Por Redação do Observatório do Clima –
Compromissos assumidos em declaração conjunta da presidente com Barack Obama são insuficientes para atender às recomendações científicas e políticas no combate às mudanças climáticas
O Observatório do Clima, rede que reúne 37 organizações da sociedade civil, saúda o compromisso assumido pelos presidentes Dilma Rousseff e Barack Obama em trabalhar juntos para garantir um acordo ambicioso e equilibrado na conferência do clima Paris. Na verdade, a demonstração de liderança por dois dos sete maiores emissores mundiais de gases do efeito estufa chega atrasada. Tanto a ciência quanto a economia das mudanças climáticas são claros sobre o esforço de redução de emissões que precisa ser feito para haver uma chance maior que 50% de manter o aquecimento global abaixo do limite acordado de 2°C, e os custos insustentáveis de atrasar a ação.
A ciência também é clara sobre a insuficiência das reduções de emissões de 26% a 28% até 2025 a partir dos níveis de 2005 propostas pelos Estados Unidos em sua INDC (Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida) para o acordo de Paris.
O Brasil ainda não divulgou suas metas para Paris, mas o Observatório do Clima se antecipou e apresentou a barra de ambição esperada: nós acreditamos que o Brasil deve estabelecer um limite máximo de 1 gigatonelada de CO2 equivalente em 2030. As metas anunciadas hoje pela presidente Dilma não nos colocam sequer perto da ambição real.
“Declarar que o Brasil vai ‘buscar’ políticas para eliminar o desmatamento ilegal é ridículo. O que o governo está dizendo com isso é que aceita conviver com o crime por sabe-se lá quanto tempo. Isso é uma ofensa ao bom senso e ao que o Brasil já mostrou que pode fazer no controle do desmatamento”, disse Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima. “É preciso lembrar que todos os outros países tropicais já se comprometeram a zerar o desmatamento em 2030”, acrescentou.
“A meta de restaurar 12 milhões de hectares em florestas é um bom começo, especialmente para um país cuja maior cidade sofre falta d’água em parte causada pelo desmatamento. No entanto, o passivo a restaurar é duas vezes maior do que isso”, disse Rittl.
As metas anunciadas para energia – atingir 28% a 33% de renováveis na matriz em 2030, excluindo hidrelétricas – tampouco têm o nível de ambição necessário. “Atualmente os renováveis excluindo as hidrelétricas já respondem por 28% da matriz energética. De acordo com as projeções do Plano Decenal de Energia, teremos 29% em 2023. Portanto, a meta anunciada não representa uma modificação importante da matriz”, disse André Ferreira, diretor-presidente do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema). “Considerando que a demanda por energia deve crescer em torno de 70% nos próximos 15 anos, é de esperar que as emissões no setor de energia cheguem a cerca de 800 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2030. Acreditamos que elas possam ser limitadas a 617 milhões de toneladas”, disse.
“A proposta de expandir a fatia de renováveis não-hidrelétricas a 20% da geração de eletricidade significa manter as coisas como estão. Nós já demonstramos que o Brasil pode fazer o dobro disso”, disse Ricardo Baitelo, coordenador de Clima e Energia do Greenpeace Brasil. “A presidente também dá sinais preocupantes de que o Brasil ressuscitará seu programa de energia nuclear, que a própria Dilma havia descartado em 2011 por questões de segurança.” (Observatório do Clima/ #Envolverde)
* Publicado originalmente no site Observatório do Clima.
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