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domingo, 5 de abril de 2020

10 maneiras de detectar desinformação online

Tradução e ampliação para o Brasil de Flávio Gut – Publicado originalmente no OA – 
O texto original 10 maneiras de detectar desinformação online foi escrito por H. Colleen Sinclair, professora associada de Psicologia Social da Universidade do Estado de Mississippi, nos Estados Unidos, e publicado em 27 de março de 2020 no site The Conversation, sob o título 10 ways to spot online misinformation (clicando no link você lê o artigo original).
Como você poderá perceber, adaptamos parte do artigo, ampliando a rede de checagem de fatos com as agências disponíveis em língua portuguesa, bem como acrescentamos informações para facilitar a compreensão do cenário brasileiro.
Portanto, 10 maneiras de detectar desinformação online é leitura fundamental para quem quer saber como navegar no mundo das redes sem se tornar um instrumento de disseminação de notícias falsas ou informações erradas. 

10 maneiras de detectar desinformação online

Os propagandistas já estão trabalhando para semear desinformação e discórdia social às vésperas das eleições de novembro.
A autora se refere às eleições para presidente no Estados Unidos, mas a mesma observação pode ser feita para as eleiçsões municipais no Brasil, informações a respeito da pandemia de Coronavirus ou defesa de posições políticas por diferentes grupos. A técnica utilizada é a mesma.
Muitos de seus esforços se concentraram nas mídias sociais, onde a atenção limitada das pessoas os leva a compartilhar itens antes mesmo de lê-los – em parte porque as pessoas reagem emocionalmente, e não logicamente, às informações que encontrarem. Isso é especialmente verdade quando o tópico confirma o que uma pessoa já acredita.
É tentador culpar bots e trolls por esses problemas. Mas, na verdade, é nossa culpa por compartilhar tão amplamente. Pesquisas confirmaram que as mentiras se espalham mais rápido que a verdade – principalmente porque as mentiras não estão vinculadas às mesmas regras que a verdade.
Na gíria da Internet, um troll é uma pessoa que começa a brigar ou incomodar as pessoas  para distrair e semear discórdia postando mensagens inflamatórias e digressivas (que afasta, que desvia) .
Um bot da Internet, também conhecido como robô da web, robô ou simplesmente bot, é um aplicativo de software que executa tarefas automatizadas (scripts) pela Internet.
Como cientista psicológico que estuda propaganda, eis o que digo aos meus amigos, estudantes e colegas sobre o que observar. Dessa forma, eles podem se proteger – e um ao outro – de mentiras, meias-verdades e rotações enganosas nos eventos atuais.

1. Um post provocou raiva, repulsa ou medo?

Se algo que você vê online causa sentimentos intensos – especialmente se essa emoção é ultrajante -, isso deve ser uma bandeira vermelha para não compartilhá-la, pelo menos não imediatamente. As chances são de que ele pretendia causar um curto-circuito no seu pensamento crítico, jogando com as suas emoções. Não caia nessa.
Em vez disso, respire.
A história ainda estará lá depois que você a verificar. Se isso for real e você ainda quiser compartilhá-lo, considere também o fogo em que está contribuindo. Você precisa acender as chamas?
Durante esses tempos sem precedentes, temos que ter cuidado para não contribuir para contágios emocionais. Por fim, você não é responsável por alertar o público sobre as últimas notícias e não está em nenhuma corrida para compartilhar coisas antes que outras pessoas o façam.

2. Isso fez você se sentir bem?

Uma nova tática adotada pelos guerreiros da desinformação é postar histórias de bem-estar que as pessoas vão querer compartilhar. Essas peças podem ser verdadeiras ou podem ter tanta verdade quanto lendas urbanas. Mas se muitas pessoas compartilham essas postagens, isso confere legitimidade e credibilidade às contas de origem falsas que originalmente postam os itens. Em seguida, essas contas estão bem posicionadas para compartilhar mais mensagens maliciosas quando julgam a hora certa.
Esses mesmos agentes também usam outros truques para você se sentir bem, incluindo tentativas de brincar com sua vaidade ou auto-imagem inflada. Você provavelmente já viu postagens dizendo “Apenas 1% das pessoas são corajosas o suficiente para compartilhar isso” ou “faça este teste para ver se você é um gênio”. Essas não são iscas de cliques benignas – elas geralmente ajudam uma fonte fraudulenta a obter compartilhamentos, aumentar a audiência ou, no caso desses “questionários de personalidade” ou “testes de inteligência”, eles estão tentando obter acesso ao seu perfil de mídia social.
Se você encontrar uma peça como essa, se não conseguir evitar o clique, aproveitFactChecke a boa sensação que ela lhe dá e siga em frente. Compartilhe suas próprias histórias e não as de outras pessoas.

