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sábado, 28 de janeiro de 2023

Dia Mundial da Educação Ambiental: 26/1, avançar é preciso

Por João Marcos Rainho para o Portal da Comunicação – Estamos longe do cenário ideal na conscientização de defesa do meio ambiente. Tudo começa com educação Dia 26 de janeiro é comemorado o Dia Mundial da Educação Ambiental. A data foi definida na Conferência de Estocolmo, realizada em 1975 pela Unesco, quando aconteceu um Encontro Internacional de Educação Ambiental em Belgrado. E o dia da efeméride foi adotado como uma forma de celebrar esse acontecimento. Rachel Carson Mas a movimentação internacional em prol do meio ambiente começou bem antes. Uma autora significativa nessa consciência é a norteamericana Rachel Louise Carson, que lançou o livro “Primavera Silenciosa” (Silent Spring), em outubro de 1962. Bióloga e escritora, foi responsável pela maior revolução ecológica dos Estados Unidos e do mundo. O titulo do livro, considerado o mais influente dos últimos 50 anos, em 1992, é uma referência ao silêncio dos pássaros mortos pela contaminação dos agrotóxico. Por ironia, ela morreu de câncer de mama na primavera de 1964, com 57 anos e, posteriormente, a causa foi relacionada com a exposição às substâncias químicas tóxicas. Em 2000, a Escola de Jornalismo de Nova York consagrou a obra como uma das maiores reportagens investigativas do século XX. E, seis anos depois, o jornal britânico The Guardian escolheu Rachel Carson para o primeiro lugar na lista das cem pessoas que mais contribuíram para a defesa do meio ambiente de todos os tempos. Para falar sobre a importância da educação ambienta, conversamos com dois premiados na categoria Sustentabilidade e Saneamento na 8ª edição do Prêmio Especialistas, que ocorreu em novembro —, uma escolha feita por jornalistas de todo o Brasil por meio de voto digital: Adalberto (Dal) Marcondes, da Agência Envolverde; Laís Duarte, da TV cultura; e Kátia Brasil, da Agência Amazônia Real. Dal Marcondes: Dal Marcondes Quais as perspectivas de melhorias na questão ambiental no Brasil? O Brasil começou o ano de 2023 em uma euforia de mudanças. O ministério anunciado pelo presidente Lula contemplou pautas estruturantes para questões como Meio Ambiente, Mudanças climáticas, Agroecologia, Povos Indígenas e muitos outros temas caros para militantes ambientais e de direitos humanos. A cerimônia da posse, dia 1º de janeiro, foi uma grande festa cívica como nunca se viu em Brasília. Os povos e temas abandonados pelo governo anterior subiram a rampa com Lula. Até as questões de direitos dos animais esteve presente, representado pela cachorrinha Resistência. Uma semana depois o caos se instala no mesmo espaço e uma onda de destruição tenta não apenas devastar o patrimônio público, conspurcar os poderes da República, mas também, ou talvez principalmente, apagar o sonho da mudança. Conseguiram assustar, mas não conseguirão parar a retomada de um processo civilizatório interrompido e, agora, colocado em movimento pela história. O Brasil é movido pela esperança e essa é uma força impossível de ser detida. O século 21 é o tempo da transformação e da compreensão de que é o tempo limite para mudar quase tudo na civilização. Por isso a educação ambiental, comemorada em 26 de janeiro, é fundamental para o fortalecimento da cidadania comprometida com o futuro. Educação ambiental não é tema apenas para crianças, não é apenas aprender a fazer artesanato com recicláveis ou entender como os materiais devem ser separados no descarte do que ainda chamamos de lixo. A educação ambiental do século 21 deve alcançar do ensino fundamental às universidades. Deve estar nas escolas de engenharia que transformarão os produtos de baixo impacto e zero carbono em padrão para as indústrias. Nas faculdades de medicina, que ensinarão como se alimentar e combater doenças a partir de vidas saudáveis. Nas escolas de jornalismo, que ensinarão que meio ambiente é tudo e não apenas páginas especiais em jornais dominicais. O que é possível para melhorar a consciência ambiental em termos de educação de crianças, jovens e adultos? A educação ambiental não pode ser um nicho da educação, precisa ser uma transversalidade universal. O Ministério da Educação tem um departamento de educação ambiental sempre relegado ao ostracismo. É preciso resgatá-lo e dar a ele o protagonismo necessário para universalizar a nova cultura da civilização deste século. Qual o papel da imprensa em geral e do Instituto Envolverde para despertar a questão da educação ambiental? O principal papel da imprensa é oferecer contexto. A mídia do século 21 está nascendo. Ela já enfrentou a barreira da digitalização, está atravessando os obstáculos do financiamento e precisa assumir seu protagonismo na construção de uma cultura civilizatória comprometida com o futuro. Jornalistas precisam estar atentos às transformações necessárias que que a civilização sobreviva a este século e não sejamos, como espécie lançado em um desses apocalipses hollywoodianos. Durante séculos o jornalismo cobriu a realidade com os olhos voltados para o retrovisor. A cobertura