Debate em São Lourenço do Sul abordou efeitos da extração mineral ao Bioma Pampa
Marcos Borba: a luta não é apenas contra a mineração, mas um outro modelo de sociedade
O que se vivencia na metade sul do Rio Grande do Sul, com grandes projetos de mineração que poderão ser implantados em regiões como as de Caçapava do Sul, Lavras do Sul, São José do Norte, não se resume a uma disputa econômica. O que está em jogo são “duas concepções de mundo em conflito”. A concepção de que você pode destruir uma bacia hidrográfica, como é o caso do Rio Camaquã, ou corromper um ecossistema, como é o caso de São José do Norte, para a extração de minerais que serão exportados para outros países, nada mais é que uma forma de “neocolonialismo”. A análise é de Marcos Flávio Silva Borba, pesquisador da Embrapa Sul, de Bagé. Ele participou na segunda, dia 5, no turno da noite, do painel “Mineração e Sociobiodiversidade no Pampa: o que está em jogo?”. Participaram com ele na mesa de debates, Paulo Brack, biólogo e professor da UFRGS, e Flávia Silvia Rieth, professora da área de Antropologia da UFPel.
Para o biólogo Paulo Brack, uma das grandes questões que lançam uma zona de sombra em relação aos megaempreendimentos, como por exemplo, os projetos de mineração, ou mesmo as grandes usinas hidrelétricas, é que os setores que atuam na área ambiental não se comunicam, ou não são respeitados pelos setores governamentais que tratam de energia, de agricultura e de economia. O professor destaca que o projeto da Votorantim Metais para exploração de zinco, chumbo e cobre, em Caçapava do Sul, poderá se dar em cima de uma área considerada “prioritária para a biodiversidade”, conforme o próprio Executivo federal. No caso das hidrelétricas mais recentes, Brack comentou que 2/3 delas foram planejadas e construídas em áreas de biodiversidade.
Quando Paulo Brack fala em megaempreendimento de mineração, ele não exagera. Conformes os números, o projeto da Votorantim pretende minerar na região de Caçapava do Sul ao redor de 36 mil toneladas de chumbo ao ano, 16 mil toneladas de zinco também anualmente, além de 5 mil toneladas ao ano de cobre. O biólogo avalia que a extração de chumbo, que junto com os outros produtos, é considerado um metal pesado, causa não apenas uma poluição simples, mas poderá contaminar rios e nascentes d’água, gerando problemas para a fauna, flora e o próprio ser humano. Brack lembra que o chumbo é um metal que não faz parte do ciclo da natureza. E, no momento em que ele é ingerido, tem efeito cumulativo no organismo, se localizando nos rins e no fígado.
Na avaliação do professor, a relação custo-benefício entre instalar uma empresa de mineração com o argumento de que vai gerar empregos, movimentar a economia, não é compensatório. Até mesmo, porque, segundo ele, os órgãos ambientais não conseguem dar conta da fiscalização de todos os empreendimentos. Brack sublinha que até mesmo no caso das empresas de calcário, em Caçapava do Sul, há denúncias de poluição, mas a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) não estaria conseguindo controlar os passivos ambientais. Alerta também que a Votorantim sofre muitas denúncias Brasil afora, e mesmo em empreendimentos no exterior, sobre prejuízos que ocasiona ao ambiente.
Ainda no que se refere aos órgãos governamentais que trabalham no licenciamento ambiental, Brack os vê como suscetíveis a pressões políticas, e atuariam como uma espécie de “caixa preta”. Segundo o professor, foram enviadas questões à Fepam ainda no mês de dezembro, com o objetivo de tirar dúvidas sobre o projeto para mineração em Caçapava do Sul. Até o momento, passados seis meses, esses questionamentos não foram respondidos, denunciou Paulo Brack.
Protagonismo social e modelo de sociedade
Em sua exposição, o pesquisador da Embrapa/Bagé, Marcos Borba ressaltou que a luta não se resume a opor-se à mineração. Para ele, o que se almeja é um novo modelo de sociedade, que não carregue o viés economicista de que o desenvolvimento passa por um modelo em que a ênfase é a exportação de recursos naturais não renováveis, ao custo da destruição ambiental. Esse novo modelo de sociedade deve basear-se, segundo Borba, na conservação e na valorização do ambiente como um todo, levando em conta o respeito à flora, à fauna, e ao protagonismo social humano.
Especificamente em relação ao pampa gaúcho, a professora da área de Antropologia da UFPel, Flávia Silvia Rieth, enfatizou justamente a importância de que projetos econômicos, como os de mineração, não podem ser responsáveis pela implantação de um modelo que violente a história e a cultura de uma região. Para a professora, o pampa deve ser pensado a partir de seus protagonistas sociais, entre os quais ela inclui, desde o pecuarista familiar, passando por indígenas e quilombolas, que ainda hoje vivem às margens do Rio Camaquã, que poderá ser assassinado por projetos que devastarão o meio ambiente.
