O trabalho começou a ser desenvolvido poucos dias após o rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, que afetou a bacia com toneladas de rejeitos de mineração
Uma equipe de pesquisa da Universidade Federal de Viçosa (UFV) tem recuperado as áreas de cultivo degradadas pelo rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana (MG), sem retirar os rejeitos. O projeto é um dos 16 contemplados pelo edital da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) voltado a propostas de recuperação da bacia hidrográfica do rio Doce nas áreas afetadas pelo desastre ocorrido há mais de um ano. Ouça matéria sobre o assunto.
O trabalho começou a ser desenvolvido poucos dias após o acidente que afetou a bacia do rio Doce com toneladas de rejeitos de mineração. Coordenado pelo pesquisador Carlos Ernesto Reynaud Schaefer, da UFV, o projeto terá agora o apoio da Capes para ampliar o campo de atuação.
Cerca de 30 hectares entre os municípios de Barra Longa e Rio Doce, em Minas Gerais, já foram recuperados e apresentam resultados positivos para produção agrícola por meio de técnicas de correção de solo. São utilizados métodos de cobertura com materiais agrícolas, aliados à correção do solo com adubação ou calcário. Outros 90 hectares estão em tratamento ou pesquisa. A expectativa é levar as técnicas desenvolvidas para os locais de cultivo ao longo da bacia. São cerca de 500 hectares com potencial de serem recuperados.
“A gente quer que isso seja replicado para, se possível, todas as áreas que foram afetadas. A nossa estratégia é tentar tratar e remediar com o mínimo impacto adicional”, explica o pesquisador. “Apesar de ser um acidente que gerou uma catástrofe ambiental sem precedentes, estamos utilizando essa lição como uma possibilidade de desenvolver uma tecnologia que seja apropriada para esses casos.”
Edital
Lançado em abril de 2016, o edital tem como objetivo apoiar projetos de pesquisa científica, tecnológica e de inovação. A seleção de propostas visa a formação em nível de pós-graduação stricto sensu e a geração de conhecimento, tecnologias e processos que ajudem a recuperar a bacia do rio Doce e ecossistemas associados nas áreas temáticas prioritárias de estudos socioeconômicos, uso do solo, qualidade de vida, áreas degradadas, qualidade da água, ecossistemas de estuário, redução de resíduos, saneamento básico, governança, biota (seres vivos) e Mata Atlântica.
As propostas devem ser desenvolvidas em rede, de forma multidisciplinar, e em diferentes instituições de educação superior. O edital é promovido em parceria entre a Capes, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Agência Nacional de Águas (ANA).
Projetos
O diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação da Fapemig, Paulo Beirão, explica que alguns fatores foram determinantes para a escolha dos projetos, como soluções objetivas para recuperar a bacia e o trabalho a ser desenvolvido em rede por instituições e comunidade. “O projeto tem realmente foco na solução do problema. Ele não é, simplesmente, um projeto acadêmico que vai gerar relatórios, publicações. É claro que a gente espera que isso aconteça também, mas um dos critérios é ver como se propõe a transferir esse conhecimento gerado”, destaca.
Outro aspecto avaliado é o nível de recuperação da bacia. Segundo Beirão, a intenção é fazer com o que o rio Doce volte aos mesmos níveis de qualidade que tinha há cerca de 20 anos. O diretor afirma ainda que existem chances reais de que o esforço e o conhecimento sejam utilizados no futuro em outras bacias degradadas.
As propostas aprovadas serão financiadas com recursos no valor total estimado de R$ 11,25 milhões. Desses, R$ 4 milhões são oriundos da Capes para financiar despesas de custeio e bolsas de pós-doutorado de instituições de todo o território nacional. Outros R$ 4 milhões são da Fapemig, para bolsas de pesquisa em Minas Gerais. A Fapes irá financiar outros R$ 2 milhões voltados a instituições do Espírito Santo. O CNPq destinará R$ 1 milhão para despesas específicas com bolsistas que tenham tido o projeto aprovado por uma das outras agências. A ANA colocará à disposição R$ 250 mil para financiar exclusivamente despesas de capital de redes de pesquisa contratadas pela Capes.
Da Capes, no Jornal da Ciência/SBPC
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 19/04/2017
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