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sexta-feira, 7 de outubro de 2022
Mudança Climática tornou seca no Hemisfério Norte 20 vezes mais provável
Por ClimaInfo-
A mudança climática impulsionou as altas temperaturas que secaram os solos em grandes partes do Hemisfério Norte no verão deste ano, segundo um novo estudo de atribuição da World Weather Attribution (WWA). A análise estima que as mudanças climáticas — causadas principalmente pelos combustíveis fósseis e pelo desmatamento — tornaram as condições de seca no verão pelo menos 20 vezes mais prováveis, ameaçando a segurança alimentar e energética desta região do globo onde estão as maiores economias.
O verão de 2022 no Hemisfério Norte foi um dos mais quentes já registrados na Europa, com mais de 24.000 mortes relacionadas às ondas de calor. China e América do Norte também experimentaram ondas de calor de duração e intensidade inéditas.
O calor foi acompanhado de uma seca extrema, que levou a uma escassez hídrica generalizada, incêndios e quebras de safras. A estiagem piorou muito a crise de preço dos alimentos e a oferta de eletricidade, ambas já impactadas pela guerra russa. Durante o verão, os incêndios na Europa foram os piores já registrados, a China emitiu seu primeiro alerta nacional de seca e mais da metade dos EUA estava em situação de seca.
“O verão de 2022 no Hemisfério Norte é um bom exemplo de como eventos extremos causados pela mudança climática também podem se desdobrar em grandes regiões e em períodos de tempo mais longos”, diz Friederike Otto, uma das autoras da pesquisa e palestrante sênior em Ciência Climática do Imperial College London, no Reino Unido. “Isso também mostra como a combinação de muitas mudanças diferentes no clima pode danificar nossa infraestrutura e sobrecarregar nossos sistemas sociais.”
Seca agrícola e ecológica
Para quantificar o efeito da mudança climática sobre os déficits de umidade do solo, os cientistas analisaram dados meteorológicos e simulações computadorizadas para comparar o clima como ele é hoje — cerca de 1,2°C mais quente desde o final do século 19 — com o clima do passado, seguindo métodos revisados por pares.
O estudo investigou os níveis de umidade do solo em junho, julho e agosto de 2022, em todo o Hemisfério Norte, excluindo os trópicos. Os pesquisadores estimaram esta umidade em duas medidas: os primeiros 7 e os primeiros 100 centímetros superiores do solo. O metro superior – conhecido como zona radicular – é particularmente importante para as lavouras porque é onde as plantas captam a água. A baixa umidade do solo nesta camada é frequentemente referida como seca agrícola e ecológica.
Os estudiosos descobriram que as mudanças climáticas tornaram a seca superficial cinco vezes mais provável e a seca agrícola e ecológica pelo menos 20 vezes mais provável em todo o Hemisfério Norte extratropical no verão de 2022.
A influência da mudança climática no aumento das temperaturas foi o principal fator identificado pelos cientistas para o maior do risco de seca agrícola e ecológica. Uma seca como a deste ano, afirmam, pode ser esperada cerca de uma vez em 20 anos em todo o Hemisfério Norte sob o clima atual. Se os humanos não tivessem alterado o clima da Terra, a seca agrícola no Hemisfério Norte teria sido esperada apenas uma vez em 400 anos ou menos, diz a pesquisa.
“O verão de 2022 mostrou como a mudança climática induzida pelo homem está aumentando os riscos de secas agrícolas e ecológicas em regiões densamente povoadas e cultivadas do Hemisfério Norte”, alerta Sonia Seneviratne, professora do Instituto de Ciências Atmosféricas e Climáticas da ETH Zurique, na Suíça, coordenadora principal do relatório AR6 do IPCC e uma das autoras da pesquisa.
“Este resultado também nos dá uma visão do que está se aproximando. Com mais aquecimento global, podemos esperar secas mais fortes e mais frequentes no verão no futuro”, disse Dominik Schumacher, coautor da pesquisa e também membro da ETH Zurique.
O estudo também colocou um foco sobre a Europa Ocidental e Central — região que passou por uma seca particularmente severa, com rendimentos agrícolas substancialmente reduzidos. Segundo a análise, a mudança climática tornou a seca superficial cerca de 5-6 vezes mais provável, e a seca agrícola e ecológica cerca de 3-4 vezes mais provável nesta parte do Hemisfério Norte. Isto não significa que a mudança climática tenha tido menos influência na Europa do que em outros lugares do Hemisfério Norte; as diferentes dimensões das regiões significam que os resultados não podem ser diretamente comparados, dizem os pesquisadores.
