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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016
Emirados reforçam laços com a Argentina
Por Fabiana Frayssinet, da IPS –
Buenos Aires, Argentina, 3/2/2016 – O novo governo argentino e os Emirados Árabes Unidos (EAU) aprofundam a relação iniciada pela gestão anterior, quando a Argentina busca captar divisas para fortalecer tanto reservas como investimentos, no que denomina “uma nova etapa de abertura ao mundo”.O reforço das relações bilaterais acontecerá durante a visita à capital argentina do ministro das Relações Exteriores dos Emirados, xeque Abdulah bin Zayed Al Nahyan, que começará amanhã, iniciando uma viagem pela América Latina, até o dia 12, que prosseguirá por Equador, Colômbia, Panamá e Costa Rica.
Após vários encontros de alto nível, no dia 5, a IPS soube que a visita de Al Nahyan terminará com a assinatura de cinco acordos, entre outros sobre tributação, esportes, cooperação entre as estatais de notícias Télam (Argentina) e WAM (EAU), e um crédito emiratense para a província de Neuquén. Mauricio Macri, presidente da Argentina desde 10 de dezembro, já antecipou o interesse de reforçar as relações bilaterais, ao se reunir no dia 20 de janeiro, por ocasião do Fórum Econômico Mundial realizado na cidade suíça de Davos, com Hamad Shahwan al Dhaheri, diretor executivo da Autoridade de Investimento de Abu Dhabi (Adia).
Considerado o segundo fundo soberano de investimentos mais importante do mundo, a Adia administra o excedente de arrecadação petroleira dos EAU, uma federação de sete Emirados, formada por Abu Dhabi, Dubai, Sharjah, Ajman, Umm al Qaiwain, Ra’s al-Jaimah e Fuyairah.
O centro-direitista Macri, da coalizão Mudemos, e Al Dhaheri “conversaram sobre as perspectivas que se abrem para a Argentina e demonstraram entusiasmo nesta nova etapa do país”, informou Télam, de Davos. Foi uma referência ao fim de 12 anos de governo do falecido Néstor Kirchner (2003-2007) e de sua viúva e sucessora, Cristina Fernández (2007-2015), do Partido Justicialista, que integrou a centro-esquerdista Frente para a Vitória, que se define como antineoliberal.
“A Argentina quer se posicionar como um interlocutor sério, previsível”, destacou em Davos a ministra argentina das Relações Exteriores, Susana Malcorra. “O aspecto de abertura econômica, de busca por investimentos e oportunidades de negócios é fundamental em nossa agenda”, acrescentou.
Segundo um informe de sua embaixada em Buenos Aires, os Emirados têm uma importante participação nos mercados mundiais de capital,por intermédio de diversas instituições de investimento, entre outras, Adia, Dubai Ports World, Dubai Holding e Abu Dhabi’s International Petroleum Investment Co.Os Emirados são um interlocutor oportuno para a Argentina, destacou em entrevista à IPS o internacionalista Luis Mendiola, especialista em Oriente Médio, países árabes e África, do Conselho Argentino para as Relações Internacionais (Cari).
“Para eles o principal problema é sua extraordinária abundância de capitais, é onde colocar para que rendam melhor os extraordinárioscapitais excedentes que os altos preços do petróleo produziram durante quase uma década e meia”, destacou Mendiola, que foi embaixador na Arábia Saudita entre 1996 e 2005. Esses recursos poderiam ser aplicados em grandes obras de infraestrutura, como moradia, energia, transporte e comunicações, acrescentou.
Em janeiro de 2015, as autoridades da província de Neuquén, na Patagônia, informaram ter obtido um crédito de fomento, de US$ 18 milhões, do Fundo para Desenvolvimento de Abu Dhabi, destinado a financiar o projeto hidrelétrico Nahueve, para promover a irrigação em novas áreas produtivas, entre outras finalidades.
