por Lucia Wei He, He Mu, do Diálogo Chino –
O aumento dos produtos de carne de origem vegetal poderia reduzir as pressões sobre a terra e a água
Ming Court, um restaurante premiado com uma estrela Michelin em Hong Kong, célebre por sua autêntica cozinha cantonesa, surpreendeu no ano passado ao servir uma versão especial do porco agridoce, um prato tradicional do sul da China.
Para fazer o prato, o chef Li Yuet Faat trocou a carne suína autêntica por Omnipork, um substituto de carne feito com ervilhas, soja e proteína de cogumelos. Criado por Right Treat, com sede em Hong Kong, o Omnipork oferece uma alternativa mais saudável para os consumidores e, ao mesmo tempo, reduz drasticamente o impacto ambiental procedente do consumo de carne.
Em uma carta na qual explica a razão de lançar um produto que imita o uso da carne de porco na cozinha asiática, o fundador do Right Treat, David Yeung, explicou: “Na China, 65% do consumo de carne é suína. São 1,3 bilhão de seres humanos na China para somente 700 milhões de porcos”.
A grandeza da indústria suína da China converteu o país no maior consumidor e importador de soja em âmbito mundial, o que, em geral, representa 20% da alimentação suína. Em 2018, quase 75% das importações de soja da China provinham do Brasil. Impulsionada pelo aumento da riqueza, a China também se converteu no maior comprador de carne bovina da Argentina, Brasil e Uruguai.
Enquanto os governos latino-americanos celebram uma relação comercial cada vez mais estreita com a China, as organizações ambientais estão preocupadas com os impactos ambientais. Só no Brasil, o aumento da produção de soja resultou na perda de 223.000 hectares de bosque entre 2013 e 2017.
“Limpar a terra para a criação e para o cultivo de alimentos, como o milho e a soja, é a principal causa de desmatamento e destruição ecológica na América Latina, o que ocorre, em grande parte, para satisfazer a demanda do mercado chinês de carne”, diz Matt Ball, do Good Food Institute, uma organização sem fins lucrativos com sede nos Estados Unidos, que promove alternativas de carne de origem vegetal.
“Se a China realiza um movimento em prol das carnes de origem vegetal, a sustentabilidade agrícola, tanto na China como na América Latina, melhoraria muito, pois a carne de origem vegetal requer um uso muito menor da terra”, afirmou Ball.
Ming Court, um restaurante premiado com uma estrela Michelin em Hong Kong, célebre por sua autêntica cozinha cantonesa, surpreendeu no ano passado ao servir uma versão especial do porco agridoce, um prato tradicional do sul da China.
Para fazer o prato, o chef Li Yuet Faat trocou a carne suína autêntica por Omnipork, um substituto de carne feito com ervilhas, soja e proteína de cogumelos. Criado por Right Treat, com sede em Hong Kong, o Omnipork oferece uma alternativa mais saudável para os consumidores e, ao mesmo tempo, reduz drasticamente o impacto ambiental procedente do consumo de carne.
Em uma carta na qual explica a razão de lançar um produto que imita o uso da carne de porco na cozinha asiática, o fundador do Right Treat, David Yeung, explicou: “Na China, 65% do consumo de carne é suína. São 1,3 bilhão de seres humanos na China para somente 700 milhões de porcos”.
A grandeza da indústria suína da China converteu o país no maior consumidor e importador de soja em âmbito mundial, o que, em geral, representa 20% da alimentação suína. Em 2018, quase 75% das importações de soja da China provinham do Brasil. Impulsionada pelo aumento da riqueza, a China também se converteu no maior comprador de carne bovina da Argentina, Brasil e Uruguai.
Enquanto os governos latino-americanos celebram uma relação comercial cada vez mais estreita com a China, as organizações ambientais estão preocupadas com os impactos ambientais. Só no Brasil, o aumento da produção de soja resultou na perda de 223.000 hectares de bosque entre 2013 e 2017.
