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domingo, 22 de dezembro de 2019

Inventário florestal e formação de jovens será legado da bacia do Rio Doce

Por Redação Envolverde –
O caminho para um futuro mais sustentável, com o engajamento dos jovens em toda a bacia do Rio Doce, vai muito além das reparações obrigatórias para a Fundação Renova
O impacto do desastre ocorrido em Mariana em novembro de 2015 continua presente na vida das pessoas afetadas direta ou indiretamente nos 39 municípios ao longo do Rio Doce e seus afluentes.  Mas também é verdade que outra história começa a ser construída. Uma história que não quer apagar o passado, mas edificar um futuro mais sustentável para a região.
Por meio de diversos projetos a Renova realiza ações que permanecerão como um legado quando a fundação concluir suas ações de reparação socioambiental. A ideia é que, quando isso ocorrer, haverá muitas pessoas e organizações capacitadas a dar continuidade a projetos e planos que sejam, ao mesmo tempo, economicamente viáveis e estruturantes para o desenvolvimento da região.
Sementes da Vida
Um projeto que possui grande alcance é a Rede Sementes e Mudas, que começa seus trabalhos para atender as áreas degradadas na bacia do Rio Doce nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Neste início de programa, o objetivo é desenvolver mudas e sementes de espécies nativas da Mata Atlântica para a recuperação de 5 mil nascentes e 40 mil hectares de áreas que não foram diretamente atingidas pelo rejeito da barragem de Fundão. Mas a ideia é ir além, criando uma grande cadeia produtiva para a restauração ambiental de longo prazo promovendo, dessa maneira, oportunidades de geração de emprego e renda permanentes.
Rede de Sementes e Mudas lançada no fim de 2019 para recuperação florestal. crédito: Leonardo Morais/Fundação Renova
A Rede de Sementes engloba coletores de sementes e produtores de mudas e, além de fornecer para a Renova, também poderá trabalhar livremente com outros interessados. Entre os principais objetivos da iniciativa está o desenvolvimento de um mercado sustentável de valorização das espécies nativas, que sirva de exemplo para ser replicado em outras partes do país.
Entre as parcerias já firmadas está a com o Assentamento Liberdade, no município de Periquito (MG). Lá vivem 33 famílias assentadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e outras seis, que aguardam a conclusão de seus processos. “Com essa parceria, o desejo do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), que atua na área, é o de produzir e ao mesmo tempo proteger a natureza. Produzir água e comida de forma sustentável”, explica Agnaldo Batista, coordenador do setor de produção do MST em Minas e, completa: “A bacia do Rio Doce sofreu 200 anos de degradação ambiental, que só se agravou com o rompimento da barragem”.
Nos viveiros do Assentamento Liberdade são produzidas 11 espécies nativas da Mata Atlântica. “Elas são divididas em duas funções ecossistêmicas: as de recobrimento, para crescer rápido em solos pobres e formar copas para combater o capim, que é uma espécie exótica e invasora, e as espécies de diversidade, que vão durar mais tempo, chegando a 100, 200 ou mais anos e garantindo a perpetuação da floresta”, conta, com otimismo, Leandro Abrahão, engenheiro florestal e analista socioambiental da Fundação Renova. Segundo ele, o trabalho acaba sendo facilitado graças à organização das famílias e a boa capacidade de produção. “Temos um potencial grande. Atualmente possuímos em torno de 700 mil mudas nos seis viveiros espalhados pelo estado”, informa Leandro.
No Viveiro Periquito são produzidas plantas para afastar as espécies invasoras e árvores nobres, que viverão por décadas. – crédito: Guilherme Dutra
O Assentamento Liberdade busca entidades e empresas que possuem passivo ambiental ou iniciativas de recuperação e que possam se interessar em firmar convênio. Exemplo importante do trabalho do grupo é o convênio estabelecido com a Companhia Energética de Minas Gerais, a Cemig, que servirá para reduzir o passivo ambiental acumulado em várias obras da estatal mineira que causaram desmatamento. Serão reflorestadas áreas em diferentes regiões do estado, somando 116 hectares. Parcerias também estão sendo firmadas para a criação e o desenvolvimento de outros viveiros.
Patrimônio florestal mapeado