Os dois países estabeleceram relações diplomáticas em 1975 e abriram embaixadas em 2008, mas suas relações entraram em uma nova dimensão, quando, em janeiro de 2013, Fernández visitou Abu Dhabi, onde se encontrou com o presidente do país, Khalifa bin Zayed Al Nahyan. Nessa ocasião foram acordados convênios de cooperação em matéria alimentar, com a abertura do mercado emiratense para produtos não tradicionais argentinos, e a instalaçãodo primeiro escritório de negócios da Argentina nos Emirados.
Em 2014, segundo informou à IPS a Câmara de Comércio Argentina-Árabe, o intercâmbio comercial entre os dois países foi de aproximadamente US$ 228 milhões, com a balança bilateral a favor do país sul-americano, que exportou US$ 198,945 milhões, principalmente em alimentos e tubos de aço.Porém, Mendiola considera que há mais potencial porque, além de possuir uma das rendas por habitante mais altas do Golfo, os Emirados são uma das hub (central de negócios) de onde se reexporta produtos para terceiros países e grandes mercados, como Arábia Saudita, Índia, Irã e Paquistão.
Os laços bilaterais foram reforçados em abril de 2014, com uma visita à Argentina do presidente dos Emirados, primeiro-ministro e governador de Dubai, xeque Mohammed bin Rashid Al Maktoum. Durante a visita foi assinado um memorando para a cooperação no uso pacífico da energia nuclear. Nessa oportunidade, Fernández destacou que a Argentina faz parte do “exclusivo clube” que pode produzir energia nuclear, mas que também o faz “com um padrão de não proliferação”.
A então presidente se referiu também ao “enorme interesse” dos Emirados de investir na Argentina e financiar projetos de segurança alimentar. Em novembro de 2015, com apoio do governo local, cinco cooperativas argentinas de agricultores familiares participaram de uma feira internacional de especialidades alimentares em Dubai.
Na reunião em Buenos Aires também foi acordado promover projetos turísticos e de energias renováveis, setor no qual, além de ser uma potência em hidrocarbonos, os Emirados são considerados“a vanguarda” entre os países do Golfo e em nível internacional, pontuou Mendiola. “Os emiratenses têm uma capacidade de ir em frente e superar etapas que, nesse sentido, são, poderíamos dizer, modelo ou exemplo no Golfo, pelo menos nessa região”, apontou.
Durante sua visita à Argentina, Al Maktoum ressaltou que seu país não investe “por preferências ou definições políticas, mas por questões econômicas”. Por isso, Mendiola não se “surpreende” com o interesse dos Emirados na América Latina, já que “os países do Golfo, em geral, sempre tiveram políticas externas extremamente práticas e ao mesmo tempo modestas, no sentido de não demonstrar um alto perfil”.
“Penso que a diferença que pode haver neste momento é aproveitar o fato de haver um novo governo na Argentina, que se apresenta ao mundo como muito diferente do anterior, e isso provoca muito interesse porque eles têm um extraordinário nível de reservas e ao mesmo tempo de investimentos no exterior”, observou o especialista.
Mendiola recordou que os Emirados não tinham, até há pouco tempo, uma presença “evidente” na América Latina, ao contrário do que ocorria na África e Ásia. “A América do Sul até agora tinha sido para os países do Golfo, do ponto de vista de seus interesses econômicos, o último vagão do trem. E a modificação de governos sem dúvida alguma desperta a curiosidade e o interesse para ver como se pode aproveitar melhor estas oportunidades”, acrescentou.
Novas oportunidades para a região
Dentro de sua estratégia de reforçar os laços com a América Latina, o Ministério das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos realizou em dezembro um painel com os diplomatas no país de Argentina, Colômbia, Equador e Panamá, do qual participaram cerca de 70 organizações emiratenses governamentais, semigovernamentais e privadas.
Neste encontro em Abu Dhabi, o diretor do Departamento de Assuntos Econômicos e de Cooperação Internacional do Ministério das Relações Exteriores, Fahad al Tafaq, destacou o interesse emiratense em levar as relações com a América Latina a “níveis mais altos” para servir aos interesses comuns, segundo informou a agência WAM, de Abu Dhabi.
Durante o painel foram avaliadas oportunidades de investimento e alianças estratégicas em setores como energia, ambiente, tecnologia, turismo, agricultura, mineração e energia nuclear pacífica. Envolverde/IPS
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