não gosta de ouvir cobranças de redução e sacrifícios. E como sempre, a classe baixa que já tem pouco é que mais sofre com os cortes.
Agora, é fácil enxergar o cisco no olho da Grécia, difícil é enxergar a trave no próprio olho! O caos financeiro do povo grego e o temido Grexit tem tudo a ver com a temática da Laudato Si’ que Papa Francisco publicou coincidentemente nestes dias abordando a questão do desastre ecológico. Nós todos somos gregos! Nós todos vivemos acima dos limites. Há anos, os ambientalistas alertam a humanidade por consumir 30% acima da capacidade de reposição da natureza. Nós gastamos a vontade e agora nos damos conta de nossas dívidas. Mas não tem outro jeito! Da mesma forma como os temidos países credores não abrem a mão dizendo “a Grécia tem que pagar!”, assim também a natureza exige que paguemos a conta da nossa má administração dos recursos naturais; senão, as mudanças climáticas vão cobrar juros altíssimos. Não tem outro jeito. A verdade sabida por todos nós é essa: diminuir, reduzir, economizar, ou como diz irmão Francisco: conversão ecológica (Laudato Si’, n. 216-221) e um outro estilo de vida (Laudato Si’, n. 201-208).
A Grécia, tão bela e por isso interessante para os turistas, é um país quase que insignificante no cenário europeu e mais ainda no cenário mundial.
Se ela afundar, poucos vão sentir ou se importar. Mas quando o nosso planeta, nossa casa comum, afundar a passos largos, aí a coisa é totalmente outra. Não sei se o meu professor ainda costuma dizer “lá na Grécia”… Eu diria: “Nós todos somos gregos!”
Johannes Gierse, frade e menor
in EcoDebate, 27/07/2015
"Grexit e Laudato Si’: Nós todos somos gregos, artigo de Johannes Gierse," in Portal EcoDebate, 27/07/2015, http://www.ecodebate.com.br/2015/07/27/grexit-e-laudato-si-nos-todos-somos-gregos-artigo-de-johannes-gierse/.

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