do que aconteceu foi o motor que criou a imprensa. Isso ainda tem um papel importante. O da criação de contexto e alinhavar a história. No entanto, jornalistas têm afora o importante papel de apontar para o futuro, entender as mudanças, buscar as inovações em todas as áreas do conhecimento e demonstrar como movimentos incipientes podem se transformar em tendência. Nas questões socioambientais essa visão de um futuro plural, civilizado e aberto a experimentações é fundamental para que a imprensa siga prestando Bons serviços à sociedade. Não se trata de prestidigitação ou adivinhação, mas de compreensão de realidades complexas e oferta de conhecimentos em linguagem de amplo alcance social. O futuro precisa da mídia. No entanto, a mídia precisa compreender seu papel civilizatório. Laís Duarte Laís Duarte Quais as perspectivas de melhorias na questão ambiental no Brasil? Vejo na eleição deste novo governo um grito desesperado dos brasileiros por respeito. Respeito à diversidade, respeito à história, respeito ao que resta de nossa biodiversidade, depois dos massacres que assolaram o país no governo Bolsonaro. Falo em massacres, no plural, porque foram vários. Há o massacre contra os povos indígenas, que perderam suas terras, que foram ameaçados e assassinados pelo garimpo ilegal, pelos rios contaminados. A situação de calamidade em que se encontra o povo Yanomami era uma tragédia anunciada. Há massacre contra os biomas, em desmatamento recorde. Só na Amazônia, de 2019 a 2022, o desmatamento aumentou quase 60% em relação aos quatro anos anteriores, segundo o Observatório do Clima. O Cerrado perdeu 472,8 mil hectares de mata nativa apenas no primeiro semestre de 2022, de acordo com o SAD- Cerrado. Há o massacre da covid-19, doença que afligiu o mundo, sim, mas que teve seus efeitos multiplicados pelo descaso do governo federal. Há pelo menos a sinalização desse governo, com Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente, a criação do ministério dos Povos Originários e da Autoridade Climática a intenção de colocar os país nos trilhos da consciência ambiental e do cumprimento das metas do Acordo de Paris. O que é possível para melhorar a consciência ambiental em termos de educação de crianças, jovens e adultos? Primeiro é preciso haver exemplo. Nas comunidades indígenas, sempre que é preciso fazer uma mudança, adotar um novo hábito, o cacique toma a dianteira porque acredita que tem que partir dele o exemplo. Cabe aos governos ditar o rumo das mudanças. A partir daí, é preciso haver uma mudança de vida de toda a sociedade. É necessário entender o que os povos tradicionais já falam há séculos e os cientistas comprovam: a natureza pode viver sem a humanidade, mas a humanidade não vive sem a natureza. A sobrevivência das futuras gerações já será impactada com o aumento da temperatura registrado hoje. Buscar informações confiáveis, novas formas de transporte e de consumo, colocar a sustentabilidade em cada uma de nossas escolhas são atitudes que se fazem urgentes. E cada uma de nossas ações tem reflexos no planeta. Qual o papel da imprensa em geral e de seu programa para despertar a questão da educação ambiental ? Cabe à imprensa o árduo papel que sempre foi dela: traduzir a linguagem técnica dos pesquisadores para que a comunicação se faça eficaz e que todos possam entender a gravidade da emergência climática já instalada. É preciso que a sustentabilidade esteja em pauta todos os dias, em todas as situações, porque ela influencia todos os aspectos de nossa sociedade. Está na economia, na política, nas safras da agricultura, no transporte, nas artes. Por que não citarmos a emissão de carbono (ou a neutralização dele) nos eventos esportivos, culturais, políticos em cada reportagem? Por que não mencionarmos a exploração do trabalho irregular, o desmatamento, e os bons exemplos de projetos de recuperação todos os dias em reportagens elucidativas? É uma mudança de hábito que vai acontecer obrigatoriamente a medida que a situação da crise climática se agravar. Kátia Brasil O que é possível para melhorar a consciência ambiental em termos de educação de crianças, jovens e adultos? Vou começar a responder por essa pergunta, porque julgo que é a mais importante. Em minha opinião, é muito importante que a educação ambiental entre no currículo escolar desde o ensino infantil. Porque, se a gente não tiver essa consciência de que qualquer impacto ambiental que você vai provocar na natureza, e aí falo das florestas, rios, lagos, montanhas, tanto a floresta tropical quanto a caatinga, cerrado, da Mata Atlântica, pois o Brasil tem vários ecossistemas. Então, é preciso falar dessa educação, ensinar desde cedo as crianças, a como utilizar o meio ambiente, os recursos naturais, sem destrui-lo. E essa educação tem que vir desde cedo, pois ela passa pela quantidade de água que a gente utiliza para tomar banho; o lixo que a gente não separa, o orgânico do que não pode ser reciclado; em nosso país nós não temos uma lei que faça com que o lixo chegue ao local de coleta já separado. Nós temos aterros sanitários, as chamadas lixeiras viciadas, com todo o tipo