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domingo, 11 de dezembro de 2022
O futebol é um mundo à parte, artigo de Montserrat Martins
Vamos concordar que não existe concordância, tem quem ama futebol e quem detesta.
Para algumas pessoas parece fútil um jogo em que celebridades ganham milhões, enquanto milhões de pessoas que não ganham quase nada vibram apaixonadas, como se eles (as celebridades) se importassem com a gente. Ouvi isso numa conversa de bar, quando defendi minha tese que futebol é muito mais que futebol, é um mundo à parte, com suas próprias regras.
Você já assistiu uma partida jogada na areia, a chamada “pelada de praia”? Numa legítima “pelada” os times se formam ao acaso, alguém leva uma bola e vem chegando gente de todos os lados, ninguém sabe o que os outros fazem fora dali, quem é médico, engenheiro, empresário, desempregado ou guardador de carros. O que importa é o talento com a bola nos pés, esse é o que diferencia as pessoas naquela hora, vale mais quem joga mais, não o que faz fora dali. Esse é o melhor exemplo de porque o futebol não é só futebol, é uma outra realidade, um universo paralelo.
O Brasil está no terceiro mundo em índices de educação e outros indicadores sociais, mas é primeiro mundo no futebol, a camiseta da nossa seleção é idolatrada em praticamente todo o mundo. Quando o jogador Bressan caiu em desgraça no Grêmio (já faz alguns anos, lembram?) o castigo dele foi ter de ir jogar nos Estados Unidos, um país de futebol de segunda classe, como também é a China, destino de jogadores que não tem mais mercado na Europa ou no Brasil. As maiores economias do mundo, no futebol, são totalmente secundárias.
Essa é a magia do futebol, é o que torna apaixonante um esporte onde um Vinícius Jùnior, de origem humilde, no Rio, virar uma estrela no Real Madrid. Ou Kylian Mbappé, filho de um camaronês com uma argelina e nascido numa periferia de Paris, se tornar campeão mundial com a Seleção da França. Sim, também existe ascensão social em outras áreas, mas no futebol ele é mais natural, quase uma regra, como um mundo à parte onde as regras são diferentes das outras áreas da sociedade.
A Copa entra na fase decisiva, com França, Brasil, Argentina, Portugal, Inglaterra, Holanda, Croácia e Marrocos. Observe que só três são potências econômicas, mas no futebol são esses os poderosos do momento. Nem todos os defeitos da FIFA e as injustiças do Catar tiram a magia do esporte mais popular do mundo, cuja paixão é movida por regras alheias a todas as outras.
Montserrat Martins é Médico Psiquiatra
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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