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quinta-feira, 17 de março de 2011

Acidente nuclear no Japão faz os EUA tremerem

Enquanto o Japão segue lutando contra uma ameaça nuclear, legisladores, ativistas e representantes da indústria atômica dos Estados Unidos debatem sobre o futuro de seu próprio país. A polêmica está centrada na capacidade de Washington para enfrentar uma eventual crise semelhante à vivida pela cidade japonesa de Fukushima depois do tsunami do dia 11.

Existem 104 reatores nucleares nos Estados Unidos, 35 utilizando sistemas similares aos afetados no Japão. Legisladores como Edward Markey, do governante Partido Democrata, hoje questionam sua segurança. Em uma carta à Comissão Reguladora Nuclear (NRC) do dia 11, Edward expressa preocupação pela capacidade de resistência das centrais nucleares do país, várias delas sobre falhas geológicas, ou próximas.

Especial preocupação, destacou, é o projeto de reator fabricado pela Westinghouse e atualmente em exame pela NRC, que falhou nas provas de impactos sísmicos. Segundo Edward, um alto engenheiro da NRC assegurou que a estrutura de proteção interna do reator AP1000 é tão frágil “que poderia se destroçar como um copo de vidro” diante da pressão gerada por um terremoto.

O congressista também expressou preocupação pela capacidade de Washington para responder a um desastre, depois de recentes revelações de que a Agência de Proteção Ambiental, a NRC e a Agência Federal de Administração de Emergências não conseguiram chegar a um acordo sobre quem lideraria os esforços caso ocorra algo similar ao registrado no Japão. Edward solicitou completa investigação sobre as regulamentações de segurança à luz dos acontecimentos no complexo japonês de Fukushima, onde se teme um grande vazamento de radioatividade.

Foi criada uma zona de exclusão de 20 quilômetros em torno do complexo, e a imprensa local informou que aumentavam os níveis de radiação em Ibaraki, localizada entre Fukushima e Tóquio. O governo japonês minimizou a ameaça, apesar de solicitar urgente ajuda da NRC e da Agência Internacional de Energia Atômica.

Por sua vez, a administração de Barack Obama insiste que as centrais atômicas dos Estados Unidos são seguras e rejeitou os pedidos de uma moratória nos planos de desenvolvimento nuclear. O independente Instituto de Energia Nuclear também tentou conter o medo. Em uma declaração em seu site disse que é muito “prematuro” traçar paralelos entre os programas nucleares de Japão e Estados Unidos.

“O Japão enfrenta o que literalmente pode ser considerado o pior caso. Mesmo assim, o mais danificado de seus 54 reatores não liberou radiação em níveis que possam afetar a população”, disse o grupo, destacando os avanços obtidos pelo setor atômico nos últimos anos. “Enquanto não entendermos claramente o que ocorreu nas centrais nucleares de Fukushima e suas consequências, fica difícil especular sobre o impacto de longo prazo no programa de energia nuclear dos Estados Unidos”, afirmou.

No entanto, Linda Gunter, do grupo Beyond Nuclear, pediu maior transparência do governo do Japão e das autoridades do setor atômico. Linda disse à IPS que o derretimento parcial dos reatores de Fukushima deveria servir de alerta para os que defendem o uso de energia atômica. “Mesmo deixando de lado a questão da segurança, que obviamente agora está sobre a mesa devido ao que ocorre no Japão, e se a busca é de uma solução para a mudança climática, a energia atômica leva muito tempo para ser construída, os reatores demoram anos para entrar em funcionamento, e são muito caros”, afirmou.

“A maior parte do custo recai nos contribuintes norte-americanos. Então, para que seguir esse caminho?”, acrescentou. Além disso, “a confiabilidade da energia nuclear é praticamente nula em uma emergência quando existe esta confluência de desastres naturais”, ressaltou Linda.

No Japão, onde calcula-se que mais de dez mil pessoas desapareceram no tsunami da semana passada, a população teme o que se considera o maior desastre nuclear desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). À luz disto, a Beyond Nuclear e outras organizações pedem uma completa e gradual eliminação das usinas atômicas e maior investimento em energias verdes. “Temos agora a tecnologia para usar energias 100% renováveis e efetivas”, disse Harvey Wasserman, editor do site Nukefree.org.

“Mas as empresas têm grandes investimentos que seriam ameaçados em caso de renúncia ao carvão, petróleo, gás e energia nuclear”, disse Harvey à IPS. “Também temem a instalação de um sistema de energia que possa ser controlado pela comunidade, e não monopolizado pelo mundo corporativo. Assim, em última análise, é uma luta entre ricos e pobres, corporações e comunidades, entre tecnologia da morte e a que busca a sobrevivência”, acrescentou. Outros especialistas apontaram a perigosa ligação entre energia atômica e a proliferação de armas nucleares.

“O já destacado renascer nuclear definitivamente acabou”, disse John Burroughs, diretor-executivo do Comitê de Advogados sobre Políticas Nucleares e diretor do escritório norte-americano da Associação Internacional de Advogados contra as Armas Atômicas. “Cada reator produz combustível contendo plutônio, que pode ser usado em armas. A ligação entre arsenais e energia atômica deve ser parte de uma revisão do setor”, disse à IPS.

“Sem dúvidas, o desastre no Japão gerará novas demandas para que a indústria nuclear e seus reguladores sejam mais transparentes. As mesmas demandas devem se estender aos responsáveis pelas armas atômicas nos nove países que as possuem”, afirmou John. As cinco potências “declaradas” são China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia, enquanto as quatro “não declaradas” são Coreia do Norte, Israel, Índia e Paquistão.
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FONTE : Andrea Lunt, da IPS, com colaboração de Kanya D’Almeida.(IPS/Envolverde).

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