João Cunha, Instituto Mamirauá –
Armadilhas fotográficas registraram três espécimes de onça-vermelha próximos de câmeras na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, estado do Amazonas. Atividade matinal e em bando é considerada incomum por especialistas
Primeiro, a imagem registra dois animais que caminham pela floresta por volta do meio dia. Um deles fica para trás e, curioso, começa a interagir com as armadilhas fotográficas, colocadas no tronco de árvores baixas na floresta. Em seguida, chega mais um animal, o terceiro exemplar de suçuarana (Puma concolor), também conhecida como puma, onça-parda ou onça-vermelha. Pesquisadores do Grupo de Pesquisa Ecologia e Conservação de Felinos na Amazônia do Instituto Mamirauá acreditam se tratar de uma cena rara. O registro, feito em março pelas armadilhas fotográficas do Instituto Mamirauá, durou menos de dois minutos.
A cena completa da interação entre os pumas
Aqui, acesse as fotos das armadilhas e da onça ‘Fofa’.
“É uma coisa que a gente escuta falar, vez por outra, na reserva, contou o pesquisador do Instituto Mamirauá, Diogo Gräbin. “Eu me surpreendi, realmente, não imaginei que três pumas fossem andar juntas e estavam tranquilas, não era uma situação de conflito. Talvez seja o que eles chamam de vadiação, acasalamento, um comportamento reprodutivo”.
As suçuaranas são conhecidas pela coloração uniforme do pelo, que varia do cinzento ao marrom-avermelhado. É o segundo felino mais pesado das Américas, atrás apenas da onça-pintada, podendo pesar até 72 kg. Acredita-se que suas áreas de vida variem entre 50 e 1000 km². As femêas possuem uma gestação que pode durar entre 90 e 96 dias e geralmente tem de 3 a 4 filhotes, a cada 2 anos, segundo a literatura disponível. É um animal bastante adaptável e vive em habitats variados, como as florestas tropicais, desertos e montanhas. Não é considerado em risco de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), mas, devido ao avanço da ação humana, não é mais encontrado na região leste da América do Norte e em algumas localidades das Américas Central e do Sul.
Como o trabalho é realizado?
As armadilhas fotográficas são pequenas máquinas instaladas na floresta, a um nível próximo ao solo e em mimetismo com o ambiente. Elas são equipadas com câmeras que registram imagens coloridas, em escala de cinza ou em modo infravermelho (de acordo com a luminosidade do momento) e sensores que disparam quando um corpo com a temperatura diferente do ambiente se movimenta em frente à armadilha. Geralmente os disparos são estimulados por um animal de sangue quente, um vertebrado terrestre.
Recentemente, o pesquisadores e assistentes de campo percorreram a área conhecida como igarapé do Ubim, dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, estado do Amazonas. Lá, executaram a coleta de dados e a reinstalação de armadilhas fotográficas para monitoramento da fauna de vertebrados terrestres. Um trabalho difícil e essencial para investigar e conhecer sobre a biodiversidade da Amazônia. As expedições de 2017 começaram em fevereiro e têm o financiamento da Fundação Gordon and Betty Moore, organização de fomento à ciência e à conservação ambiental.
Segundo o pesquisador Diogo Gräbin, existem quarenta e três estações em atividade no igarapé do Ubim, local onde foi feito o registro das suçuaranas. “Estação é como chamamos os pontos da floresta em que são instaladas duas armadilhas fotográficas, uma de frente para outra, para captarmos os dois lados dos animais”, explica. As estações são montadas e programadas a cada dois meses, em média. Nesse período, cada armadilha fotográfica registra cerca de 900 a 1.500 fotografias. Material valioso para análises de identificação e características biológicas, que já estão sendo feitas pela equipe de pesquisadores do Instituto Mamirauá- unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
Turismo Científico com onça-pintada
“Bip…bip…bip”. O barulinho captado pelo receptor de rádio frequência é uma das melodias preferidas da pesquisadora do Instituto Mamirauá, Wezddy Del Toro. “É um som maravilhoso pelo que ele representa”, conta. O sinal vem de colares telemétricos colocados em onças-pintadas e indica a proximidade de um dos animais na natureza. Para Wezddy, que faz parte do Grupo de Pesquisa em Ecologia e Conservação de Felinos da Amazônia, esse é o som da temporada de turismo de observação de onças-pintadas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, estado do Amazonas.
Chamado “Expedição Onça-Pintada” ou, no inglês, “Jaguar Expedition”, o projeto está no terceiro ano de atividades, com três pacotes turísticos e limite de um a seis visitantes por excursão. Wezddy explica que o número reduzido de turistas é intencional: as atividades são planejadas para o menor impacto ou interferência no ambiente das onças-pintadas, em sintonia com o ritmo e a vida desses animais na várzea. Os pacotes são uma parceria do Instituto Mamirauá e a Pousada Uacari, hospedagem flutuante de turismo de base comunitária.
“Para conservar, é preciso conhecer e amar”, afirma Wezddy. A pesquisadora explica que a “Expedição Onça” é uma alternativa para ajudar na conservação dos felinos. “O turismo de observação é uma forma de envolver os comunitários nas atividades turísticas e científicas e coletar dados durante as atividades para pesquisas. Parte do dinheiro arrecadado vai para as comunidades e outra parte financia a continuidade dos estudos sobre as onças-pintadas na reserva”.
A onça “fofa”
Fofa, uma fêmea de onça-pintada, é monitorada pelo Instituto Mamirauá desde 2016, quando ainda estava grávida, de dois animais. Este ano, durante o monitoramento, ela foi avistada com outro filhote, recém nascido. “O que nos impressionou é que a Fofa tenha tido outro filhote em tão pouco tempo. Geralmente as onças fêmeas esperam e acompanham o crescimento de um filhote para acasalar de novo. Esse fato leva a novas perguntas e hipóteses sobre o comportamento das onças-pintadas”, diz a pesquisadora.
Fofa, uma fêmea de onça-pintada, é monitorada pelo Instituto Mamirauá desde 2016, quando ainda estava grávida, de dois animais. Este ano, durante o monitoramento, ela foi avistada com outro filhote, recém nascido. “O que nos impressionou é que a Fofa tenha tido outro filhote em tão pouco tempo. Geralmente as onças fêmeas esperam e acompanham o crescimento de um filhote para acasalar de novo. Esse fato leva a novas perguntas e hipóteses sobre o comportamento das onças-pintadas”, diz a pesquisadora.
A gestação de uma onça-pintada dura três meses. O Grupo de Felinos do Instituto Mamirauá calcula que Fofa tenha acasalado com um macho da espécie por volta de dezembro do ano passado. “Nesse período, nossas armadilhas fotográficas instaladas na floresta registraram imagens de Fofa na companhia de outra onça-pintada”, conta Wezddy. “A princípio, pensávamos que era o seu filhote anterior, mas pode se tratar de um parceiro sexual”.
O avistamento do fato inédito foi feito em uma floresta inundada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, estado do Amazonas. A equipe do Instituto Mamirauá, formada pela pesquisadora Wezddy Del Toro e o assistente de pesquisa, Valciney Martins, estava monitorando o sinal de Fofa através de um rádio colar colocado no pescoço do animal.
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