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segunda-feira, 20 de abril de 2009

Brasil: Proteger a selva tem preço


Autoridades e organizações não-governamentais concordam no Brasil quanto à necessidade de os países ricos e empresas “pagarem” aos habitantes da Amazônia como “prestadores de um serviço ambiental”, que é não desmatar e mitigar a mudança climática. A reivindicação, já apresentada ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi o centro de um debate dentro do Fórum Econômico Mundial para a América Latina, realizado na semana passada no Rio de Janeiro. O debate “Administração da Amazônia, uma responsabilidade global?”, coordenado pela estatal rede britânica de rádio e televisão BBC, partiu de dados e previsões alarmantes.

A selva amazônica que cobre 6% da superfície do planeta estaria se encontraria em um “irreversível” processo de desmatamento, com graves efeitos no aquecimento global. Somente o Brasil, um dos oito países sul-americanos por onde a essa selva se estende, é o quarto maior emissor de gases causadores do efeito estufa, dos quais 48% provocados por queimadas para expansão da fronteira agrícola, entre outros motivos. Mas, para os participantes do debate, entre outros Luiz Fernando Furlan, presidente da Fundação Amazônia Sustentável, o problema pode ser revertido se for estabelecido um “valor de mercado” da selva e pagar-se por ele.

Uma responsabilidade que caberia aos governos locais, mas também aos empresários e à comunidade internacional pela prestação de um serviço ambiental. Furlan citou o exemplo da selva amazônica como reguladora do sistema pluviométrico. “Se as florestas deixam de existir haverá mais secas que afetaram a agricultura em outras partes do planeta. Portanto, possuem um valor econômico. Neste caso, para a agricultura”, afirmou. Este ex-ministro da Indústria e Comércio do governo Lula, preside a empresa alimentícia Sadia, parte do principio de que “as pessoas não derrubam arvores porque querem, mas o fazem para sobreviver”. Furlan definiu a Amazônia como um patrimônio estratégico e econômico.

O governador do Amazonas, Carlos de Souza Braga, Estado com quase quatro milhões de habitantes que, segundo disse, é, por exemplo, 16 vezes maior do que a Grã-Bretanha, e tem 98% da selva preservados. “Nossos habitantes não pode ser punidos por viverem em um paraíso. Em troca, devemos garantir melhores padrões de vida para nossa população”, disse Braga, garantindo ter reduzido em 70% o desmatamento em seu Estado.

O governador, um dos criadores da fundação amazônica hoje presidida por Furlan, concorda com a necessidade de estabelecer um preço para floresta. “Se for evitada a emissão de carbono e com isso se proporciona um serviço ambiental à humanidade, é preciso estabelecer um preço por isso”, afirmou Braga. Por exemplo, através de um fundo internacional como o já proposto pelo governo brasileiro, que financie, entre outros projetos sustentáveis para as populações locais, ou para gerar empregos alternativos.

“É uma questão de soberania global. A selva é nossa, mas nosso povo está prestando um serviço à população global”, explicou o governador ao rechaçar a idéia de que a Amazônia deveria ser “internacionalizada”. Pamela Cox, vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe, destacou que há boas notícias ainda a se comemorar embora nos últimos anos tenham sido desmatados 37% da floresta amazônica. Uma dessas boas novas é que hoje 40% da selva têm áreas protegidas.

Cox também destacou que nos últimos anos se conseguiu reduzir o desmatamento na Amazônia, região que com 25 milhões de habitantes é comparável ao território da Europa ocidental. “O mundo tem de reconhecer que a Amazônia possui um valor ambiental” e que se deve estabelecer “quanto estão dispostos a pagar” por isso, acrescentou. “Os países têm de pagar se querem que as selvas sejam protegidas. Se a Amazônia é o pulmão do mundo, é preciso lhe dar um valor”, insistiu, após rejeitar propostas como “colocar cercas” para protegê-la.

Segundo Luiz Carlos de Miranda Joels, diretor do serviço de selvas do Ministério do Desenvolvimento, o governo Lula conseguiu reduzir em 60% o desmatamento da Amazônia. “Demonstramos que somos capazes de uma gestão adequada, mas com ajuda externa se poderia fazer muito mais”, disse. “Precisamos de assistência, mais recursos e sermos reconhecidos com prestadores de um serviço ambiental”, reforçou Joels, na mesma direção que seus companheiros de debate. Furlan deu com exemplo a solução apresentada por sua fundação, que dá assistência a 10 mil famílias que vivem em 35 áreas protegidas da selva amazônica e que, segundo disse, poderia multiplicar-se em projetos semelhantes financiados pelo setor privado.

Em troca de uma “bolsa floresta” (ajuda econômica mensal) as famílias se comprometem a não desmatar, explicou à IPS Virgilio Viana, diretor da Fundação Amazônia Sustentável. “Pagamos a elas por um serviço ambiental”, resumiu. Com contribuições da iniciativa privada, as famílias também recebem assessoramento e financiamento em projetos de desenvolvimento sustentável, com produção de borracha para fabricação de pneus, de castanhas, óleos e para a pesca local. “É assim que se conseguirá reduzir a zero o desmatamento. Dessa forma serão os guardiões da floresta”, ressaltou Viana.

A idéia de “financiar florestas” é compartilhada também pelo Greenpeace. Marcelo furtado, diretor dessa organização não-governamental no Brasil, considerou que é necessário pressionar os líderes mundiais para conseguir esses recursos. A Amazônia “é um programa global, porque causa um problema global”, afirmou.
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FONTE : Fabiana Frayssinet, da IPS

Um comentário:

Daniela Lima disse...

Bem, acho eu q muito das queimadas, desmatamento para extração de madeira, agrigultura, pecuária,venda de animais, se dá pq as pessoas q lá habitam, não tem outra fonte de renda, fica muito fácil para os coronéis conseguir que os moradores façam isso em troca de uma grana, que deve ser mínima... Então, pq não treinar esse povo para serem agentes ambientais, guias e ganharem por este serviço??