3. É difícil de acreditar?

O que você lê pode fazer alguma afirmação extraordinária – como o papa endossando um candidato à presidência dos EUA quando ele nunca havia endossado um candidato antes. O astrônomo e autor Carl Sagan defendeu a resposta que você deveria ter a tais afirmações: “Reivindicações extraordinárias exigem evidências extraordinárias”, que é uma premissa filosófica de longa data. Considere se a reivindicação que você está vendo foi apoiada por alguma evidência e verifique a qualidade da evidência.
Além disso, lembre-se de que uma peculiaridade da psicologia humana significa que as pessoas só precisam ouvir algo três vezes antes que o cérebro comece a pensar que é verdade – mesmo que seja falso.

4. Confirmou o que você já pensou?

Se você está lendo algo que combina tão bem com o que você já pensou, pode estar inclinado a dizer “Sim, isso é verdade” e compartilhá-lo amplamente.
Enquanto isso, perspectivas diferentes são ignoradas.
Temos uma forte motivação para confirmar o que já acreditamos e evitar sentimentos desagradáveis associados a desafios às nossas crenças – especialmente crenças fortemente defendidas.
É importante identificar e reconhecer seus vieses, tomar cuidado e ser ainda mais crítico com os artigos com os quais concorda. Tente provar que são falsas em vez de procurar confirmação de que são verdadeiras. Fique atento, pois os algoritmos ainda estão configurados para mostrar o que eles acham que você vai gostar. Não seja presa fácil. Confira outras perspectivas.

5. Erros garmaticais e hortográficos?

As postagens repletas de erros ortográficos e gramaticais são os principais suspeitos de imprecisões. Se a pessoa que a escreveu não se incomodou em fazer a verificação ortográfica, provavelmente também não a verificou a informação. De fato, eles podem estar usando esses erros para chamar sua atenção.
Da mesma forma, uma postagem usando várias fontes pode revelar, sem intenção, que havia material adicionado ao original – ou estar tentando deliberadamente chamar sua atenção. (Sim, os erros no título desta dica foram intencionais.)

6. O post é um meme?

Os memes geralmente são uma ou mais imagens ou vídeos curtos, geralmente com texto sobreposto, que transmitem rapidamente uma única ideia.
Embora todos possamos rir de rir com um novo meme “Ermahgerd”, memes – particularmente aqueles que semeiam discórdia política – foram realmente identificados como um dos meios emergentes de propaganda. Nos últimos anos, a prática de usar memes para incitar divisões aumentou rapidamente, e grupos extremistas estão usando-os com crescente eficácia.
Por exemplo, grupos supremacistas brancos dominaram o meme “Pepe the frog”, uma imagem de desenho animado que pode atrair o público mais jovem.
Pepe the Frog é um meme da Internet que consiste em um sapo antropomórfico verde com um corpo humanóide. Pepe se originou em uma história em quadrinhos de 2005 por Matt Furie chamada Boy’s Club.
Suas origens como imagens benignas e bem-humoradas de gatos mal-humorados, gatos que querem hambúrgueres de queijo ou chamadas para “manter a calma e continuar” levaram nossos cérebros a classificar os memes como agradáveis ou, na pior das hipóteses, inofensivos. Nossas guardas caíram. Além disso, sua natureza curta subverte ainda mais o pensamento crítico. Fique alerta.

7. Qual é a fonte?

A postagem foi de um meio de comunicação não confiável? O site Media Bias/Fact Check (em inglês) é um lugar para procurar descobrir se uma fonte de notícias específica tem um viés partidário. Você também pode avaliar a fonte você mesmo. Use critérios baseados em pesquisa para julgar a qualidade e o equilíbrio das evidências apresentadas. Por exemplo, se um artigo expressa uma opinião, ele pode apresentar fatos inclinados de uma maneira favorável a essa opinião, em vez de apresentar de maneira justa todas as evidências e tirar uma conclusão.
O site Media Bias/Fact Check funciona bem nos Estados Unidos. No Brasil, uma alternativa é checar diversas fontes de informação, como os tradicionais jornais O GloboO Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, e também fontes alternativas de boa qualidade como a revista ForumJornal de Todos os Brasis, ou sites internacionais com forte presença no Brasil como a BBC Brasil e El País. entre outros. E tirar suas próprias conclusões comparando como cada uma das pubublicações aborda determinado assunto.
Se você acha que está procurando um site suspeito, mas o artigo específico parece preciso, minha forte sugestão é encontrar outra fonte confiável para a mesma informação e compartilhar o link. Quando você compartilha algo, as mídias sociais e os algoritmos dos mecanismos de pesquisa contam seu compartilhamento como um voto para a credibilidade geral do site. Portanto, não ajude sites de desinformação a tirar proveito de sua reputação como compartilhador cauteloso e cuidadoso de informações confiáveis.