“Limpar a terra para a criação e para o cultivo de alimentos, como o milho e a soja, é a principal causa de desmatamento e destruição ecológica na América Latina, o que ocorre, em grande parte, para satisfazer a demanda do mercado chinês de carne”, diz Matt Ball, do Good Food Institute, uma organização sem fins lucrativos com sede nos Estados Unidos, que promove alternativas de carne de origem vegetal.
“Se a China realiza um movimento em prol das carnes de origem vegetal, a sustentabilidade agrícola, tanto na China como na América Latina, melhoraria muito, pois a carne de origem vegetal requer um uso muito menor da terra”, afirmou Ball.
Mudando as preferências alimentares
Segundo uma recente pesquisa respaldada pelo governo da Nova Zelândia, mais de 60% dos consumidores chineses têm a intenção de comer mais frutas e verduras, e 39% está reduzindo seu consumo total de carne. Essa transformação é atribuída a uma conscientização sobre a saúde que, por sua vez, é estimulada pelo aumento de divisas.
Além disso, 42% dos entrevistados demonstraram sua vontade de consumir alimentos que sejam bons para o meio ambiente, sendo que mais de 50% está interessado em provar novos produtos de proteínas de origem vegetal.
O consumo de proteínas animais, entretanto, não vai acabar tão cedo. Mesmo havendo uma diminuição no consumo da carne suína, é esperado um aumento da ingestão de laticínios, mariscos e carne.
As políticas públicas também desempenham hoje um papel importante na configuração das opções dos consumidores. Em 2016, impelido por problemas de saúde e meio ambientais, o governo chinês publicou diretrizes alimentares nacionais que recomendavam uma redução de 50% no consumo de carne.
Para promover essas normas, a Sociedade Chinesa de Nutrição associou-se à WildAid, uma organização de defesa do meio ambiente, com sede em São Francisco, para produzir uma campanha de difusão pública, que destacava os benefícios de uma dieta baseada em vegetais.
Em um audiovisual protagonizado por Arnold Schwarzenegger e James Cameron, a WildAid estabeleceu explicitamente a conexão entre o consumo de carne e o dano ambiental.
“Um aumento na percepção sobre o impacto negativo da carne sobre a saúde, tanto pessoal como global, tende a fazer com que os consumidores considerem mais opções baseadas em vegetais”, segundo Jen Leung, diretora de clima da WildAid. “A dieta tradicional chinesa é muito vegetal e sempre utilizou alternativas à carne, como o tofu e o glúten de trigo”.
Segundo uma recente pesquisa respaldada pelo governo da Nova Zelândia, mais de 60% dos consumidores chineses têm a intenção de comer mais frutas e verduras, e 39% está reduzindo seu consumo total de carne. Essa transformação é atribuída a uma conscientização sobre a saúde que, por sua vez, é estimulada pelo aumento de divisas.
Além disso, 42% dos entrevistados demonstraram sua vontade de consumir alimentos que sejam bons para o meio ambiente, sendo que mais de 50% está interessado em provar novos produtos de proteínas de origem vegetal.
O consumo de proteínas animais, entretanto, não vai acabar tão cedo. Mesmo havendo uma diminuição no consumo da carne suína, é esperado um aumento da ingestão de laticínios, mariscos e carne.
As políticas públicas também desempenham hoje um papel importante na configuração das opções dos consumidores. Em 2016, impelido por problemas de saúde e meio ambientais, o governo chinês publicou diretrizes alimentares nacionais que recomendavam uma redução de 50% no consumo de carne.
Para promover essas normas, a Sociedade Chinesa de Nutrição associou-se à WildAid, uma organização de defesa do meio ambiente, com sede em São Francisco, para produzir uma campanha de difusão pública, que destacava os benefícios de uma dieta baseada em vegetais.
Em um audiovisual protagonizado por Arnold Schwarzenegger e James Cameron, a WildAid estabeleceu explicitamente a conexão entre o consumo de carne e o dano ambiental.
“Um aumento na percepção sobre o impacto negativo da carne sobre a saúde, tanto pessoal como global, tende a fazer com que os consumidores considerem mais opções baseadas em vegetais”, segundo Jen Leung, diretora de clima da WildAid. “A dieta tradicional chinesa é muito vegetal e sempre utilizou alternativas à carne, como o tofu e o glúten de trigo”.
