Professora da Face coordena trabalho de alimentação do repositório com dados do Brasil
Acaba de ser lançada uma plataforma internacional de mapeamento das políticas públicas que os diferentes países têm empreendido no combate à pandemia do novo coronavírus. Coordenada por Sebastián Peña, pesquisador do Instituto Nacional de Saúde e Bem-Estar (THL), da Finlândia, a PoliMap é resultado da iniciativa de mais de 50 pesquisadores de vários países.
A professora Fernanda Cimini, da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, está coordenando a inserção das informações relativas ao Brasil no banco de dados da plataforma. Com o auxílio de estudantes da universidade, ela já conseguiu mapear e inserir as principais medidas tomadas até o momento pelo governo federal.
“A PoliMap é uma plataforma aberta, transnacional e multidisciplinar. Assim, toda contribuição de pesquisadores brasileiros no sentido de revisar ou de colaborar com o que a gente está colocando nela é bem-vinda, especialmente se essa colaboração puder cobrir algo que ainda esteja no campo cego da minha equipe”, explica Fernanda.
Além de Fernanda Cimini, estão trabalhando na plataforma mais de 50 pesquisadores de países como África do Sul, Arábia Saudita, Argélia, Bolívia, Canadá, Chile, Egito, El Salvador, Espanha, Estados Unidos, Filipinas, Finlândia, Irã, México, Nova Zelândia, Peru, Reino Unido, Tailândia, Tanzânia, Uganda, Vietnã e Zâmbia. Os dados inseridos na plataforma são atualizados diariamente e podem ser consultados no site ou baixados em Excel por qualquer interessado, a qualquer momento.
O repositório reúne atualmente bancos de dados relativos às políticas adotadas por 15 países – sobretudo das Américas, já que a maior parte dos pesquisadores inicialmente envolvidos no projeto é oriunda da região. A expectativa, contudo, é que, já nas próximas semanas, dobre o número de nações inseridas nesse banco de dados, com a adesão de outros pesquisadores ao trabalho.
Segundo Fernanda Cimini, essa taxonomia é o principal diferencial do trabalho desenvolvido pela plataforma PoliMap. “Há várias iniciativas de mapeamento em curso no Brasil e em outros países, mas o que chama a atenção nesse observatório é o grau de detalhamento da taxonomia que está sendo proposta. É um trabalho completo, que vai possibilitar a composição de um banco de dados muito útil para as futuras análises de quem estuda política comparada”, diz.
A taxonomia descrita no manuscrito de artigo considera as respostas oferecidas pelas nações à pandemia com base em quatro grandes domínios de ação: as intervenções com foco na redução da transmissão viral, as intervenções centradas no aumento da capacidade dos sistemas de saúde, as intervenções focalizadas na mitigação das consequências negativas que podem advir da pandemia (e das próprias ações realizadas no seu combate) e as intervenções relacionadas à gestão da crise, considerando o compartilhamento de informações, a redefinição de responsabilidades entre os órgãos públicos, a alocação de recursos e a delegação de poder.
Esses quatro domínios são nomeados no artigo como Estratégias de achatamento da curva, Estratégias de elevação da linha, Estratégias de mitigação (que dizem respeito às consequências da pandemia não apenas no campo da saúde, mas também na educação, na economia e no acesso a água e a alimentos) e Estratégias de governança, que dizem respeito à “capacidade institucional de responder de forma eficaz e eficiente à pandemia”.
A expectativa dos pesquisadores é que a metodologia e os dados reunidos na plataforma sirvam àqueles “que estão tomando decisões em nível nacional, regional ou local e também para aqueles que desejam avaliar o impacto das políticas contra o Covid-19 na saúde, na economia e no bem-estar social”. A ideia, defendem eles, é que essa taxonomia seja usada “para mapear, monitorar e comparar sistematicamente as respostas políticas dos países, ao longo do tempo, em conjunto com os dados de morbidade [percentual de incidência da doença], mortalidade e demografia, de forma que se possa obter uma visão ampla dos efeitos sociais da pandemia de Covid-19”.
Não basta achatar a curva
No artigo, os pesquisadores lembram que “as respostas políticas de enfrentamento ao vírus têm variado bastante entre os países – da testagem em massa e do isolamento social em larga escala [os chamados lockdowns] a abordagens mais voluntárias para o distanciamento social”, mas que estratégias como essas têm foco apenas no primeiro dos quatro domínios de ação sugeridos por sua taxonomia, isto é, estão baseadas no objetivo de reduzir a transmissão do vírus, o chamado “achatamento da curva”.
No artigo, os pesquisadores lembram que “as respostas políticas de enfrentamento ao vírus têm variado bastante entre os países – da testagem em massa e do isolamento social em larga escala [os chamados lockdowns] a abordagens mais voluntárias para o distanciamento social”, mas que estratégias como essas têm foco apenas no primeiro dos quatro domínios de ação sugeridos por sua taxonomia, isto é, estão baseadas no objetivo de reduzir a transmissão do vírus, o chamado “achatamento da curva”.
Nesse sentido, o que o grupo defende é que as respostas políticas à pandemia não podem ficar circunscritas apenas à tentativa de reduzir a propagação viral. Ao contrário, elas devem focar, também, nos outros três domínios de ação listados, ou seja, em estratégias de “elevação da linha” (aumento da capacidade dos sistemas de saúde), em estratégias de mitigação dos efeitos secundários da pandemia e em estratégias de governança destinadas ao aprimoramento da gestão administrativa que os governos fazem da crise.
“O que nós estamos argumentando é que é preciso mudar o foco da redução da transmissão viral para a redução do impacto negativo da pandemia na saúde e no bem-estar da população”, escrevem os pesquisadores. Eles defendem, na esteira desse argumento, que é preciso, então, desenvolver “políticas destinadas a aumentar a capacidade de resposta do sistema de saúde, a mitigar as consequências negativas da epidemia (e os possíveis efeitos adversos das intervenções que têm sido realizadas para combater o surto) e incrementar a capacidade governamental de resposta à crise”.
Envolvimento da UFMGParticiparam diretamente da primeira etapa do trabalho, em que são mapeadas as políticas adotadas no plano federal, a doutoranda em Economia Nayara Abreu Julião, a mestranda em economia Aline de Souza, o graduado em relações econômicas internacionais pela UFMG Guilherme Rodrigues de Figueiredo e os graduandos, do mesmo curso, Beatriz Ramos Duarte Baeta Neves e Odilon Amaral. Além disso, vários outros alunos dos cursos de relações econômicas internacionais e de ciências econômicas colaboraram indiretamente no levantamento de políticas.
Para a etapa de inclusão das medidas implantadas pelos estados, a expectativa de Fernanda Cimini é que novos pesquisadores possam se juntar a esse grupo. Todo o trabalho é realizado de forma voluntária.
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