Seminário
O debate de segunda à noite fez parte de uma programação ampla do “Seminário Regional sobre Impactos da Mineração”, promovido pela Secretaria Regional RS do ANDES-SN, através do Grupo de Trabalho de Política Agrária, Urbana e Ambiental (GTPAUA), com apoio das seções sindicais do ANDES-SN no RS, entre essas, a Sedufsm. Mais de 400 pessoas participaram nos dois dias de evento, incluindo docentes e estudantes, mas também lideranças de movimentos sociais, sindical, políticos e autoridades regionais. O encontro ocorreu no Galpão Crioulo do Camping Municipal de São Lourenço do Sul (RS).
Texto: Fritz R. Nunes
Fotos: Ivan Lautert
Assessoria de imprensa da Sedufsm
Para o biólogo Paulo Brack, uma das grandes questões que lançam uma zona de sombra em relação aos megaempreendimentos, como por exemplo, os projetos de mineração, ou mesmo as grandes usinas hidrelétricas, é que os setores que atuam na área ambiental não se comunicam, ou não são respeitados pelos setores governamentais que tratam de energia, de agricultura e de economia. O professor destaca que o projeto da Votorantim Metais para exploração de zinco, chumbo e cobre, em Caçapava do Sul, poderá se dar em cima de uma área considerada “prioritária para a biodiversidade”, conforme o próprio Executivo federal. No caso das hidrelétricas mais recentes, Brack comentou que 2/3 delas foram planejadas e construídas em áreas de biodiversidade.
Quando Paulo Brack fala em megaempreendimento de mineração, ele não exagera. Conformes os números, o projeto da Votorantim pretende minerar na região de Caçapava do Sul ao redor de 36 mil toneladas de chumbo ao ano, 16 mil toneladas de zinco também anualmente, além de 5 mil toneladas ao ano de cobre. O biólogo avalia que a extração de chumbo, que junto com os outros produtos, é considerado um metal pesado, causa não apenas uma poluição simples, mas poderá contaminar rios e nascentes d’água, gerando problemas para a fauna, flora e o próprio ser humano. Brack lembra que o chumbo é um metal que não faz parte do ciclo da natureza. E, no momento em que ele é ingerido, tem efeito cumulativo no organismo, se localizando nos rins e no fígado.
Na avaliação do professor, a relação custo-benefício entre instalar uma empresa de mineração com o argumento de que vai gerar empregos, movimentar a economia, não é compensatório. Até mesmo, porque, segundo ele, os órgãos ambientais não conseguem dar conta da fiscalização de todos os empreendimentos. Brack sublinha que até mesmo no caso das empresas de calcário, em Caçapava do Sul, há denúncias de poluição, mas a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) não estaria conseguindo controlar os passivos ambientais. Alerta também que a Votorantim sofre muitas denúncias Brasil afora, e mesmo em empreendimentos no exterior, sobre prejuízos que ocasiona ao ambiente.
Ainda no que se refere aos órgãos governamentais que trabalham no licenciamento ambiental, Brack os vê como suscetíveis a pressões políticas, e atuariam como uma espécie de “caixa preta”. Segundo o professor, foram enviadas questões à Fepam ainda no mês de dezembro, com o objetivo de tirar dúvidas sobre o projeto para mineração em Caçapava do Sul. Até o momento, passados seis meses, esses questionamentos não foram respondidos, denunciou Paulo Brack.
Protagonismo social e modelo de sociedade
Em sua exposição, o pesquisador da Embrapa/Bagé, Marcos Borba ressaltou que a luta não se resume a opor-se à mineração. Para ele, o que se almeja é um novo modelo de sociedade, que não carregue o viés economicista de que o desenvolvimento passa por um modelo em que a ênfase é a exportação de recursos naturais não renováveis, ao custo da destruição ambiental. Esse novo modelo de sociedade deve basear-se, segundo Borba, na conservação e na valorização do ambiente como um todo, levando em conta o respeito à flora, à fauna, e ao protagonismo social humano.
Especificamente em relação ao pampa gaúcho, a professora da área de Antropologia da UFPel, Flávia Silvia Rieth, enfatizou justamente a importância de que projetos econômicos, como os de mineração, não podem ser responsáveis pela implantação de um modelo que violente a história e a cultura de uma região. Para a professora, o pampa deve ser pensado a partir de seus protagonistas sociais, entre os quais ela inclui, desde o pecuarista familiar, passando por indígenas e quilombolas, que ainda hoje vivem às margens do Rio Camaquã, que poderá ser assassinado por projetos que devastarão o meio ambiente.
Seminário
O debate de segunda à noite fez parte de uma programação ampla do “Seminário Regional sobre Impactos da Mineração”, promovido pela Secretaria Regional RS do ANDES-SN, através do Grupo de Trabalho de Política Agrária, Urbana e Ambiental (GTPAUA), com apoio das seções sindicais do ANDES-SN no RS, entre essas, a Sedufsm. Mais de 400 pessoas participaram nos dois dias de evento, incluindo docentes e estudantes, mas também lideranças de movimentos sociais, sindical, políticos e autoridades regionais. O encontro ocorreu no Galpão Crioulo do Camping Municipal de São Lourenço do Sul (RS).
Texto: Fritz R. Nunes
Fotos: Ivan Lautert
Assessoria de imprensa da Sedufsm
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