Por Thalif Deen, da IPS –
Nações Unidas, 20/1/2016 – Tudo faz pensar que a forte queda dos preços do petróleo, os menores em quase 13 anos, repercutirá nos fundos destinados à ajuda para o desenvolvimento e às emergências humanitárias. Os US$ 30 alcançados pelo preço do barril nos últimos dias, em comparação com os US$ 110 de 2014, indicam que “os ricos países petroleiros já não são tão ricos assim”, segundo o jornal norte-americano The New York Times.
O mundo já sofria a desaceleração da economia da China e a valorização do dólar norte-americano, o que aprofunda a ansiedade dos mercados internacionais. Prevê-se que a queda do preço do petróleo também tenha impacto nos US$ 7,2 trilhões em fundos soberanos que os países produtores de hidrocarbonos possuem, entre eles Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Catar.
Agora que os Estados Unidos levantaram as sanções ao Irã – o sétimo maior produtor de petróleo do mundo em 2014 – haverá um excesso ainda maior do produto no mercado, o que continuará baixando os preços e terá consequências negativas para a economia global. As agências da Organização das Nações Unidas (ONU), que dependem em grande parte das contribuições “voluntárias” dos países industrializados, se preparam para o pior.
Apesar de o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, entender as realidades econômicas dos Estados membros, “é de vital importância que as nações continuem dando generosamente a ajuda ao desenvolvimento e a ajuda humanitária”, ressaltou à IPS o porta-voz adjunto das Nações Unidas, Farhan Haq.
Um informe da ONU, divulgado no dia 15, pelo Grupo de Alto Nível sobre Financiamento Humanitário, assegura que este ano haverá déficit de US$ 15 bilhões nos fundos destinados às emergências humanitárias. O documento alerta para a brecha cada vez maior entre o número de pessoas que necessitam de assistência e os recursos necessários para proporcioná-la.
“Peço aos países ricos, aos países europeus, que aumentem seu generoso apoio financeiro a todos esses imigrantes e refugiados, em lugar de desviar a ajuda para o desenvolvimento já destinada”, afirmou Ban em dezembro. Nessa ocasião disse que, “inevitavelmente, pode ser que tenham que desviar temporariamente e utilizar esse dinheiro para o desenvolvimento com fins humanitários, mas no longo prazo, se esse tipo de tendência continuar, somente perpetuará o desequilíbrio entre o humanitário e o desenvolvimento”.
Em seu informe, o Grupo De Alto Nível faz várias recomendações:
- a reclassificação dos critérios de aptidão da Associação Internacional de Fomento (AIF) do Banco Mundial, para que os fundos cheguem às pessoas – e não aos países – que deles precisam, para ampliar as oportunidades dos países de renda média;
- que uma porcentagem maior de assistência oficial ao desenvolvimento seja dirigida às situações de fragilidade e às emergências prolongadas, que se fomente a resiliência e diminua a fragilidade;
- que sejam triplicados os fundos da Janela de Resposta às Crises da AIF e se amplie a capacidade de financiamento para as emergências de outras instituições financeiras de desenvolvimento;
- a inscrição voluntária dos governos a um mecanismo de “imposto de solidariedade” para financiar a ajuda humanitária;
- canalização do financiamento social islâmico e outros instrumentos para as causas humanitárias.
“Nosso ponto de partida foram os fatos e os números crus: 125 milhões de pessoas necessitadas, um recorde de US$ 25 bilhões ao ano para ajudá-las, mas, apesar disso, as necessidades continuam superando os recursos”, afirmaram os coordenadores do informe, Kristalina Georgieva, da Bulgária, e Nazrin Sha, da Malásia.
“Uma brecha de US$ 15 bilhões é muito dinheiro, mas em um mundo que produz US$ 78 trilhões não deve estar fora do alcance. Acabar com essa brecha significaria que ninguém precisasse morrer ou viver com dignidade por falta de dinheiro e uma vitória para a humanidade em um momento em que é muito necessária”, afirmaram os presidentes.
Como assinala este informe, mais de 120 milhões de pessoas vivem na angústia constante, sem trabalho, comida, água, abrigo ou atenção médica, assinalou Ban. “Se todos estivessem em um só país, esse seria o décimo-primeiro país em tamanho do planeta. E seria um dos de maior crescimento. E se o mundo fosse uma escola, teria poucos lugares para as crianças necessitadas. Como sabem, temos 60 milhões de crianças fora da escola”, acrescentou o secretário-geral.
Esta não é uma analogia abstrata, disse Ban ao apontar que 750 mil crianças sírias ficaram sem aula em 2015, porque “não pudemos financiar seu direito à educação”. A ONU trabalha cada hora de cada dia para resolver as complexas causas das crises, destacou o secretário-geral. “Também nos apressamos a combater os incêndios. Há tantos incêndios que ardem em todo o mundo”, acrescentou.
Ban disse que é secretário-geral da ONU em uma época de recordes trágicos. Desde a fundação do fórum mundial, em 1945, o mundo tem a maior quantidade de pessoas necessitadas de assistência humanitária e a maior quantidade de solicitações de fundos. “Também temos o maior déficit na história em fundos dados a esses pedidos”, ressaltou.
Em 2015, quase metade dos pedidos de fundos feitos pela ONU ficou sem atendimento, pontuou Ban. Mas a queda do preço do petróleo faz com que as perspectivas da ajuda humanitária e para o desenvolvimento sejam ainda mais sombrias em 2016. Envolverde/IPS
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