“O calor e a seca na Europa neste verão não só causaram dezenas de milhares de mortes diretas, mas também agravaram a crise do custo de vida, piorando os impactos da guerra na Ucrânia”, diz Maarten van Aalst, coautor da pesquisa e diretor do Centro Climático da Cruz Vermelha Crescente Vermelho, além de professor de Clima e Resiliência a Desastres na Universidade de Twente, na Holanda.
“Estamos testemunhando a impressão digital da mudança climática não apenas em perigos específicos, mas também no cascata de impactos entre setores e regiões”, conclui van Aalst.
Os pesquisadores disseram que descobrir a contribuição exata da mudança climática para a seca agrícola e ecológica é um desafio. Ao contrário da temperatura ou das chuvas, que podem ser medidas diretamente, a umidade do solo tem que ser estimada, aumentando a complexidade da análise. Esta complexidade significa que os resultados têm uma ampla faixa possível e as estimativas da influência da mudança climática no estudo são conservadoras: a influência real das atividades humanas é provavelmente maior, dizem os autores.
O estudo foi conduzido por 21 pesquisadores como parte do grupo World Weather Attribution, incluindo cientistas de instituições na Suíça, França, Holanda, Nova Zelândia, Reino Unido e EUA.
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O estudo “High temperatures exacerbated by climate change made 2022 Northern Hemisphere soil moisture droughts more likely” será publicado na quarta-feira, 5 de outubro, às 23h00 CEST, no site da WWA.
Autores do Estudo:
Dominik L. Schumacher1, Mariam Zachariah2, Friederike Otto2, Clair Barnes2, Sjoukje Philip3, Sarah Kew3, Maja Vahlberg4, Roop Singh4, Dorothy Heinrich4, Julie Arrighi4,5,6, Maarten van Aalst4,6,14, Mathias Hauser1, Martin Hirschi1, Lukas Gudmundsson1, Hiroko K. Beaudoing7,8, Matthew Rodell7, Sihan Li9, Wenchang Yang10, Gabriel A. Vecchi10,11, Robert Vautard12, Luke J Harrington13 and Sonia I. Seneviratne1
1 Institute for Atmospheric and Climate Science, ETH Zurich, Switzerland
2 Grantham Institute, Imperial College, London, UK
3 Royal Netherlands Meteorological Institute (KNMI), De Bilt, The Netherlands
4 Red Cross Red Crescent Climate Centre, The Hague, Netherlands
5 Global Disaster Preparedness Center, Washington DC, USA
6 University of Twente, Enschede, Netherlands
7 Hydrological Sciences Lab, NASA GSFC, Greenbelt, MD, USA
8 Earth System Science Interdisciplinary Center, University of Maryland, College Park, MD, USA
9 Department of Geography, University of Sheffield
10 Department of Geosciences, Princeton University, Princeton, NJ 08544, USA
11 High Meadows Environmental Institute, Princeton University, Princeton, NJ 08544, USA
12Institut Pierre-Simon Laplace (IPSL), CNRS, Paris, France
13 Te Aka Mātuatua School of Science, University of Waikato, Hillcrest, Hamilton 3214, New Zealand
14 International Research Institute for Climate and Society, Columbia University, New York, NY, US
World Weather Attribution (WWA) é uma colaboração internacional que analisa e comunica a possível influência da mudança climática em eventos climáticos extremos, tais como tempestades, chuvas extremas, ondas de calor, períodos de frio e secas.
Estudos anteriores da WWA incluem pesquisas que constataram que as mudanças climáticas exacerbaram as ondas de calor na Índia e no Paquistão e no Reino Unido no início deste ano e as recentes enchentes no Brasil. Estudos da WWA também mostraram que a onda de calor do ano passado na região Noroeste Pacífico da América do Norte teria sido “virtualmente impossível” sem a mudança climática, e que a mudança climática tornou as enchentes extremas na Europa em julho de 2021 mais prováveis, mas que não foi o principal motor da crise alimentar de Madagascar em 2021.
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