Por Andressa Santa Cruz, Mídia Ninja –
Mais de 300 casos da doença respiratória Covid-19 já foram confirmadas na Amazônia brasileira – três pessoas morreram. Pico de contaminação pode coincidir com a época de incêndios, quando internações por complicações pulmonares aumentam na região.
Após quatro semanas no Brasil, o novo coronavírus já estava presente em todos os nove estados da Amazônia Legal e hoje soma 436 contaminados e quatro mortes na região. Como a Covis-19 afeta principalmente as vias respiratórias, o cenário é de alerta com a aproximação da temporada de queimadas que começa em maio. Nesse período, a fumaça aumenta os casos de complicação respiratória na população amazônica.
Em agosto de 2019, a deputada Joênia Wapichana (Rede/RR) visitou a Terra Indígena (TI) Uru-Eu-Wa-Wa, em Rondônia, após receber inúmeras denuncias de idosos e crianças indígenas com problemas respiratórios. “Estamos respirando fumaça!”, relatou uma das lideranças em entrevista ao Instituto Socioambiental.
De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), quem mora próximo aos focos dos incêndios tem 1/3 a mais de chance de ser internado por problemas respiratórios. Ano passado, o aumento em 30% (INPE) das queimadas na Amazônia brasileira também fizeram aumentar o número de internações. Entre maio e junho de 2019, por exemplo, a hospitalização infantil dobrou em relação à 2018: foram cinco mil casos que custaram R$ 1,5 milhão a mais para o Sistema Único de Saúde (SUS).
Atualmente, Manaus é a cidade mais afetada pela pandemia, concentrando quase metade de todos os registros da Amazônia Legal (140 confirmados e duas mortes). Em nota, o governo amazonense afirmou que, sem isolamento social, 22 mil pessoas poderão precisar de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e “num curto espaço de tempo, aumentaria a possibilidade de óbitos já que o sistema de saúde não suportaria a demanda.”
Para além dos centros urbanos e do sobrecarregamento dos hospitais, o coronavírus coloca em cheque as fragilidades da assistência médica nas comunidades mais afastadas da Amazônia, como ilustra o primeiro caso confirmado em indígenas: uma mulher do povo Kokama, de 20 anos, que teve com um médico do Ministério da Saúde diagnosticado com Covid-19. Ela e mais 26 pessoas (metade indígenas) estão em isolamento domiciliar no Alto do Rio Solimões, sudoeste do Amazonas, e estão sendo monitoradas por uma equipe que foi enviada de helicóptero. O difícil acesso simboliza a distância dessas comunidades que, em alguns casos, estão à três dias de barco de hospitais e postos de atendimento básico.
No último dia 25, no entanto, o Conselho Nacional da Amazônia Legal dispensou medidas específicas para as regiões mais remotas durante primeira reunião sob governo de Jair Bolsonaro. Quem preside o órgão é o vice-presidente Hamilton Mourão que declarou a instalação de 12 postos de monitoramento de Covid-19 apenas nas fronteiras com países vizinhos. Quando questionado sobre as medidas para o interior da Amazônia, Mourão disse que a preocupação é menor pelo fato de a população estar em isolamento social, conforme as orientações do Ministério da Saúde.
Porém os grileiros, madeireiros e garimpeiros não paralisaram suas atividades e seguem ameaçando a existência dos povos da floresta, conforme alertam Carol Marçal do Santos e Danicley de Aguiar da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil. Em uma coluna publicada no portal Uol, ambos afirmam que o coronavírus pode causar mais um genocídio e “é urgente que o Estado brasileiro ouça os alertas dos povos indígenas e implemente ações concretas de proteção da floresta e de seus povos. É inadmissível negligenciar a saúde daqueles que cuidam da floresta.”
#EsvazieOsGarimpos
Caso a negligência histórica se repita, os povos da floresta correm o mesmo risco que enfrentaram no passado com as epidemias de malária, sarampo e gripe, quando comunidades inteiras foram dizimadas após o contato com não-indígenas contaminados. Temendo mais um genocídio, grupos indígenas e apoiadores indigenistas exigem a retirada de todos os invasores, em especial, a expulsão de 20 mil garimpeiros ilegais que estão dentro do território Yanomami (em Roraima e Amazonas), na divisa entre Brasil e Venezuela – nos últimos três meses, em meio a crise de mercado provocada pela pandemia global, o preço da grama do ouro subiu de R$197 para R$268, o que fortalece a atuação dos garimpos.
Além dos Yanomami, os Kayapó e os Munduruku, no Pará, também sofrem a corrida ilegal pelo ouro que aumentou após a posse do presidente Jair Bolsonaro, conforme imagens da Planet Labs avaliadas pela BBC. Somados, os três territórios ocupam uma área equivalente à do Estado de São Paulo e abrigam alguns dos trechos mais preservados da Amazônia brasileira.
“Pedimos a retirada imediata de todos os invasores das terras indígenas e dos territórios para impedir o avanço da vírus: os garimpeiros, madeireiros, caçadores, narcotraficantes, grileiros, missionários e turistas que são vetores de transmissão”, disse Nara Baré, coordenadora-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).
CASOS CONFIRMADOS DE CORONAVÍRUS NA AMAZÔNIA LEGAL (31/março)
Amazonas – 200 casos / 2 mortes
Amapá – 11 casos
Mato Grosso – 28 casos
Maranhão – 71 casos
Pará – 41 casos / 1 morte
Rondônia – 9 casos / 1 morte
Roraima – 22 casos
Acre – 42 casos
Tocantins – 12 casos
Amapá – 11 casos
Mato Grosso – 28 casos
Maranhão – 71 casos
Pará – 41 casos / 1 morte
Rondônia – 9 casos / 1 morte
Roraima – 22 casos
Acre – 42 casos
Tocantins – 12 casos
#Envolverde
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