Bulawayo, Zimbábue, 16 de julho de 2012 (Terramérica).- O Fundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF) está pronto para ser o catalisador da transformação que exige o manejo dos assuntos ambientais globais, disse ao Terramérica a próxima diretora-executiva e presidente da entidade, a japonesa Naoko Ishii. O GEF reconhece o vínculo indissolúvel entre meio ambiente e bem-estar econômico, referendado na cúpula Rio+20 realizada no final de junho no Brasil, explicou Ishii, que assumirá o cargo no dia 1º de agosto, após ter ocupado importantes cargos no governo de seu país e em vários organismos internacionais.
Apesar do difícil cenário econômico mundial, o GEF está adotando um enfoque integral de “projetos multifocais”, que abordam vários problemas, explicou Ishii, licenciada em economia e doutora em relações internacionais pela Universidade de Tóquio. “Já não vemos o meio ambiente mundial como uma série de ‘silos’ que dividem mudança climática, biodiversidade, etc.”, acrescentou, em entrevista ao Terramérica via e-mail e por telefone.
O GEF foi criado como mecanismo de financiamento das três maiores convenções ambientais nascidas ao calor da Cúpula da Terra de 1992, no Rio de Janeiro: a de mudança climática, a de biodiversidade e a de desertificação. Hoje, é o maior fundo público mundial dedicado ao meio ambiente. Entrega doações para abordagem de soluções em matéria de biodiversidade, mudança climática, águas internacionais, degradação do solo, camada de ozônio e contaminantes orgânicos persistentes. Em junho adotou seu mais ambicioso plano de trabalho, de US$ 607 milhões, e o cofinanciamento de US$ 4,4 bilhões para projetos em 111 países.
TERRAMÉRICA: O que representa para o GEF o documento O Futuro que Queremos, declaração final da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20?
NAOKO ISHII: O texto reafirma o vínculo entre meio ambiente e bem-estar econômico. Vemos estas duas aspirações como inseparáveis. O principal objetivo do GEF é apoiar projetos e programas no mundo em desenvolvimento e em economias em transição que produzam benefícios ambientais, e o componente econômico é fundamental nesses benefícios. Não queremos simplesmente preservar as florestas. Queremos preservá-las para que possam continuar desempenhando seu papel de manutenção da vida e do sustento, proporcionando alimentos e combustível, limpando nosso ar, mantendo o solo, regulando nosso clima. Protegemos a biodiversidade não só porque é bom, mas porque dessa maneira protegemos formas de vida que são cruciais na trama natural que sustenta o crescimento econômico. Sobre o GEF, o texto referenda sua orientação política de entregar os recursos com maior rapidez, simplificando procedimentos e potencializando a coordenação com outros instrumentos e programas que apoiam o desenvolvimento sustentável.
TERRAMÉRICA: Qual desafio em particular enfrenta o GEF?
NI: Intensificar os bons resultados obtidos em projetos nacionais e regionais para obter impactos sustentáveis em uma escala de acordo com os desafios que se avizinham para o meio ambiente mundial. É muito importante potencializar a influência do GEF, fortalecendo nossas associações com os diferentes atores. Minha gestão integrará os bons resultados obtidos até agora no âmbito dos projetos com a formulação de políticas para obter impactos sustentáveis em grande escala.
TERRAMÉRICA: Como pretende fortalecer o êxito do GEF em arrecadar fundos internacionais em meio à recessão mundial e à crescente demanda por eficiência nos gastos?
NI: Representei o governo em negociações muito difíceis sobre fornecimento de dinheiro, como os debates do Fundo Asiático de Desenvolvimento concluídos em maio. Minha experiência me diz que garantir um financiamento contínuo e forte exige, primeiro, uma clara avaliação das necessidades e dos objetivos, em segundo, uma estratégia bem articulada para conseguir esses objetivos, e, em terceiro, ganhar e manter a confiança dos doadores em nossa capacidade de gerar resultados. Enquanto nos dedicamos a esta estratégia, é possível termos que explorar todas as opções disponíveis, devido à muito difícil situação econômica mundial e pela evolução da arquitetura das finanças ambientais.
TERRAMÉRICA: Em quais aspectos o GEF transformou a maneira como se maneja o meio ambiente mundial?
NI: A grande tendência é a direção de projetos multifocais. Isto é, quando apenas um só projeto aborda simultaneamente múltiplos desafios. Já não vemos o meio ambiente como uma série de “silos”, que dividem os problemas da mudança climática, desertificação, biodiversidade, contaminação química, águas internacionais… Entendemos que essas categorias estão conectadas integralmente, e que os programas mais efetivos são aqueles que abordam essas múltiplas áreas ao mesmo tempo. Um único programa que aspire combater a desertificação, por exemplo, também pode ter um impacto notável na manutenção da biodiversidade e em reduzir as emissões de gases de efeito-estufa. Outra característica fundamental é o avanço para o enfoque programático (alianças entre o GEF, um ou vários países e outros setores interessados, como empresas, ciência e sociedade civil). Isto permitiu generalizar os resultados do trabalho do GEF, ampliando sua escala e integrando os objetivos ambientais a planos nacionais ou regionais. O GEF já avançou muito nestas direções, e pretendo manter esse impulso positivo.
TERRAMÉRICA: Que futuro deseja para o GEF?
NI: Quero que o GEF desempenhe um papel de liderança na transformação do manejo do meio ambiente mundial. Já não basta uma mudança incremental, devido à magnitude do desafio que enfrentamos. Para que o GEF desempenhe esse papel é fundamental que continue sendo um promotor de inovações, um franco defensor dos bens comuns mundiais, um catalisador de mudanças transformadoras e um sócio a ser escolhido. Temos que ser realistas ao avaliarmos o êxito de nossos projetos. Precisamos de impactos sustentáveis ampliando aqueles que deram resultado positivo. O dinheiro que o GEF investe multiplica várias vezes seu valor em investimentos adicionais, o cofinanciamento, para apoiar iniciativas ambientais e de desenvolvimento sustentável. Os impactos também se expandem com as ideias e novas formas de fazer negócios que os sócios introduzem. Penso que o GEF está melhor situado para desempenhar um papel de liderança nessa transformação, mediante associações construtivas e catalisadoras com outros atores.
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FONTE : * O autor é correspondente da IPS.
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