O auge da proteína vegetal
Os anúncios ambientais foram uma boa parte da história de sucesso dos produtores de alimentos de origem vegetal, como a Beyond Meat, que viu seu estoque aumentar aproximadamente 600% desde seu IPO em maio, com um objetivo de vendas de 210 milhões de dólares para 2019.
Para atrair consumidores e investidores, a Beyond Meat e suas concorrentes Impossible Foods, dependem em grande parte de um posicionamento de produto impulsionado pelos benefícios ambientais dos substitutos da carne a base de vegetais.
“90% menos emissões de gases de efeito estufa são geradas pelo ‘Beyond Burger’ do que os hambúrgueres de carne bovina regulares”
Em uma “avaliação do ciclo de vida” publicada recentemente, a Impossible Foods disse que seus hambúrgueres necessitam, para sua produção, de 87% menos água e 96% menos terra que a carne de gado convencional e, além do mais, geram 89% menos emissões de gases de efeito estufa.
Em um relatório similar publicado em 2018, pesquisadores da Universidade de Michigan descobriram que a Beyond Burger produz 90% menos emissões de gases de efeito estufa e necessita 46% menos energia que seu contraposto, a carne de gado.
Depois de haver lançado seus produtos em Hong Kong, Impossible e Beyond estão entre as muitas empresas internacionais que vendem produtos baseados em vegetais e que hoje estão de olho no mercado chinês.
Os atores domésticos também não querem ficar atrás. Várias companhias chinesas, como a Whole Perfect Food, comercializaram “carne falsa” durante décadas, principalmente buscando os consumidores que não comem carne por motivos religiosos.
Percebendo o sucesso de seus pares no estrangeiro, estas empresas agora estão ampliando seu atrativo para os consumidores convencionais.
Do ponto de vista comercial e ambiental, a China se converteu no mercado mais valioso da indústria da carne alternativa, pois representa 28% do consumo mundial de carne e 50% do consumo global de carne de porco.
Essas informações são difíceis de conseguir, mas um relatório recentedo Good Food Institute estima que as vendas de carne de origem vegetal na China chegaram aos 910 milhões de dólares em 2018, o que representa uma taxa de crescimento anual média de 15% nos últimos cinco anos.
Os anúncios ambientais foram uma boa parte da história de sucesso dos produtores de alimentos de origem vegetal, como a Beyond Meat, que viu seu estoque aumentar aproximadamente 600% desde seu IPO em maio, com um objetivo de vendas de 210 milhões de dólares para 2019.
Para atrair consumidores e investidores, a Beyond Meat e suas concorrentes Impossible Foods, dependem em grande parte de um posicionamento de produto impulsionado pelos benefícios ambientais dos substitutos da carne a base de vegetais.
“90% menos emissões de gases de efeito estufa são geradas pelo ‘Beyond Burger’ do que os hambúrgueres de carne bovina regulares”
Em uma “avaliação do ciclo de vida” publicada recentemente, a Impossible Foods disse que seus hambúrgueres necessitam, para sua produção, de 87% menos água e 96% menos terra que a carne de gado convencional e, além do mais, geram 89% menos emissões de gases de efeito estufa.
Em um relatório similar publicado em 2018, pesquisadores da Universidade de Michigan descobriram que a Beyond Burger produz 90% menos emissões de gases de efeito estufa e necessita 46% menos energia que seu contraposto, a carne de gado.
Depois de haver lançado seus produtos em Hong Kong, Impossible e Beyond estão entre as muitas empresas internacionais que vendem produtos baseados em vegetais e que hoje estão de olho no mercado chinês.
Os atores domésticos também não querem ficar atrás. Várias companhias chinesas, como a Whole Perfect Food, comercializaram “carne falsa” durante décadas, principalmente buscando os consumidores que não comem carne por motivos religiosos.
Percebendo o sucesso de seus pares no estrangeiro, estas empresas agora estão ampliando seu atrativo para os consumidores convencionais.
Do ponto de vista comercial e ambiental, a China se converteu no mercado mais valioso da indústria da carne alternativa, pois representa 28% do consumo mundial de carne e 50% do consumo global de carne de porco.
