Com cerca de 9 a 10 bilhões de pessoas em 2050 e incontáveis outros seres que coabitam a Terra com a humanidade, será preciso estabelecer regras mais rígidas de convivência e uso dos recursos naturais
Em 1966 o escritor norte-americano Harry Harrison escreveu um livro onde apontou para o distante ano de 2020. “Make Room” recebeu no cinema o título de “Soylent Green”, que no Brasil foi chamado de “O mundo de 2020”. Uma visão de um planeta superpovoado e com seus ecossistemas destruídos pelo aquecimento global e pela poluição dos oceanos e de todos os biomas. Essa visão apocalíptica foi construída em um momento da história em que as nações se reconstruíam do caos da 2º Guerra Mundial e quando o paradigma de desenvolvimento baseado no consumo brilhava como a solução para o capitalismo ocidental.
Em uma Nova York onde o Central Park foi transformado em uma estufa com umas poucas árvores, a trama foi construída em torno da falta de alimentos para a superpopulação. Uma sociedade profundamente desigual em que uma casta dominante tinha acesso aos confortos clássicos de comida natural, água limpa e segurança, uma maioria miserável sobrevivia à míngua e qualquer direito ou conforto.
Este filme, lançado no Brasil em 1973, despertou em mim a primeira sensação de que possivelmente a humanidade estaria caminhando em direção a um caos civilizatório, social e ambiental, com uma visão econômica baseada na acumulação de bens e riquezas por poucos e o abandono dos mais pobres à própria sorte.
Hoje se apontarmos 50 anos no futuro que visão podemos ter? Possivelmente de um planeta devastado pelos interesses econômicos de uma elite global descomprometida com o bem-estar da humanidade e da vida na terra. As forças tendenciais neste primeiro quarto do século 21 apontam para um mundo profundamente desigual. Neste ano de 2020, com pouco menos e 8 bilhões de pessoas na Terra pode-se dizer que apenas perto de 3 bilhões tem condições de vida consideradas dignas, com acesso a alimentação, moradia, saúde, educação e trabalho. Cerca de 5 bilhões de pessoas têm carências em um ou em todos os direitos considerados universais, mas que não estão universalizados.
Muito pouco nos separa, da visão projetada por Harry Harrison, neste primeiro quarto do século 21. O planeta registra quase todos os dias a extinção de alguma espécie animal ou vegetal, os biomas são devastados por interesses que se escondem por trás de uma cortina dourada de marketing. Na maioria das vezes o que se percebe é que o discurso das elites econômicas e governantes não guardam relação com os fatos. Os fatos apontam que em 2050 haverá mais plásticos nos oceanos do que peixes, que a temperatura do planeta deverá ter uma aumento médio de 5 graus centígrados
O presente é o momento certo para se alterar o futuro, a linha do tempo corre inexorável para a frente e cada momento é o passado do momento seguinte. O hoje é o passado do amanhã e, portanto, o que fizermos hoje impactará diretamente em como será o futuro.
Com cerca de 9 a 10 bilhões de pessoas em 2050 e incontáveis outros seres que coabitam com a humanidade, será preciso estabelecer regras mais rígidas de convivência e uso dos recursos naturais.
Qualquer analista de risco minimamente preparado diria que daqui a 50 anos a humanidade e o planeta estarão em um estado deplorável, que dificilmente haverá algum bioma ainda intacto e que a miséria terá se instalado em quase todos os quadrantes da Terra. Não há vontade política em se frear os processos de degradação da biodiversidade e dos habitats. Os países ricos apostam em muros reais, legais ou militares para manter a desigualdade fora de suas fronteiras.
Além das barreiras institucionais ao desenvolvimento de uma sociedade mais igualitária, há a barreira de preconceitos e desinformação erguida pelas classes médias de quase todos os países, que procuram negar qualquer traço de planejamento que possa arranhar seus privilégios, mesmo que para isso precisem negar a ciência, a história, a medicina e a cultura.
Como disse o economista Ignacy Sachs, precisamos com urgência reconhecer que nos metemos em um tremendo buraco civilizatório e só vamos sair dessa situação através de muito planejamento sobre onde estamos e para onde queremos ir. (Envolverde)
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