de lixo, que chega aos mananciais e polui as águas. Isso é histórico. É preciso que tudo isso entre no currículo escolar. Como também deveria entrar no currículo a nossa formação enquanto cultura, enquanto povo livre indígena, que desde o início do que chamamos hoje de invasão dos portugueses ao Brasil, pois os indígenas reconhecem que não foi uma descoberta, já existiam milhares de povos aqui. Então, é preciso recontar essa história dos povos indígenas, e também valorizar o meio ambiente através da educação. Existem escolas que fazem a semana da ciência, mas pouquíssimas escolas que fazem a semana do meio ambiente. E essa semana do meio ambiente não deveria ser comemorada em apenas uma data, deveria ser praticada todos os dias. em nossas casas, na escola, no trabalho. É preciso que haja uma grande mudança, uma conscientização em nosso pais para que a gente não chegue a esse ponto; estamos no ponto de não-retorno da destruição da Floresta Amazônica. Como já dizem alguns cientistas, está chegando ao ponto que a recuperação de alguns locais será muito difícil. A contaminação por mercúrio é tão grande que as pessoas estão morrendo. Quais as perspectivas de melhorias na questão ambiental no Brasil, principalmente na Amazônia? A Amazônia passou quatro anos sob ataque do governo anterior, do governo Bolsonaro. A gente não pode deixar de esquecer que isso está causando sérios problemas em diversas etnias. Nós estamos vendo agora o caso dos índios Yanomamis, onde está sendo denunciado uma conduta ilegal do governo anterior de não enviar medicamentos, alimentação não trabalhar a assistência à saúde indígena, que é primordial para as populações que são de recente contato. Os povos Yanomamis vivem naquela região do Amazonas, mas o contato deles não é tão antigo. Muitos deles ainda vivem de forma isolada, alguns que não foram nem contactados. É preciso que esse novo governo tome providências o mais rápido possível, retirando, por exemplo, essa centena de milhares de garimpeiros que estão abrindo crateras para tirar minérios. E isso não só na terra Yanomamis, mas em outras terras de outros povos indígenas. Mato Grosso também tem vários rios contaminados por mercúrio. E também com várias mudanças nos cursos dos rios. A gente tem que descobrir quem financia isso, apresentar os responsáveis por esses crimes ambientais que são gravíssimos. Nós estamos vendo esse colapso com os Yanomamis, mas pode estar ocorrendo com outras etnias. A sociedade brasileira precisa se perguntar por que e como o ouro é vendido em lojas. O ouro que sai ilegalmente das terras indígenas chegam às lojas e as pessoas, os clients precisam questionar essa procedência. Um anel de casamento pode ser uma aliança com sangue indígena. Precisamos ficar alertas contra esse genocídio que está acontecendo. Morrer mais de 500 crianças em quatro anos, por desnutrição e uma série de doenças, que poderiam ter sido evitadas. Como jornalistas denunciamos isso várias vezes e não vimos nenhuma investigação de fato. Qual o papel da imprensa em geral e da Amazonia Real, em particular, para despertar a questão da educação ambiental? O papel da imprensa é muito importante. Porque a imprensa é o agente da comunicação responsável por relatar os casos e os locais onde estão acontecendo essas violações de direitos, além dos crimes ambientais. Quando você promove um crime ambiental você também está promovendo uma violação de direitos. Essa pessoa que vive em terras indígenas e depende das águas dos rios para beber, vai encontrar essa água contaminada e os peixes mortos. Impacta sua principal alimentação. Na floresta não tem geladeira. As florestas tem as plantações que eles fazem, as árvores que ele coletam frutas e o peixe que é a principal base da alimentação. Se os peixes morrem, ou estão contaminados por mercúrio, todas as pessoas dessas comunidades serão atingidas. Por isso é importante que a imprensa acompanhe, não só nos momentos de crise, nos momentos das grandes manchetes, mas que acompanhe sempre. Na Amazônia Real temos esse expertise de acompanhar casos que estão na Justiça há mais de 10 anos aguardando uma solução. Sobre poluição de rios, de contaminação de rios e terras indígenas, violência contra os povos, inclusive assassinatos. Temos aí o caso da morte do jornalista Dom Philips e do indigenista Bruno Pereira, que a Amazônia Real vem dizendo desde o primeiro momento que foi uma emboscada, um crime premeditado. Um crime de mando. E um motivo torpe, porque alguém ficou contrariado com as denúncias que o Bruno fazia, que eram justamente a respeito dos crimes ambientais. Comerciantes e pescadores ilegais invadem terras indígenas e pescam toneladas de peixes. Um crime contra o Estado brasileiro. Porque a terra indígena ainda é da união. E demorou muito para a Polícia Federal apresentar o mandante desse crime. Se a imprensa não cobrar, não ficar em cima, se não perguntar, não provocar, não estaria fazendo o papel dela. Na Amazônia Real nós temos um lado. O lado da vida, dos indígenas, dos Direitos Humanos. (Portal da Comunicação/#Envolverde)

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