8. Quem disse isso?

Pode ser surpreendente, mas políticos e outras figuras públicas nem sempre dizem a verdade. Pode ser exato que uma pessoa em particular tenha dito uma frase em particular, mas isso não significa que a frase esteja correta. Você pode verificar o suposto fato, é claro, mas também pode ver o quão verdadeiras são as pessoas em particular.
Se você está ouvindo informações de um amigo, é claro, não há site. Você precisará confiar no pensamento crítico antiquado para avaliar o que ela diz. Ela é credível? Ela ainda tem fontes? Em caso afirmativo, quão confiáveis são essas fontes? Se avaliar a mensagem for muito trabalhoso, talvez fique com o botão “curtir” e pule a opção “compartilhar”.

9. Existe uma agenda oculta?

Se você encontrar algo que pareça convincente e verdadeiro, confira o que as fontes apartidárias dizem sobre o assunto.
Não encontrar menção do tópico na mídia apartidária pode sugerir que a declaração ou anedota é apenas um ponto de discussão para um lado ou para o outro. No mínimo, pergunte a si mesmo por que a fonte escolheu escrever ou compartilhar essa peça. Foi um esforço para relatar e explicar as coisas enquanto elas estavam acontecendo, ou uma tentativa de influenciar seus pensamentos ou ações – ou seu voto?

10. Você verificou os fatos?

Existem muitas organizações de verificação de fatos respeitáveis, como Snopes e FactCheck. Existe até um site dedicado à verificação de memes. Não demora muito para clicar em um desses sites e dar uma olhada.
Mas pode levar muito tempo para desfazer o dano de compartilhar informações erradas, o que pode reduzir a capacidade das pessoas confiarem em evidências e em seus semelhantes.
Para se proteger – e aqueles em suas redes sociais e profissionais – seja vigilante. Não compartilhe nada, a menos que tenha certeza de que é verdade. Guerreiros de desinformação estão tentando dividir a sociedade americana (vale para o mundo todo). Não os ajude. Compartilhe sabiamente.

Aqui no Brasil, o Portal da Imprensa fez um levantamento das principais agências de checagem de fatos e notícias em língua portuguesa. Listamos abaixo algumas delas. Portanto, não há desculpas. Faça a sua parte.
Aos FatosDiariamente, os jornalistas de Aos Fatos acompanham declarações de políticos e autoridades de expressão nacional, de diversas colorações partidárias, de modo a verificar se eles estão falando a verdade.
Boatos.orgSite faz a checagem de histórias espalhadas pela internet, dos boatos amplamente difundidos na rede. Além de pesquisar a origem dos boatos, procura fazer uma análise sobre os pontos contraditórios contidos no que está sendo divulgado.
E-farsasCom a intenção de usar a própria internet para desmistificar as histórias que nela circulam, o E-farsas já entrevistou mais de 60 profissionais de diversas áreas para verificar, com quem entende do assunto, se o que rola na web é mito ou realidade.
Estadão VerificaO blog Estadão Verifica faz checagem de fatos e desmonte de boatos, e tem o intuito de conter a disseminação de conteúdo falso com potencial nocivo para a sociedade. É
Fato ou Fake
A seção Fato ou Fake foi lançada pelo G1 com o objetivo de alertar os brasileiros sobre conteúdos duvidosos disseminados na internet ou pelo celular, esclarecendo o que é notícia (fato) e o que é falso (fake).
Lupa
Primeira empresa especializada em fact-checking do Brasil, a Lupa acompanha o noticiário de política, economia, cidade, cultura, educação, saúde e relações internacionais, buscando corrigir vale para o mundo todoinformações imprecisas e divulgar dados corretos.
Truco
O Truco é o projeto de fact-checking da Agência Pública, e uma das modalidades de jornalismo investigativo produzidas pela redação da agência. O projeto escolhe as frases para checagens a partir das declarações de figuras públicas candidatos e boatos que circulam sobre os temas eleitorais.
UOL Confere
Iniciativa do UOL para checagem e esclarecimentos de fatos, o serviço conta com uma equipe de repórteres especiais que vão a fundo na checagem de notícias. A ideia é não apenas desmentir as fake news, mas também contextualizar fatos, com dados, números, mostrando seus desdobramentos.
Flavio Gut, fundador e diretor executivo, é jornalista e responsável pelo conteúdo do Oa. Em sua longa carreira, iniciada em 1982, trabalhou em alguns principais veículos de informação do País. Entre eles, foi editor executivo do jornal O Estado de S.Paulo e da Agência Estado, repórter e redator do Jornal da Tarde, Agência Folha e Grupo Estado

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