Berlim, Alemanha, 9 de julho de 2012 (Terramérica).- Embora não haja dúvidas de que o aquecimento global é principalmente consequência de atividades humanas, também é certo que há fenômenos naturais contribuindo para a mudança climática. Entre essas causas naturais aparecem eventos terrestres, como atividade vulcânica, a orogenia (formação das montanhas), as alterações nos oceanos e na atmosfera, e o deslocamento continental, que ajudam a elevar a temperatura média da Terra.
Existem, inclusive, causas extraterrestres, como a dinâmica da constante solar, isto é, as mudanças na quantidade de energia recebida na forma de radiação solar por unidade de tempo e superfície. Estas causas, em particular a constante solar, são reiteradas por grupos que negam o caráter antropogênico da mudança climática, e insistem que, se há um aquecimento global, este tem causas naturais e, portanto, toda política ambiental destinada a mitigá-lo está condenada ao fracasso.
Porém, alguns destes fenômenos, como a constante solar, são cíclicos, e seus efeitos na temperatura média da atmosfera do planeta são marginais e não podem explicar mudanças ocorridas em longos períodos, segundo Stefan Brönnimann, professor de climatologia na Universidade de Berna, na Suíça.
“Graças a observações por meio de satélite sabemos que a variabilidade da constante durante o período de 11 anos do ciclo das manchas solares é muito pequena para explicar as dimensões da mudança climática terrestre”, indicou Brönnimann ao Terramérica. Este especialista também observou que outro fenômeno natural, a circulação dos oceanos, corresponde ao movimento de calor no sistema climático da Terra. “Lamentavelmente, a observação científica de tal circulação é relativamente recente, o que impede a formulação de diagnósticos confiáveis sobre seus efeitos futuros”, acrescentou.
Superar esta carência de dados sobre as causas naturais da mudança climática é uma das recomendações do estudo, encomendado pelo Conselho Norueguês de Pesquisa a um comitê especializado, que revisou o que foi feito até agora pelos cientistas do clima desse país do norte da Europa.
A revisão, apresentada no mês passado em Oslo, alerta que se dedica menos esforços para estudar e explicar as causas naturais da mudança climática por se considerar que tem um impacto relativamente menor do que as antropogênicas sobre o sistema do clima terrestre. Essas causas antropogênicas são as emissões de gases de efeito estufa causadas pela queima de combustíveis fósseis, pelas indústrias, pelo desmatamento e pela agricultura.
Entretanto, o estudo Norwegian Climate Research: An Evaluation (Pesquisa Climática Norueguesa: Uma Avaliação) diz que não se pode conseguir uma boa compreensão do sistema climático sem um esforço dedicado a entender como os processos naturais contribuem para ele. A história geológica documenta muito claramente uma intensa força climática associada à variabilidade solar, embora não tenha sido identificado nenhum mecanismo exato, destaca o documento.
Estas circunstâncias deveriam ter provocado um esforço internacional para estudar esses processos naturais, continua o estudo, “mas, surpreendentemente, tal esforço é muito limitado, provavelmente por falta de recursos financeiros” para financiar pesquisas que não integram uma suposta “agenda de investigação pré-estabelecida”, que os autores do estudo não detalham.
A formulação escolhida sugere uma intenção de desacreditar a pesquisa científica sobre as causas humanas da mudança climática, ao mesmo tempo em que denuncia uma suposta negativa global em estudar as causas naturais do fenômeno. Fontes científicas consultadas pelo Terramérica não quiseram comentar o estudo, embora tenham estranhado seu tom e a referência a essa suposta “agenda de investigação pré-estabelecida”.
Os pesquisadores noruegueses do clima são conhecidos e colaboram com seus colegas europeus no Painel Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC). O documento reconhece que a investigação norueguesa está em linha com a corrente majoritária internacional e recomenda “um esforço maior” para pesquisar as causas naturais, em particular “as variações da atividade solar, o mecanismo de formação de nuvens e as variações de muitas décadas nos sistemas oceânicos”.
Tais críticas parecem ignorar evidência científica de que a quantidade de energia solar recebida pela Terra desde 1750 permanece quase constante. Precisamente durante este período, em particular a partir de 1850, coincidindo com a Revolução Industrial e o uso crescente de combustíveis fósseis, vem aumentando sem pausa a temperatura média global e a concentração de dióxido de carbono, metano e outros gases de efeito estufa na atmosfera.
Além disso, se o aquecimento global fosse causado por uma constante solar mais elevada, então as temperaturas médias em todas as camadas da atmosfera seriam maiores. Contudo, enquanto a exosfera e a ionosfera registram hoje em dia temperaturas menores do que nos últimos 150 anos, o aquecimento na troposfera está suficientemente documentado. Esta diferença nas temperaturas da atmosfera é consequência do efeito-estufa: gases como o dióxido de carbono capturam o calor dos raios solares próximo da superfície da Terra.
É por isso que “os modelos climáticos que incorporam a constante solar não são capazes de reproduzir o aumento real da temperatura terrestre observado durante os últimos 50 anos, se não forem consideradas as emissões de gases-estufa causadas pela humanidade”, explicou Brönnimann.
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FONTE : * O autor é correspondente da IPS.
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