Blog com notícias de Ecologia atualizado diariamente. Publica notícias de outros blogs similares, ONGs, instituições ambientalistas, notícias jornalísticas e oficiais, fotos, críticas, poemas, crônicas, opiniões. A FONTE e o AUTOR são rigorosamente citados sempre.
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
Mudanças climáticas podem provocar uma nova configuração na geografia brasileira - 8/1/2009
Mudanças climáticas podem provocar uma nova configuração na geografia brasileira
Um estudo realizado na Universidade Federal de Minas Gerais aponta que, ao afetarem a agricultura do Nordeste brasileiro, as mudanças climáticas trarão consequências bastante profundas para a economia da região. Um dos pesquisadores envolvidos com o estudo é o professor Ricardo Ruiz, que conversou com a IHU On-Line por telefone sobre essas consequências. Segundo ele, se afetarem a agricultura, as mudanças climáticas poderão provocar uma redução de até 11% no PIB nordestino. O estudo é ainda recente e não foi concluído. Uma segunda fase buscará compreender ainda a influência caso haja consequências para a energia da região. Ruiz avalia ainda que a migração pode voltar a aumentar, porém agora não apenas para o Sudeste, mas também para o Centro-Oeste e o Norte do país. “Uma mudança na geografia brasileira irá ocorrer caso as mudanças climáticas se confirmem”, avisa.
Ricardo Ruiz é graduada em Economia, pela Universidade Estadual de Campinas. É mestre em Ciência Econômica, pela Unicamp, e doutor em Economia, pela New School for Social Research, dos Estados Unidos, além de professor na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Confira a entrevista.
IHU On-Line – De que forma as mudanças climáticas irão atingir a região Nordeste do país?
Ricardo Ruiz – O que fizemos neste estudo é uma avaliação de impacto das mudanças climáticas em um segmento específico da economia nordestina, no caso a agricultura. Ou seja, como as mudanças climáticas afetam as atividades agrícolas e, quando isso acontece, como atingem o conjunto da economia nordestina. Nós fizemos esse estudo e chegamos à conclusão de que, para o conjunto da economia nordestina, as mudanças climáticas, afetando somente as atividades agrícolas, geram uma redução no PIB potencial da economia nordestina em 11%. Isso quer dizer que a economia local terá um custo maior e uma renda menor, ou seja, a economia nordestina sofrerá os impactos climáticos e uma capacidade menor de gerar renda. Essa é a grande conclusão.
IHU On-Line – Considerando a oferta de água e geração de energia, juntamente com esse problema que será causado na agricultura e decorrência do aquecimento global, o que podemos prever para a economia do Nordeste do país?
Ricardo Ruiz – No caso, a geração de energia é um ponto crítico no Brasil e no Nordeste. Não temos informação sobre os impactos das mudanças climáticas na geração de hidroeletricidade. Esse estudo não está concluído ainda. Mas estamos captando o impacto negativo de 11% no PIB nordestino, caso ocorram as mudanças climáticas dentro do cenário A2 do IPCC, ou seja, o cenário de mais impacto. Esse valor de 11% está subestimado, porque nos faltam ainda informações para estimar o impacto na geração de energia elétrica. Se incorporarmos o impacto da energia elétrica, provavelmente a queda no PIB será maior.
IHU On-Line – É possível mudar esse quadro?
Ricardo Ruiz – O problema climático não é um problema exclusivamente brasileiro. Esse é um problema mundial. Para mudar esse cenário de aquecimento da Terra devido a atividades econômicas poluidoras, dependemos também dos que os outros países fazem. Esse é um problema global e assim deve ser tratado. O que podemos fazer aqui no Brasil? Primeiro, dar apoio político aos que defendem a minimização dos impactos climáticos, basicamente os países europeus. Precisamos também desenvolver novas tecnologias de captação e conservação de água. As atuais tecnologias talvez não sejam eficientes para um cenário mais adverso. Por exemplo, conservar água em açude é eficiente caso a temperatura suba 4ºC? Claro que não. Essa é a primeira linha. A segunda linha é uma que já está sendo explorado na Embrapa, o desenvolvimento de novas culturas mais resistentes a altas temperaturas e à seca. A Embrapa é o grande órgão que seria o chefe dessa política de desenvolvimento de políticas e novas culturas. A terceira linha é que precisamos modificar os costumes das famílias, das empresas, dos prestadores de serviço, isto é, de todo mundo que utiliza água. É preciso ensinar a população a reciclar água. O problema é que temos muito pouca tecnologia de reciclagem de água. Devemos desenvolvê-la com urgência. E, obviamente, precisamos ensinar a população a consumir menos água num cenário como esse. Isso é particularmente importante para o Nordeste do país.
IHU On-Line – Que tipo de consequências as outras regiões do país podem sofrer em decorrência do que o aumento da temperatura causará à economia do Nordeste?
Ricardo Ruiz – Como o impacto no Nordeste será muito intenso e negativo, algumas regiões tendem a ganhar e outras a perder. Por exemplo, alguns estudos apontam que no Centro-Oeste a soja pode se tornar mais difícil de ser cultivada e sua produção pode diminuir. O oeste baiano vai deixar, provavelmente, um produtor de soja no futuro. Obviamente, isso coloca outros estados em vantagem, pois foram grandes produtores de soja e hoje não conseguem ser de forma produtiva, em particular o Rio Grande do Sul e o Paraná. Vale o mesmo para o café, que pode deixar de ser cultivado em Minas Gerais e voltar a ser produzido pelo Paraná. Várias atividades agrícolas irão sofrer mudanças no país. Não temos respostas definitivas para isso, mas apenas especulações. Esses temas precisam de mais estudos.
IHU On-Line – E qual a situação da migração atual?
Ricardo Ruiz – A migração é um tema importante para o Nordeste. Nos últimos dez anos, a migração tinha diminuído um pouco para o Sudeste. Muitos estavam voltando para o Nordeste, porque as condições estavam melhorando. Se por acaso o impacto climático for mesmo intenso, essas pessoas podem voltar a migrar. Outro movimento que estamos detectando já é uma migração para o Norte e Centro-Oeste. Em alguns anos, poderemos encontrar uma grande migração, mas agora não apenas para o Sudeste do Brasil.
IHU On-Line – E, em relação ao Brasil, surgirá uma nova geografia da produção agrícola?
Ricardo Ruiz – Pode. Nesse estudo, já detectamos algumas potenciais mudanças, mas a pesquisa é ainda muito preliminar. Precisamos continuar estudante este tema, mas tenho certeza que uma mudança na geografia brasileira irá ocorrer caso as mudanças climáticas se confirmem.
Gás carbônico vai triplicar até 2017. Governo brasileiro contradiz o próprio plano climático
Se por um lado a área ambiental do governo firma compromissos para reduzir as emissões de gás carbônico por meio da queda do desmatamento, do outro o planejamento do setor elétrico prevê mais geração termoelétrica, considerada uma energia mais poluente. Análises de técnicos do próprio governo indicam que as emissões de CO2 dessas novas usinas saltarão dos atuais 14 milhões de toneladas para 39 milhões em 2017.
**************************************************
Fonte: Imprensa MST (Envolverde/Jornal do Meio Ambiente)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário