Foram identificadas 55 espécies de cobras e lagartos em reserva da região do Médio Solimões, na Amazônia Central
Uma pesquisa do Instituto Mamirauá fez um levantamento das espécies de répteis e suas respectivas quantidades em diferentes áreas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, unidade de conservação localizada na região do Médio Solimões, na Amazônia Central.
Grande número de répteis
O Brasil tem o terceiro maior número de répteis do mundo, com 795 espécies descritas. Destes, 753 são espécies de répteis escamosos (lagartos, cobras e anfisbênias), dentre quais 44% têm ocorrência na Amazônia brasileira – correspondendo a 189 espécies de cobras e 140 de lagartos.
Devido ao grande número de espécies crípticas e a constante descoberta de novas espécies em diversas regiões do país, cientistas acreditam que este número deve ser ainda maior.
A pesquisa

Em um ano de coleta na unidade de conservação, foram identificados 512 espécimes de cobras e lagartos que totalizaram 39 espécies identificadas na terra-firme e 30 nas matas alagadas de várzea.
A pesquisa atestou um padrão já conhecido pelos cientistas para os ambientes terrestres amazônicos: enquanto a terra firme é mais rica em número de espécies, a várzea tem maior quantidade de animais.
A pesquisa atestou um padrão já conhecido pelos cientistas para os ambientes terrestres amazônicos: enquanto a terra firme é mais rica em número de espécies, a várzea tem maior quantidade de animais.
“A terra firme possui maior número de espécies porque é um ambiente altamente complexo, permite nichos diferentes, mas, em compensação, os recursos são limitados. A várzea é mais homogênea por ser um ambiente que alaga todos os anos, o que restringe a ocorrência de um grande número de espécies, com exceção das espécies aquáticas. Mas quem consegue se estabelecer lá tende a ter uma população maior, pois o ambiente é superprodutivo”, diz o autor da pesquisa, o biólogo e pesquisador do Grupo de Pesquisa em Ecologia de Vertebrados Terrestres (Ecovert), Iury Cobra.
Apesar de corroborar com este padrão, a pesquisa demonstrou uma diferenciação menor que a esperada entre os habitats estudados: houve uma semelhança grande na diversidade de espécies.
Iury defende que o resultado é decorrente da proximidade entre as áreas amostradas. “A Reserva Amanã possui uma grande área de transição entre a terra firme e a várzea, assim esses dois ambientes estão muito próximos”, explica.
Iury defende que o resultado é decorrente da proximidade entre as áreas amostradas. “A Reserva Amanã possui uma grande área de transição entre a terra firme e a várzea, assim esses dois ambientes estão muito próximos”, explica.
Adaptações da fauna
Na várzea, pesquisadores já observaram em espécies de ampla distribuição hábitos únicos e estritos a este ecossistema amazônico.
São os casos do jabuti que nada e da onça-pintada que vive nas copas das árvores durante a época de cheia e alagação das florestas.
O pesquisador sugere que estudos futuros podem mostrar que outras espécies de répteis também podem estar alterando o seu comportamento como resposta ao pulso de inundação da região.
A jararaca, de nome científico Botrops atrox, é um exemplo. O animal foi a espécie de cobra mais encontrada na área de várzea durante a pesquisa e já deu sinais de que passou, neste ambiente, a realizar mudanças comportamentais: a espécie conhecida como de hábito terrícola, ou seja, que passa a maior parte do tempo no solo, vive grandes períodos em árvores durante as cheias, apresentando comportamento exclusivamente arborícola por mais de três meses todos os anos.
De acordo com o cientista, a pesquisa se destaca por comparar a diversidade entre os dois ecossistemas diferentes.
“É mais comum pesquisas para estes grupos com coletas sistematizadas em terra firme ou com coletas esporádicas em várzea, dificultando a comparação ecológica dos ambientes, principalmente porque os esforços realizados entre os ambientes ou estudos não são padronizados”, explica Iury.
A comparação é importante porque pode mostrar como a mesma espécie habita ambientes diversos e, assim, demonstrar a influência do ambiente nos comportamentos dos animais.
“A biodiversidade da várzea e da terra firme são complementares e, ao mesmo tempo, muito diferentes. Quando se pensa em estratégias de conservação, é preciso priorizar os blocos de mosaicos de áreas e não somente a área grande de apenas um ecossistema. Lógico que o tamanho da área sempre será fator importante e estratégico para a conservação, mas quanto mais variação ecológica houver dentro destas áreas, mais específico e refinado vai ser o processo de conservação da biodiversidade. Isso é essencial para repensarmos as características de uso para cada um desses ambientes seja para exploração econômica, de políticas públicas ou de conservação da fauna e flora”, finaliza.
O trabalho conclui que os resultados indicam que a população de espécies na região é determinada pela complementariedade de espécies entre os dois tipos de florestas.
“Diferenças na biodiversidade entre os dois tipos de florestas podem ser explicados por fatores ecológicos e históricos, indicando que a manutenção de ambos os habitats é importante para proteger a biodiversidade a região. ”
O artigo, denominado “ Diversity of reptiles in flooded and unflooded forests of the Amanã Sustainable Development Reserve, central Amazonia” foi publicado em 2019 pela Herpetology Notes. (Mamirauá/#Envolverde)
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