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O grupo tem uma atuação de mais de quinze anos. A pesquisa nesta temática que resultou na formação do Grupo em 1989 iniciou com a tese de Suertegaray,D.M.A.1983, defendida na USP em 1988.A primeira grande repercussão deste trabalho na comunidade científica nacional diz respeito a explicação da gênese dos areais, tida até 1988, como um processo decorrente da atividade agrícola, particularmente a monucultura da soja. A pesquisa então realizada defende a tese de que estes areais são na sua origem decorrente de processos naturais e já se encontravam na paisagem riograndense deste o período de ocupação inicial do território. A monocultura da soja por sua vez intensifica esse processo nos anos 60 e 70. Esta nova interpretação intensificou o debate em nível regional e nacional, tendo sido feito neste período mais de 100 palestras sobre o tema em diferentes pontos do território nacional,do estado do RS e em eventos em países da América Latina. Outra explicação significativa diz respeito a dinâmica de formação dos areais e a desmistificação do uso do termo deserto/ desertificação para essas áreas.O conceito de arenização criado por Suertegaray (1987) é atualmente mais aceito para a compreensão deste processo.Além da investigação sobre a gênese dos areais o grupo atua em propostas de controle dos processos de arenização através de experimentos em áreas-piloto.Esta temática foi tema de Tese de doutorado de um dos membros do grupo, na França, prof. Roberto Verdum. Nesta a ênfase foi na dinâmica Climato - hidrogeomorfólogica.Desta pesquisa resultou a escolha de técnicas implantadas para controle de processos de erosão superficial.Recentemente, foi elaborado o Atlas da Arenização, com o Centro Estadual de Sensoriamento Remoto e Meteorologia e Secretaria de Planejamento e a Secretaria de Ciência e Tecnologia do RS.
Desertificação e arenização
A definição da Convenção de Combate à Desertificação, em 1994, correspondeu a um aprofundamento de discussões oriundas na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992. Naquela ocasião foi aprovada também a Agenda 21, um programa de ação para melhorar a qualidade ambiental do planeta. O tema da desertificação foi contemplado no capítulo 12 daquele documento.
O Brasil conta com áreas sujeitas à desertificação segundo os moldes delimitados pela Convenção sobre Desertificação. Isso propicia a captação de recursos internacionais dentro de programas de cooperação técnica e de ajuda a países emergentes oferecendo oportunidades de aprimorar o conhecimento sobre a dinâmica natural dos ambientes sujeitos à desertificação, bem como para mitigar problemas sócio-ambientais decorrentes dela.
No Estado do Rio Grande do Sul desde os anos de 1970 do século XX instaurou-se o debate e o interesse sobre a existência de desertos e da desertificação como paisagem e processo associados à degradação dos campos da região sudoeste do Estado. Desde o final dos anos de 1980, a partir da organização de um grupo de pesquisa vinculado ao CNPQ, o Departamento de Geografia, IG/UFRGS vem desenvolvendo pesquisas relativas: a gênese dos areais e aos processos de desertificação no Nordeste brasileiro. Entre os temas estudados destacam-se no âmbito da arenização: a morfogênese da paisagem na região de ocorrência de areais, a dinâmica de ablação e formas associadas, ao mapeamento e cálculo da evolução dos areais, a análise temporal do uso do solo. Mais recentemente, realizou-se a avaliação das propostas de recuperação de áreas degradadas conforme a cobertura vegetal (arbórea ou herbácea) adotada para a proteção dos solos e a análise de alguns parâmetros de qualidade de água dos arroios Miracatu e Caraguataí localizados na área de estudo.
Quanto aos quatro primeiros tópicos anteriormente citados, o estudo interdisciplinar do Programa PADCT, que contou com a participação dos professores do Departamento de Geografia IG/UFRGS, realizado nos municípios de São Francisco de Assis e Manuel Viana no Rio Grande do Sul, destacou o condicionamento geomorfológico e o uso do solo como sendo dois fatores importantes no desencadeamento dos processos de formação dos areais (arenização, segundo Suertegaray, 1987).
Os produtos gerados deste estudo foram diferentes mapas temáticos que tiveram como base o cruzamento entre os dados levantados em campo, os mapeamentos através de técnicas de sensoriamento remoto e a análise de dados estatísticos relativos às atividades agrícolas. A construção de cartas temáticas integradas do meio físico com a espacialização das formas de apropriação humana pela atividade agrícola na região resultou no conhecimento das áreas mais críticas, ou seja, aquelas submetidas aos processos de erosão (ravinamentos, voçorocamentos e deflação). Estes documentos cartográficos são hoje referências fundamentais à espacialização e a compreensão da dinâmica dos processos morfogenéticos, assim como para a seqüência dos estudos relativos a recuperação de áreas degradadas.
Especificamente a este tópico o Projeto Integrado, apoiado pelo CNPq nos anos de 1996 e 1997 e coordenado pela Profa. Dra. Dirce Maria Antunes Suertegaray denominado: "Utilização de espécies exóticas para recuperação de áreas degradadas no SW do Rio Grande do Sul; erosão superficial - instrumento e mensuração", procurou avaliar os processos hídricos superficiais ao longo de perfis de vertente em termos de erosão superficial e do cálculo de volume de solo erodido. O enfoque principal dado a este estudo foi o de avaliar a capacidade de proteção da cobertura arbórea e herbácea em relação aos processos desestabilizadores dos solos majoritariamente arenosos e das formações superficiais friáveis.