Essas informações são difíceis de conseguir, mas um relatório recentedo Good Food Institute estima que as vendas de carne de origem vegetal na China chegaram aos 910 milhões de dólares em 2018, o que representa uma taxa de crescimento anual média de 15% nos últimos cinco anos.
Impacto na América Latina
Incentivada pela atual disputa comercial com os Estados Unidos, as compras de soja brasileira pela China aumentaram 30% em 2018, atingindo os 66 milhões de toneladas e representando 75% do total das importações.
Em teoria, uma mudança no consumo da carne de porco para alternativas baseadas em vegetais poderia reduzir a demanda da soja sul-americana que a China utiliza, principalmente para alimentar os porcos.
É difícil prever quão rápido poderia acontecer essa modificação, dado o estado incipiente do mercado de substitutos da carne, particularmente porque muitos produtos de origem vegetal incluem a proteína de soja como um ingrediente primordial, que poderia continuar mantendo a demanda de soja, inclusive se o consumo de carne diminuir.
Igualmente, se a demanda de soja for menor, é esperado que consumo de carne de gado vindo da América do Sul aumente cada vez mais na China.
Os aumentos marginais na produção de soja e carne têm um impacto ambiental desproporcional em países produtores como o Brasil e, portanto, uma desaceleração da demanda poderia ter grandes efeitos.
Segundo Leung, “reduzir o consumo de carne pode ter um impacto enorme nos países produtores de carne, mas pode melhorar a qualidade da água e do ar, pode proteger as florestas e a biodiversidade e gerar um impacto significativo na mitigação do clima, ao reduzir as emissões gerais de gases de efeito estufa”.
Em um curto prazo, os ambientalistas podem ter um aliado inesperado e poderoso na luta para alterar a compreensão dos consumidores sobre a carne.
A peste suína africana poderia reduzir a produção de carne de porco da China em 30% para 2019, o que reduziria muito a demanda local da soja da América do Sul.
Com os preços da carne suína que devem aumentar até 70% na china e a intensificação das preocupações sobre a segurança alimentar, os consumidores chineses poderiam avançar rapidamente em direção às alternativas baseadas em vegetais.
(Diálogo Chino#Envolverde)
Incentivada pela atual disputa comercial com os Estados Unidos, as compras de soja brasileira pela China aumentaram 30% em 2018, atingindo os 66 milhões de toneladas e representando 75% do total das importações.
Em teoria, uma mudança no consumo da carne de porco para alternativas baseadas em vegetais poderia reduzir a demanda da soja sul-americana que a China utiliza, principalmente para alimentar os porcos.
É difícil prever quão rápido poderia acontecer essa modificação, dado o estado incipiente do mercado de substitutos da carne, particularmente porque muitos produtos de origem vegetal incluem a proteína de soja como um ingrediente primordial, que poderia continuar mantendo a demanda de soja, inclusive se o consumo de carne diminuir.
Igualmente, se a demanda de soja for menor, é esperado que consumo de carne de gado vindo da América do Sul aumente cada vez mais na China.
Os aumentos marginais na produção de soja e carne têm um impacto ambiental desproporcional em países produtores como o Brasil e, portanto, uma desaceleração da demanda poderia ter grandes efeitos.
Segundo Leung, “reduzir o consumo de carne pode ter um impacto enorme nos países produtores de carne, mas pode melhorar a qualidade da água e do ar, pode proteger as florestas e a biodiversidade e gerar um impacto significativo na mitigação do clima, ao reduzir as emissões gerais de gases de efeito estufa”.
Em um curto prazo, os ambientalistas podem ter um aliado inesperado e poderoso na luta para alterar a compreensão dos consumidores sobre a carne.
A peste suína africana poderia reduzir a produção de carne de porco da China em 30% para 2019, o que reduziria muito a demanda local da soja da América do Sul.
Com os preços da carne suína que devem aumentar até 70% na china e a intensificação das preocupações sobre a segurança alimentar, os consumidores chineses poderiam avançar rapidamente em direção às alternativas baseadas em vegetais.
(Diálogo Chino#Envolverde)
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