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sexta-feira, 28 de outubro de 2022
Pesquisa de escuta de crianças e mostra o que elas têm a dizer sobre o meio ambiente
Estudo feito pelo Instituto Alana, com apoio da Fundação Bernard Van Leer, ouviu crianças nas cinco regiões do país sobre temas complexos como natureza, mudanças climáticas, cidades e mobilidade urbana
“A gente tá contra um monstro contagioso, tipo uma raiz que foi infeccionada, a coisa vira um mutante”; “A natureza é um tipo de vida”; “Eu estou aqui me sentindo um ser livre. Tem o vento, o sol, uma garçazinha e esses peixes. E tem água também. Tudo isso representa uma vida e vários elementos”; “Fiz uma carroça com vassoura que limpa, com câmera que tira foto pra ver onde tá sujo”; “As pessoas estão jogando muito lixo nas ruas”. Essas são algumas das frases ditas por mais de 100 crianças e adolescentes das cidades de São Paulo (SP), Porto Alegre (RS), Brasília (DF), Recife (PE) e Boa Vista (RR), sobre o que elas pensam sobre natureza, mudanças climáticas, cidades e mobilidade urbana.
Esses sentimentos e percepções são trazidos por um estudo inédito, realizado pelo Instituto Alana, por meio dos pesquisadores Ana Cláudia Leite e Gandhy Piorski, com o apoio da Fundação Bernard Van Leer durante um ano. O resultado é apresentado em dois sumários executivos, “Por um método de escuta sensível das crianças”, que apresenta a metodologia construída pelos pesquisadores a partir de uma concepção de escuta que privilegia as múltiplas linguagens e o imaginário das crianças, e “Escuta de crianças sobre a natureza e as mudanças climáticas”, cujo conteúdo traz as produções e narrativas das crianças que dialogam com a questão ambiental.
“Esses assuntos são tratados com profundidade pelas crianças. Expressando-se por meio de modelagens, desenhos e objetos, elas evidenciam por meio da sua força imaginária a urgência de se encontrar soluções sistêmicas para problemas ambientais complexos e graves. Em suas produções a natureza aparece como fonte de vida, beleza, integração e desenvolvimento e, ao mesmo tempo, demonstram ter receio com os problemas ambientais, que já são sentidos por elas”, ressalta Gandhy Piorsky, coordenador da metodologia da pesquisa.
O compromisso assumido pelos pesquisadores foi fugir dos clichês e das respostas prontas, advindos de uma camada mais superficial dos dizeres das crianças, que tende a reproduzir discursos das instituições que permeiam a vida delas (como a escola, família, igreja, mídia e organizações sociais), e que, necessariamente, surgiriam se as trocas fossem feitas no formato de assembleias e fóruns, ou em uma lógica de perguntas e respostas diretas, tal como questionários e entrevistas. A escuta gerou um rico acervo composto de produções de crianças, com áudios, fotos, vídeos e diário de bordo. Ao todo, são cerca de 150 desenhos, 95 objetos, 80 produções em massa de modelar e 70 horas de áudio e vídeo, que foram organizadas e analisadas pelos pesquisadores a partir de temas que emergiram das narrativas das crianças.
“Construímos uma metodologia capaz de ser sistematizada e aplicada a propósitos de escuta diversos, contribuindo para o reconhecimento da importância de considerar a perspectiva e as necessidades das crianças na construção de políticas públicas, programas e ações. Quando há um convívio efetivo com os espaços da natureza, as narrativas vêm inundadas de impressões despertadas pelo contato com esses lugares. Elas também indicam a tecnologia e o acúmulo de conhecimento como possíveis aliados no enfrentamento dos problemas, mas que dependem de uma mudança de valores e compromisso ético dos adultos em colocar a sustentabilidade do planeta e a vida das presentes e futuras gerações em primeiro lugar”, explica Ana Claudia Leite, assessora de Educação e Infância do Instituto Alana.
No Brasil e no mundo, as crianças têm sido cada vez mais reconhecidas como sujeitos de direitos e produtoras de cultura. Iniciativas de escuta de crianças e de protagonismo infantil vêm ganhando força e repercussão. No entanto, ainda se faz necessário ampliar as metodologias realmente condizentes com a infância, visto que há muitas experiências que reconhecem a criança como sujeito, mas o fazem a partir de uma lógica adulta, com a reprodução de modos de expressão, de produção, de interação e de ambiente, antagônicos a essa fase da vida.
Para Pedro Hartung, diretor de Políticas e Direitos da Infância do Instituto Alana, crianças precisam ser consideradas não apenas por serem sujeitos de direitos, mas porque a humanidade ganha ao escutar as novas gerações. “A infância tem uma perspectiva e contribuição singular aos desafios individuais e coletivos. Essa escuta é fundamental pois é necessário engajar diversos atores para a mobilização urgente em prol das questões climáticas e fortalecer a incidência da pauta nas mídias e em ações junto a lideranças políticas e a governos locais”, ressalta.
Os sumários executivos na íntegra estarão disponíveis no site do Alana a partir do dia 25 de outubro. Clique aqui para acessar.
Para baixar imagens clique aqui.
Sobre o Instituto Alana
O Instituto Alana é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que aposta em programas que buscam a garantia de condições para a vivência plena da infância. Criado em 1994, é mantido pelos rendimentos de um fundo patrimonial desde 2013. Tem como missão “honrar a criança”.
#Envolverde
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