Primeiramente, para se poder avaliar a existência de cobertura vegetal protetora do potencial pedo-mineral (os solos e as formações superficiais) foi importante proceder ao estudo da evolução do plantio de espécies arbóreas exóticas, incentivado por políticas agro-florestais no sudoeste do Rio Grande do Sul (bacias hidrográficas dos arroios Caraguataí e Miracatu - municípios de São Francisco de Assis e Manuel Viana). Este estudo revelou que preferencialmente nas áreas de ocorrência de areais, as espécies de eucalipto (Eucalyptus sp.) têm sido aquelas exóticas mais incentivadas na busca de compatibilizar a preservação dos solos e na produção de madeira. Esta madeira está sendo utilizada para fins de consumo próprio dos proprietários rurais, industrial e energético. Acompanhando este estudo preliminar foi necessário resgatar as pesquisas e experiências que avaliem a capacidade protetora destas espécies exóticas em relação ao potencial pedo-mineral.
Em relação ao estudo quantitativo da erosão superficial através do cálculo do volume de solo erodido em setores de cobertura diferenciada (herbácea ou arbórea), este Projeto Integrado possibilitou a construção de equipamento, pensado e concebido no Departamento de Geografia IG/UFRGS, para medir a intensidade da erosão. Este equipamento tem servido inclusive para subsidiar tecnicamente as propostas de reconstituição dos setores submetidos a arenização e, que são centradas na recuperação da cobertura vegetal, tanto no plantio de eucaliptos como no de gramíneas (nativas ou exóticas).
Em trabalho de tese, Verdum (1997) aprofundou o estudo da fragilidade estrutural do potencial ecológico, a pressão dos modelos de exploração agrícola exercida sobre a biomassa vegetal dos campos herbáceos, a dinâmica hidrológica da bacia hidrográfica do arroio Miracatu e os principais processos morfogenéticos que caracterizam a crise erosiva do setor. Especificamente quanto a dinâmica hidrológica e os principais processos morfogenéticos, este estudo mostrou, de um lado a importância dos lençóis aqüíferos na alimentação da rede hidrográfica e por outro lado a relação entre os eventos atmosféricos de forte intensidade e as cheias, revelando que as fases de escoamento superficial direto são bruscas e potentes. Estas fases são eficazes para provocar os processos morfogenéticos sobre a estrutura do meio, cuja fragilidade já havia sido sublinhada em estudos anteriores (Suertegaray,1987).
Através da pesquisa dos casos concretos, se observou no setor de estudo os traços de ablação e dos depósitos correlativos associados aos processos morfogenéticos, onde predominam o escoamento superficial direto, difuso e concentrado, e a deflação eólica.
Na continuidade desta pesquisa relativa à reconstituição dos setores submetidos à arenização e ao escoamento superficial e de sub-superfície, realizou-se no ano de 1999, com o apoio da FAPERGS e da PROPESQ/UFRGS, a implantação de experimentos para controle de ravinas em propriedade rural no município de São Francisco de Assis. Além disso, verificaram-se determinados parâmetros de qualidade de água superficial, em sub-bacia do arroio Inhacundá, próximo à sede do município de São Francisco de Assis.
Recentemente, nos anos de 1999 e 2001, todas essas pesquisas desenvolvidas e aqui mencionadas, resultaram na edição do vídeo "Existem desertos no sudoeste do Rio Grande do Sul?"; coordenado pelo Prof. Dr. Roberto Verdum e a publicação do "Atlas da Arenização no sudoeste do Rio Grande do Sul", coordenado pela Prof. Dra. Dirce Antunes Suertegaray, Prof. Dr. Laurindo A. Guasselli e Prof. Dr. Roberto Verdum, em parceria com a Secretaria da Coordenação e do Planejamento e Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio Grande do Sul
No ano de 2007, foi encaminhado projeto à Capes para propor convênio no âmbito do acordo Capes-Cofecub, entre o Programa de Pós-graduação em Geografia/IG/UFRGS e o Laboratório de Geografia Social/GREGUM/Université du Maine/Le Mans/França, tendo sido aprovado no período 2007-2010, para formação de quadros de novos doutores e aperfeiçoamento técnico-científico dos pesquisadores envolvidos.
Na continuidade, foi encaminhado um novo Projeto Universal/CNPq 2007/2009, coordenado pelo prof. Dr. Laurindo Guasselli, que centrou a pesquisa no espaço regional do sudoeste do Rio Grande do Sul, tendo-se como referência espacial a bacia hidrográfica do rio Ibicuí, 35.062,50 km². Além disso, percebeu-se como fundamental inserir nesse conhecimento acumulado, até então, as proposições, as estratégias e as experiências sobre a desertificação, desenvolvidas nos programas e políticas nacionais e internacionais. Assim como, no que se refere à gestão dos recursos hídricos dessa unidade espacial, bacia hidrográfica do rio Ibicuí, integrante do Aquífero Guarani.
Nesse sentido, iniciou-se a construção de parcerias com países como França e Tunísia, países estes com larga experiência em estudos e vivências sobre processos de desertificação. Com a Univesité du Maine - França foi estabelecido, a partir de 2007, o convênio Capes-Cofecub. Com a Université de Sfax - Tunísia foi estabelecido a partir de 2009 uma parceria interuniversitária através de edital PróAfrica-CNPq. Da mesma forma nesse momento amplia-se a discussão em âmbito nacional, já iniciada através de parceria com a UFPB na temática da desertificação e gestão da água, incluindo na rede pesquisadores da UFG que vem trabalhando na decifração da formação de areais no sudoeste de Goiás. Esta parceria nacional e internacional consolidou-se a partir do Seminário Arenização/desertificação diálogo de saberes, promovido pelo grupo Arenização/ desertificação questões ambientais que reuniu o conjunto de pesquisadores dessas regiões e países, em junho de 2009.
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