Pesca Sustentável duplica número de pirarucus no Acre
Relatório divulgado recentemente pelo projeto Pesca Sustentável revela que em 2015 o número de peixes nos 13 lagos manejados pela iniciativa duplicou se comparado com o ano anterior.
Por Frederico Brandão, do WWF Brasil –
A contagem de pirarucus tem sido feita pelos 11 manejadores do projeto que utilizam uma metodologia que se baseia na visualização e no som produzido quando o pirarucu vai à superfície para respirar, a intervalos de 20 minutos, que os permite localizar e ter uma estimativa de tamanho, peso e sexo de cada espécie.
A partir das dimensões e da forma do lago, os pescadores se distribuem de forma que o local seja monitorado por completo. “A partir do registro de cada um deles, a contagem dá uma estimativa da população de pirarucus no lago. O conhecimento prático dos pescadores e suas habilidades na pesca da espécie, combinados com a técnica padronizada, resulta em um método eficiente e de baixo custo para contagem de populações de pirarucu num sistema de lagos. Essa metodologia viabiliza a pesquisa e o manejo sustentável da espécie”, explica Moacyr Silva, gestor do projeto Pesca Sustentável no WWF-Brasil.
O projeto, uma parceria do WWF-Brasil com o Fundo Amazônia, gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), atua desde 2014 nos municípios de Feijó e Tarauacá, no Acre, capacitando pescadores para o desenvolvimento de sistemas de manejo sustentável do pirarucu. Com o trabalho, em 2015, foram comercializadas cerca de 1,4 tonelada em Feijó, resultado da pesca de 23 pirarucus, no período de Junho a Agosto.
Os valores arrecadados são divididos entre toda a comunidade da seguinte forma: 65% para os manejadores, 20% para a comunidade onde fica o lago manejado e 15% para a Colônia de Pescadores de Feijó. De acordo com o relatório, a partir do trabalho realizado pelo Pesca Sustentável, a renda total líquida dos pescadores do grupo aumentou em 14%, para a Colônia aumentou em 66% e para a comunidade em 53%, se comparadas às rendas obtidas da atividade em 2014.
O projeto tem trabalhado com manejadores da espécie em seis comunidades do município de Feijó. Em 2015, eles tiveram um aumento que varia de R$ 900 a R$ 1.300 na renda familiar com a comercialização do pirarucu manejado. Uma alternativa a mais na renda que antes vinha apenas de programas sociais como o seguro defeso e bolsa família. Durante a safra de 2015, as medidas de monitoramento indicaram uma estabilização e manutenção em níveis viáveis dos estoques de pirarucu em lagos naturais de Feijó. Os trabalhos atualmente envolvem cerca de 100 pescadores (indígenas e não indígenas) de forma direta e aproximadamente 300 famílias.
Em algumas comunidades, o benefício foi revertido para bens de uso comum, como bebedouros para escola, escadaria de acesso ao rio, galpão para reuniões comunitárias, entre outros. Um dos principais benefícios gerados para eles tem sido a limpeza periódica dos lagos que o projeto apoia, feita em conjunto entre o grupo de manejadores e a comunidade, e que tem garantido aos ribeirinhos um espaço limpo e seguro para pesca de subsistência durante o ano inteiro.
“O suporte financeiro do Fundo Amazônia tem sido essencial na promoção da melhoria de qualidade de vida de pescadores. Foi um importante momento para avançar em diferentes componentes do projeto e fortalecer o plano de certificação do pirarucu manejado, o monitoramento dos acordos de pesca e o licenciamento ambiental do manejo aprovados para os seis lagos até o momento”, avaliou Silva.
Foi ainda em 2015 que o manejo da pesca também começou a ser implementado nos lagos da Terra Indígena (TI) Praia do Carapanã, em Tarauacá (AC). Como fruto deste trabalho, foram lançadas uma cartilha e um calendário bilíngues (Português-Kaxinawá) com o objetivo de orientar o povo Huni Kuin/Kaxinawá sobre as práticas corretas do manejo do pirarucu e como essa prática se insere no calendário anual de produção da comunidade indígena. A publicação se destaca pelas ilustrações que foram elaboradas pelos próprios indígenas da comunidade, durante oficinas realizadas pelo projeto.
“Um momento muito importante desse trabalho com os indígenas foi a formação técnica de monitores dos lagos que fizemos no ano passado com dez agentes. Eles foram capacitados e preparados para manuseio do instrumento de monitoramento dos lagos assim como ao mapeamento das dificuldades e de demandas para a melhoria desse processo”, explica o responsável pelo projeto.
Novos desafios
Para o ano de 2016, o projeto pretende expandir o manejo do pirarucu para nove aldeias dessa mesma TI, além de consolidar o grupo de manejadores em Feijó, fortalecer o monitoramento participativo dos lagos e da pesca, por meio dos smartphones cedidos pelo projeto, e dar continuidade ao processo de certificação da pescaria de pirarucu em Feijó. “Estamos trabalhando com uma perspectiva de certificação da pesca no médio prazo. A colaboração da Colônia de Pescadores e o engajamento dos parceiros e comunidades têm sido fundamental para os resultados obtidos até o momento”, avalia Moacyr Silva.
Segundo ele, ainda em 2015, foi feito o mapeamento de novos lagos para manejo de pirarucu. Dois novos lagos potenciais para foram incluídos para o manejo na Terra Indígena em 2016. Além disso, as parcerias do WWF-Brasil com a Colônia de Pescadores de Feijó, a Associação indígena Huni-Kuin, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o governo do Acre têm sido fortalecidas com o projeto. “Almejamos alcançar nos próximos anos a certificação MSC, ainda pioneira no Brasil para pescaria de água doce tropicais, e fortalecer organizações comunitárias que operam essa cadeia produtiva”, adiantou o representante do WWF-Brasil.
Outro objetivo para 2016 é negociar os termos da parceria para ampliar o número de lagos com acordos de pesca aprovados e também facilitar a resolução de alguns conflitos comunitários visando a retomada do manejo do pirarucu no município de Manoel Urbano. (WWF Brasil/ #Envolverde)
* Publicado originalmente no site WWF Brasil.
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