Talvez um dos mais importantes legados a ser deixado pela Fundação Renova será o Inventário Florestal. É um estudo inédito que está sendo realizado sobre as condições da vegetação e do solo em 86.715 km² da bacia do Rio Doce. Para o projeto, serão coletados dados dos indivíduos vegetais, como: altura, diâmetro à altura do peito, espécies, entre outros.
QRCode que é instalado nas árvores catalogadas para o Inventário Florestal. crédito: Arquivo Fundação Renova
Este será o mais completo Inventário Florestal já realizado no Brasil e deve ser concluído até o final do próximo ano (2020).  A complexa tarefa está sendo levada à frente com a fundamental colaboração dos produtores rurais. As conclusões do estudo servirão como base para as futuras ações de recuperação ambiental na região.
“O inventário é muito importante para saber quais espécies ocorrem naturalmente e quais se adaptam melhor em cada tipo de ambiente, como topos de morro, áreas de encosta ou em áreas suscetíveis a alagamentos sazonais, por exemplo. Dessa forma, teremos conhecimento dos ambientes de referência para que possamos comparar o avanço do processo da restauração florestal, tendo como base ambientes de regeneração natural em diferentes estágios de sucessão ecológica”, explica Leandro Abrahão, analista socioambiental da Fundação Renova.
Compartilhando conhecimento e experiências
Por fim, o projeto “O futuro do Rio Doce somos nós”, de Formação de Lideranças Jovens, faz parte da agenda da Renova para a bacia do Rio Doce. O projeto tem como principais objetivos o engajamento e o empoderamento das comunidades, por meio de seus jovens, na construção de soluções para melhoria da qualidade socioambiental em todos os territórios impactados pelo rompimento da barragem de Fundão. As ações são organizadas, em parceria com a Renova, pelo Instituto Elos, que é uma organização com experiência em ações em regiões de alta vulnerabilidade social para fortalecer a capacidade das pessoas de transformar a própria realidade.
Em 2018, o Instituto Elos selecionou 90 jovens de 22 municípios ao longo da bacia do Rio Doce para participar de processos de formação educacional e de liderança. Hoje, 23 projetos estão sendo implementados. Entre os projetos selecionados, estão ações para reflorestamento e revitalização de nascentes, intervenções culturais, desenvolvimento profissional de jovens em situação de vulnerabilidade social, empreendedorismo negro e oficinas artísticas.
Eles atuam com ações de articulação, mobilização, formação e engajamento que contribuem para alavancar o desenvolvimento sustentável da bacia do Rio Doce. No processo de implantação, os grupos foram assessorados pelas equipes da Fundação Renova e do Instituto Elos. Importante destacar que os projetos foram escolhidos pelos próprios jovens de acordo com suas realidades e necessidades em cada território e comunidade.
Entre os projetos contemplados estão vários que repensam os cuidados com a recuperação ambiental, como o Reviva Nascentes.
“Grupo de jovens de Tumiritinga (MG) criou o grupo Reviva Nascentes com o apoio do Instituto Elos”. Crédito: Lucas Santos
Voltado para os jovens moradores do Assentamento 1º de Junho, em Tumiritinga (MG), a ideia vai além do trabalho de recuperação das nascentes, promovendo mutirões comunitários para criação de Sistemas Agroflorestais – os SAFs –, que buscam fazer a integração da preservação da natureza com atividades de produção agrícola. Como explica Jamesson Alves Pereira, de 27 anos, um dos três coordenadores e idealizadores do Reviva Nascentes: “O projeto é muito bacana, pois mexe com a cabeça das pessoas, o modo como elas olham para a natureza, para a água e para as nascentes. É um processo muito transformador”.
Jamesson, assim como outros jovens que integram os vários projetos apoiados pela Renova e pelo Instituto Elos, acredita que o alcance e a dimensão das atividades têm a capacidade de serem maiores: “o ato de cercar uma nascente não vai ajudar só a comunidade, mas vai ajudar o mundo inteiro”, afirma o jovem. Ele ainda analisa outros benefícios obtidos com esse trabalho coletivo: “O projeto vai dando força para gente. Por meio dele as pessoas vão se unindo, conhecendo mais sobre o outro, acho isso bom demais”, diz ele, entusiasmado.
Tudo fica realmente mais fácil quando se entende que batalhar pelo bem comum é a melhor maneira de atingir uma vida plena e sustentável para si mesmo. (#Envolverde)

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